Trabalho e Formacao

Mudanças a caminho

postado em 15/12/2019 04:07
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Apesar dos índices desfavoráveis, pouco a pouco, as organizações caminham em direção à inclusão e à acessibilidade. ;É possível afirmar que houve uma evolução no reconhecimento dos profissionais com deficiência, bem como abertura para que eles pudessem ocupar as diversas esferas do mercado de trabalho;, analisa a gerente sênior da Catho Tábitha Laurino. Dados levantados pela empresa entre 2018 e 2019 apontam crescimento de 27% nas vagas para pessoas com deficiência, principalmente nas áreas administrativa, financeira, comercial, industrial e de informática. ;Apesar desse crescimento recente, uma questão é certa: mais profissionais precisam ser inseridos no mercado de trabalho;, afirma.

;É importante frisar que, nos últimos 20 anos, observamos um avanço nas discussões sobre minorias de modo geral, que se manteve em pautas cada vez mais consistentes. Essa mudança se refletiu diretamente na criação da lei que criou cotas para deficientes;, explica a gerente sênior da Catho. A legislação é de 1991 e, de lá para cá, avanços acontecerão, mas ainda não garantem a inclusão plena. Porém, há perspectivas de melhora, como aponta a professora da FGV Anna Cherubina. ;Hoje, as empresas têm um olhar mais voltado para a inclusão de uma maneira geral. Isso é muito importante até para a imagem delas.;
Entenda
A Lei n; 8.213/1991 estabelece que empresas com número de empregos a partir de 100 precisa ter em seu quadro de 2% a 5% de funcionários com deficiência na seguinte proporção:
- Até 200 empregados: 2%
- De 201 a 500 empregados: 3%
- De 501 a 1.000 empregados: 4%
- De 1.001 empregados em diante: 5%

Como promover a acessibilidade
Tornar o ambiente empresarial acessível para pessoas com deficiência se tornou uma necessidade e até obrigação. Para isso, é importante pensar tanto na infraestrutura do local de trabalho quanto no acolhimento desses profissionais junto à equipe. ;Algumas empresas têm programas de inclusão muito bons, mas, na questão da infraestrutura, ainda não estão preparadas, não têm todos os instrumentos necessários;, analisa a professora da FGV Anna Cherubina.

;De nada adianta, também, a organização ter toda uma infraestrutura voltada para inclusão se os membros da equipe não forem culturalmente preparados para receber essas pessoas.; Anna explica que a inclusão precisa fazer parte da cultura de cada empresa. Thábita Laurino, da Catho, sugere que as organizações contratem consultorias especializadas em auxiliar no processo e criem grupos de discussão, onde o profissional com deficiência tenha espaço para dar voz às suas dores e conquistas. ;Outro ponto muito importante que vale ser destacado é a participação de liderança nesse processo;, afirma.
;A gerência deve atuar tanto na parte de recrutamento e seleção quanto na manutenção desse profissional no ambiente de trabalho e na integração com os demais funcionários da equipe.; Para Mara Lígia Kiefer, da consultoria Social IN, é fundamental promover o debate sobre inclusão constantemente. ;Não adianta falar sobre acessibilidade só no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. É preciso discutir o assunto o tempo inteiro e trabalhar com exemplos;, opina. ;Hoje nós temos exemplos incríveis de pessoas com deficiências severas que estão no mercado de trabalho, que se desafiaram e se desenvolveram.;
Eu vivencio a acessibilidade
Conheça histórias de trabalhadores que conquistaram seu espaço e contam com infraestrutura e equipe adaptadas
;Eu sempre me senti muito igual;
Ekaterini Sofoulis, 43, trabalha no Tribunal Superior do Trabalho (TST) desde os 21 anos. A servidora, que perdeu o movimento das pernas por causa de um acidente automobilístico aos 11 meses de idade, conta que sempre foi bem acolhida no serviço. ;Nunca senti diferenciação em virtude da minha deficiência. Na realidade, tive oportunidade de mostrar minha competência e ocupar inclusive gratificações gerenciais, assim como até hoje eu exerço;, relata. ;Eu sempre me senti muito igual, nunca percebi barreiras ou entraves ao meu desenvolvimento e ascensão profissional aqui;, acrescenta.
Animada e extrovertida, como ela mesma se define, Ekaterini sempre tenta trazer leveza e alegria ao ambiente de trabalho. ;Modéstia à parte, acho que isso contribui para a abertura que eu tenho com os colegas e a equipe.; A servidora, que é formada em psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) e atua na área de gestão de pessoas, lembra que demorou para se graduar pela falta de acessibilidade no câmpus na época em que estudava.

