Correio Braziliense
postado em 26/01/2020 16:57
Antes de fazer uma compra, você costuma comparar preços na internet? Se a resposta for sim, saiba que você não está sozinho. Aproximadamente sete em cada 10 brasileiros (68%) realizam pesquisas on-line antes de adquirir produtos em lojas físicas. Além disso, 74% preferem comprar pela internet. Os dados são do levantamento Connected Life. A digitalização toma conta de quase todas as áreas da vida. Por isso, nada mais natural que cada vez mais empresas invistam em estar presentes na internet.
As redes sociais são um meio econômico e acessível para ter presença virtual e engajar o público. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Brasil, mais de 70% dos pequenos negócios usam essas plataformas como ferramenta de gestão. Contudo, com tantas marcas nas redes, não basta apenas estar presente: é preciso saber administrar os perfis para ter bons resultados.
Ou seja, não adianta apenas sair postando no Instagram, no Facebook ou no Twitter sem conhecimento ou planejamento. A imagem que uma companhia passa para os usuários nesses canais pode tanto beneficiar quanto prejudicar a marca. Com a internet, conteúdos têm mais chances de viralizar. Por isso, todo cuidado é pouco. Afinal, um deslize pode tomar uma proporção enorme se cair na crítica dos internautas e acabar se tornando um meme ou fazer a instituição ser alvo de comentários negativos.
Administrando por conta própria
Para ter melhores resultados e evitar riscos, algumas empresas contratam agências de marketing para administrar os conteúdos digitais. No entanto, essa não é uma opção barata e também tem desvantagens. Entre elas, está a chance de os conteúdos postados serem muito frios e até não terem tanto a ver com os objetivos da firma. “Não adianta colocar uma agência para controlar as contas de modo a fugir dessa tarefa e perder a personalidade”, conclui Bruna Vasconi, 39 anos, fundadora e CEO do Brechó Peça Rara.
Formada em psicologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB), ela decidiu cuidar da imagem da empresa dela nas redes sociais por conta própria. Como proprietária da loja, Bruna tem muitos afazeres, incluindo cuidar das vendas, atender fornecedores, administrar a logística do negócio. Contratar uma agência para gerir as redes sociais facilitaria a vida dela, mas a CEO não é adepta da ideia. Ela própria cria os posts e desenvolve histórias para se aproximar das clientes. Como as agências têm mais de uma conta para cuidar, ela teme que profissionais de marketing poderiam destruir o vínculo que ela desenvolveu com os usuários.
A estratégia, conta Bruna, tem dado certo. Mais de 94 mil seguidores no Instagram e 21 mil no Facebook. Muitos comentários e curtidas. Esses são apenas alguns dos resultados. As redes sociais do Brechó Peça Rara servem para atrair clientes, que acompanham os posts e, quando gostam das roupas que foram fotografadas e postadas, fazem fila nos pontos de venda. O bazar tem cinco lojas em Brasília e vende artigos infantis, masculinos, femininos e domésticos. A primeira unidade surgiu na 307 Sul, em 2007.
Desde então, a marca cresceu e, recentemente, se tornou uma franquia. A rede social mais engajada é o Instagram, que conta com posts diários, como stories e na linha do tempo. Bruna sempre foi adepta de inovações. Em 2012, uma cliente e fornecedora do brechó disse que usar as redes sociais para postar o que a loja vendia poderia ser uma oportunidade. Por isso, ela ajudou Bruna a criar conta no Facebook e no Instagram.
Seria um período de teste. Dificuldades logo apareceram. A primeira foi o tipo de produto da loja. A empresa vende artigos únicos. Quando publicam no Instagram ou Facebook, só uma pessoa vai conseguir comprar, mesmo que muitas gostem do produto. Com o tempo, Bruna assumiu a frente das páginas e passou a postar com mais periodicidade.
