Trabalho e Formacao

Ano-novo, emprego novo

Para 92% dos brasileiros, conseguir um trabalho está entre as metas para 2020. Isso vale tanto para desempregados quanto para quem deseja trocar de empresa. Especialistas dão o passo a passo para conseguir sua chance

Correio Braziliense
postado em 12/01/2020 04:08
Bianca tem enviado currículos todos os dias para diversas empresas

Conquistar uma vaga de emprego está no topo da lista de desejos para 2020 entre os desempregados e os insatisfeitos com o trabalho atual. É o que evidencia pesquisa feita pela Catho, plataforma de recrutamento on-line. No total, 92% dos brasileiros entrevistados afirmaram desejar conseguir uma vaga. O levantamento ainda identificou que, para a maioria das pessoas, o trabalho é fundamental para alcançar objetivos e cumprir as promessas de ano-novo. Ou seja, sem um ofício, nada se concretiza.


O desemprego está caindo, porém, ainda é alto. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em dezembro do ano passado, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 11,9 milhões de pessoas à procura de uma oportunidade no mercado. No Distrito Federal, de acordo com o último boletim da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (PED/Codeplan), o contingente de desempregados é de 313 mil.


Um número que revela queda. O percentual caiu de 43,1% para 42,3% entre os brasilienses de 16 a 24 anos entre agosto de 2018 e agosto de 2019. Na faixa etária de 25 a 39 anos, a quantidade de desempregados passou de 15,6% para 15,2%. Por fim, entre candidatos de 40 a 49 anos, houve crescimento de 10,4% para 11,5%. Bianca de Jesus Fornari, 19 anos, moradora da Ceilândia, faz parte do grupo com maior grau de desemprego no DF: os jovens.


Desde que concluiu o ensino médio, em 2017, ela busca encontrar um emprego. No entanto, só se deparou com “nãos” ao longo do caminho. “Minha única experiência com carteira assinada foi no cargo de jovem aprendiz, enquanto estava na escola. Acredito que a falta de experiência seja o motivo de eu não ser chamada”, conta. “Tem dias que envio uns 20 currículos para lugares diferentes. Chega a ser desanimador.”


A impressão de Bianca não é equivocada: quem está em busca do primeiro emprego integra o grupo com mais dificuldade de colocação profissional. E, para piorar, os jovens também são a parcela da população com maior chance de ser demitida. A conclusão é de Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do ano passado. Nos últimos anos, o contexto tem sido desanimador, com altos números de desemprego e inflação.


A pergunta que Bianca e todos que se encontram nessa situação fazem é: afinal, como, em meio a este cenário, conseguir uma vaga de emprego? A resposta não é tão simples, pois mesmo bons profissionais têm acabado sem trabalho. Um bom começo é saber o panorama para 2020 nesse campo. Jusçanio Umbelino de Souza, gerente de Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan, explica que o país viveu um período de crise em todas as unidades da Federação que atingiu o mercado de trabalho, ocasionando o aumento do desemprego.


No entanto, essa conjuntura tem dado sinais positivos de mudança. “O resultado ainda não é satisfatório, mas o quadro econômico ano passado deu uma melhorada”, diz. Ele prossegue, ressaltando que o ambiente está favorável em razão da diminuição da taxa de juros, da liberação do Fundo de Garantia de Tempo e Serviço (FGTS), da alta na venda de imóveis e da retomada da construção civil.

 

Otimismo

“A gente espera um cenário que nos permita inferir uma perspectiva positiva de geração de trabalho em comparação com o ano passado”, aponta Jusçanio. Para o Distrito Federal, em virtude desse contexto, Jusçanio revela quais serão as áreas que devem apresentar mais oportunidades. “Nesse ambiente de melhoria, alguns setores estarão mais visíveis, como construção civil, saúde, educação e comércio”, elenca. No entanto, ele alerta que “a abertura se dará de forma gradual, respondendo à medida que a economia cresce”.