;Eu sofri muito. Era muito difícil o deslocamento de um lugar para o outro. Eu contava com a boa vontade dos professores, que tentavam dar aulas em salas próximas, mas, no geral, era bem complicado;, relata. Já no TST, Ekaterini não enfrenta dificuldades de acessibilidade. De acordo com ela, no princípio, o prédio não tinha infraestrutura adequada para trabalhadores com deficiência.

Hoje, entretanto, o tribunal conta com sinalização sonora e em braile na parte interna dos elevadores, software de leitura de tela para cegos, sanitários adaptados, coletores de pontos rebaixados para cadeirantes, entre outras estruturas de assistência que foram implementadas entre 2018 e 2019. Dos 2.503 servidores que atuam no Tribunal Superior do Trabalho, 60 têm alguma deficiência ou limitação. A instituição tem um núcleo e uma comissão de acessibilidade que oferecem apoio a esses servidores.
;Aqui sou acolhido;
A rotina de Jefferson Luis Nunes da Silva, 35, no Hospital Brigadeiro, em São Paulo, é ;corrida;, mas ele conta que gosta do ofício. Com diagnóstico de paralisia cerebral, o paulistano trabalha no estabelecimento há três anos e meio fazendo entregas entre os departamentos. Antes, trabalhou como office-boy e auxiliar administrativo durante cinco anos na Associação de Pais Banespianos de Excepcionais (Apabex), foi auxiliar de rouparia e de almoxarifado por quatro anos no Hospital Metropolitano da Lapa e atuou como auxiliar de escritório por quatro anos em uma empresa de engenharia.

Jefferson não teve dificuldade para conseguir oportunidades de trabalho graças ao programa Emprego Apoiado da associação sem fins lucrativos Apabex. ;Eu frequentei escolas regulares, mas não conseguia aprender direito. Na Apabex, eu tive uma professora muito paciente; assim, aprendi a ler e a escrever;, relembra. ;A associação também fez um acompanhamento para eu conquistar minha autonomia. Eu aprendi, por exemplo, a utilizar o transporte coletivo para ir e voltar do trabalho.;
Na opinião do paulistano, o Hospital Brigadeiro é exemplo de inclusão e acessibilidade. ;Aqui há muitas pessoas com deficiência trabalhando e todas são bem acolhidas. Eu tenho muitos amigos e todos me conhecem;, conta. No entanto, ele reconhece que, em geral, as organizações ainda têm muito o que melhorar nesse sentido. ;Ainda falta apoio e acessibilidade. As empresas precisam se abrir para receber as pessoas com deficiência.;
Conheça a iniciativa
O emprego apoiado é uma metodologia que visa à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, por
meio do acompanhamento constante na relação empregado-empregador, sensibilização dos profissionais da empresa contratante, assistência durante o treinamento inicial e no dia a dia.

;Quando uma pessoa com deficiência chega à Apabex, nós buscamos conhecê-la bem e, depois, desenvolver um trabalho em parceria com a família para que ela consiga a inclusão no mercado;, explica Maria Fernanda Prezia, coordenadora do programa Emprego Apoiado. ;Nós acreditamos que qualquer pessoa que precisa de apoio, tendo o suporte de que necessita, consegue entrar e se manter no mercado.;
Palavra de especialista
Falta infraestrutura

;O mercado de trabalho vem recebendo, a cada dia, mais pessoas com deficiência. Porém a infraestrutura ainda é incipiente, ainda não é boa. Para se ter uma ideia, eu estou no TST há 19 anos. Só agora, de 2018 para 2019, nós conseguimos implantar um projeto de sinalização conveniente para dar um ambiente de livre circulação tanto para nossos servidores quanto para os nossos visitantes com deficiência.

Nós recebíamos aqui pessoas com deficiências físicas diversas e não tínhamos estrutura suficiente ou pelo menos de qualidade para recebê-las. Pessoas com deficiência visual ficavam aqui tateando. Nós acabamos de implantar um projeto de acessibilidade, com piso tátil e braile nas salas e elevadores.

Isso faz parte de uma cultura que o mercado precisa oferecer. As empresas precisam oferecer mobilidade e precisam que seus agentes, sejam os gestores sejam os funcionários, conheçam as pessoas com deficiência que trabalham na organização para que todos possam contribuir com a inclusão e garantir um ambiente de trabalho seguro, saudável e solidário.;

Ministro Brito Pereira, presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)

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