Começou a pesquisar perfis em que ela poderia se inspirar. Como leiga no assunto, visitou páginas e perfis para entender o que chama de mecanismo. Basicamente, ela queria descobrir: “O que as pessoas curtem? Por que elas curtem? O que comentam? Como funciona?”. Após pesquisas, a CEO concluiu que vários fatores haviam prejudicado as redes sociais do brechó. A linguagem, por exemplo, não era bem direcionada para o público da loja, e os posts não tinham uma personalidade bem definida, além da baixa frequência nas publicações, o que diminuía o engajamento.
Sem nenhum curso nessa área, Bruna fez promoções por meio de postagens e treinou as vendedoras para indicarem os perfis da loja pessoalmente para as clientes. Foi um ano de conquistar possíveis compradores no universo on-line. “Batalhamos muito pelos seguidores”, conta. Com seis meses intensos de campanhas virtuais e presenciais, os resultados começaram a aparecer. As vendas subiram e os posts não pararam. Segundo a empresária, cada rede social tem um público e um padrão de resposta diferente.
Ela acredita que o Instagram do Peça Rara tem retorno imediato, ao contrário do Facebook. “No Instagram, as pessoas olham a foto e já vão à loja. No Face, não. Por isso, não fazemos tantos posts como no Insta”, diz. Contudo, quer investir mais na página do Facebook para ter retorno melhor. Atualmente a conta do Instagram conta com a ajuda de Fabrícia Raposa, formada em marketing pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Ela cursou mestrado em marketing na área de moda em Paris e presta consultoria no brechó.
Estratégias certeiras para se inspirar
Além de organizar as araras de roupas no Peça Rara, Fabrícia também faz fotos e vídeos. Apesar de ajudar Bruna desde 2015, só teve liberdade para postar sem supervisão da CEO neste ano. “Sou muito exigente. Agora, eventualmente intervenho em algo que a Fá posta”, brinca a proprietária. Quando foi criar a franquia, Bruna ficou preocupada com as redes sociais. Ela não sabia se criava uma conta para cada uma ou se centralizava tudo em um único perfil. No momento, optou pela segunda opção. Contudo, ela está desenvolvendo conteúdo para fornecer aos franqueados para que cada brechó possa ter um Instagram.
“Daremos treinamentos presenciais, nas lojas, que serão agendados periodicamente e acompanharemos o que será publicado.” A proprietária acredita que, com franquias, as redes sociais serão mais úteis do que nunca, pois vão auxiliar nas vendas das novas lojas: “São um meio de divulgação para outros lugares, porque não tem limite geográfico. Então, as pessoas de outros locais vão poder acessar e ver o que temos disponível”.
Bruna e Fabrícia concordam que deixar explícita a personalidade da marca nos posts é essencial. Ademais, Bruna destaca a importância de não criar as redes sociais visando apenas às vendas e ao dinheiro. “No início, o que a gente quis foi construir um vínculo, e não vender a qualquer custo”, conta. A proprietária também acredita que post institucional com arte traz pouca adesão, ao contrário de fotos de produtos. Além disso, colocar-se no lugar do público é outra dica de Bruna. “Tem que pensar se as pessoas vão se identificar com o conteúdo.”
Palavra de especialista
Ferramentas de divulgação e fidelização
“Hoje, as organizações já entendem que é o cliente a peça fundamental para o negócio e que estar perto, ouvi-lo, conduzi-lo e entendê-lo são o segredo do sucesso. As grandes empresas também já entenderam a importância de ser uma marca multicanal e utilizam esses meios, não necessariamente para vender, mas para comunicar detalhes de um produto ou serviço, a rotina da empresa, a opinião dos CEOs e até conquistas. Se hoje os clientes buscam marcas mais completas, humanizadas, com um propósito claro, que realmente sirvam para trazer soluções, as redes sociais se tornam fundamentais para comunicar isso, principalmente para as pequenas e médias empresas. Com as barreiras da distância e do tempo quebradas, as redes sociais se tornaram ferramentas que vão além do entretenimento e que são fundamentais para que a mensagem chegue diretamente para um público em específico, com a rapidez e a qualidade merecidas. Elas também garantem um marketing mais efetivo, rápido e econômico, o que melhora o contato com o cliente, a visibilidade e, a médio e longo prazo, até a margem de lucro, a consolidação de uma empresa no mercado e o nível de fidelização de clientes.”