Ou seja, não espere um “boom” de vagas, mas saiba que a economia está melhorando, mesmo que a passos lentos. Tudo isso afeta o otimismo também dos patrões, que podem passar a abrir mais cargos. Indo de encontro do que disse Jusçanio, a 10ª edição do Índice de Confiança da Robert Half (ICRH) revela que, na média, tanto os recrutadores quanto os profissionais empregados e desempregados permanecem otimistas quanto aos rumos do mercado de trabalho.


Lucas Nogueira, diretor de Recrutamento da empresa, expõe que os candidatos mais qualificados estão propensos a conseguirem um novo emprego de maneira mais rápida este ano. “O desemprego para os profissionais de até 25 anos com graduação em ensino superior fica próximo dos 6%, enquanto para o público geral é de 11%. A expectativa é bastante favorável em função do crescimento do último trimestre de 2019”, acredita.

 

De volta ao trabalho

Peter Alexander da Costa Lange, 41 anos, está desempregado desde março de 2019. Formado em direito desde 2002, pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), ele atuou em escritórios de advocacia e também no setor público. Em 2006, foi aprovado no concurso da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), porém decidiu voltar para a iniciativa privada por ter recebido uma proposta melhor. No ano passado, ele decidiu deixar o trabalho para cuidar de outras áreas da vida.


“Preferi ficar seis meses sem trabalhar para reorganizar a minha vida, pois tinha muita coisa que eu estava deixando para trás, incluindo projetos sociais. Durante esse período, recebi algumas propostas que não me interessavam na época.” Após esse semestre sabático, Peter decidiu procurar um novo emprego. Para auxiliar nessa busca, que já dura cinco meses, conta com a ajuda de assessorias especializadas em virtude do perfil profissional e da idade, pois não quer qualquer vaga.
“Prefiro direcionar a minha procura porque sou um profissional bem qualificado, com bastante experiência. Por isso, a necessidade de ter este apoio”, conta. Além do suporte dessas empresas, Peter tem um perfil no Linkedln, rede social profissional. A experiência na plataforma, conta ele, tem sido positiva. “Já fui chamado para dar palestras em algumas empresas por meio dele. Então, tem me dado retorno, independentemente de uma carteira assinada”, explica.


Ele está com boas expectativas para conseguir se realocar este ano, pois acredita que a situação política e econômica do país não interfira nessa conquista. “Como tenho um perfil muito específico, creio que o cenário atual de crise não me afeta. E, geralmente, as pesquisas mostram que profissionais bem qualificados demoram em torno de seis meses a um ano para conseguir uma vaga”, afirma.

 

A importância do networking

Com a busca por emprego cada vez mais difícil, o networking se torna cada vez mais importante. A rede de contatos e o famoso “QI” (quem indica) ainda têm um peso enorme para conseguir trabalho. Sabrina Maria Viegas de Sousa, 40 anos, é exemplo disso. Assim como Peter, ela decidiu “dar um tempo” depois de trabalhar por mais de 16 anos numa empresa, para descansar.


Formada em administração pelo Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), conseguiu recentemente uma nova oportunidade por intermédio de uma indicação. “Trabalhei como estagiária em 2001, na Insight. Por ter tido essa passagem na empresa, eles me indicaram para um cargo no Conselho Federal de Odontologia (CFO). Participei do processo seletivo e fui chamada”, comemora.


Ela acredita que a experiência e a disposição de aprender algo novo foram os motivos de ter sido contratada. Para quem está em busca de emprego, Sabrina recomenda ir atrás de todos os caminhos possíveis para achar trabalho, inclusive acionar contatos do passado. No entanto, não se deve parar por aí. “Busque conhecer sobre a empresa, verificar o tipo de profissional que trabalha, ter disposição para procurar, correr atrás e não ficar apenas esperando.”

*Estagiário sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa 

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