Michel Ank, CEO e fundador do Bume, plataforma de gestão de redes sociais. Formado em istemas de informação, com MBA em gerenciamento de projetos, além de imersão de empreendedorismo na Babson College
Instagram para se posicionar
O desejo de posicionamento digital motivou os responsáveis pelo clube de benefícios Vivan a criar uma conta de Instagram. Trata-se de um produto novo, criado em 2019, quando o time ainda estava descobrindo a jornada dentro do marketing e do mercado de atuação. O Vivan trabalha com vantagens, descontos e benefícios em estabelecimentos comerciais. “Nosso Instagram serviu para nos posicionar e mostrar que a gente existia. Posteriormente, decidiríamos se seria para captação ou não de clientes”, afirma Pedro Lemos, 32 anos, CEO do Vivan.
Quando o aplicativo do clube de benefícios, desenvolvido pela empresa de tecnologia Happe, ficou pronto, os integrantes não sabiam se seria melhor contratar uma agência de marketing digital ou uma pessoa para trabalhar dentro do Vivan. Por isso, pesquisaram e fizeram orçamentos. No meio da jornada, perceberam que fazia mais sentido trazer alguém para dentro da firma. “Esse profissional nos ajudaria a produzir conteúdo, definindo melhor qual é nosso público e entrevistando consumidores para entender como eles interagem com a marca”, observa Pedro.
Então, contrataram uma estagiária que os ajudou a estruturar uma estratégia de marketing e criaram uma conta no Instagram. Além de ser mais barato do que uma empresa especializada na área, a estagiária se dedicou exclusivamente à conta do Vivan, o que segundo o CEO foi fundamental. Hoje, Pedro não faria diferente. O CEO só contrataria uma agência se fosse para tê-la como sócia, pois ele acredita que, se o Vivan fosse apenas mais um cliente dentro de uma empresa, ele não seria prioridade. “Como em uma startup tudo acontece muito rápido, se a agência não faz parte do processo, a startup perde a capacidade de velocidade na tomada de decisão.”
Além disso, Pedro nota que a opção por contratar uma empresa especializada traz muito gasto. O Vivan é uma startup, e, como tal, está em constante estado de transformação. A estratégia digital teria que ser alterada logo, e a gestão virtual ficaria mais engessada se terceirizada. “Por isso, é legal começar com um estagiário ou com pessoal de empresa júnior. Eles vão construindo e adaptando à medida em que a gente precisa. Depois, se a firma crescer e estiver com bom faturamento, talvez seja a hora de ir para a mão de uma agência.”
Com a estagiária de marketing no time, os integrantes da equipe do clube de benefícios começaram a fazer testes. “Observamos o que a concorrência fazia. Então, colocamos nosso conteúdo e começamos a divulgar. À medida que tínhamos interação do usuário, a gente adaptava”, relembra. Eles não traçaram metas de seguidores ou curtidas, queriam apenas posicionamento. E os resultados apareceram. “Conseguimos alguns clientes por meio da rede, mas não foi nosso foco. Não fizemos nenhum impulsionamento (quando se paga para fazer o post chegar a mais pessoas).”
Pedro destaca a necessidade de tomar decisões rapidamente. O Vivan, por exemplo, começou com o objetivo de vender para pessoas físicas; então, as redes sociais seriam um ótimo caminho para chegar até elas. Ao longo do percurso, ele percebeu que seria melhor ter como cliente pessoas jurídicas, como academias ou clubes, que poderiam ofertar o cartão de benefício para os usuários. Assim, a estrutura de negociação e das redes sociais foi modificada.
Formado em direito pelo Centro Universitário Iesb e pós-graduado em gestão empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro explica que, embora a atual meta do Vivan não seja de marketing, isso não significa que as redes sociais ficarão inativas. “A partir deste mês, vamos ter, pelo menos, uma postagem semanal, porque o cliente que entrar por meio da empresa parceira vai buscar dado sobre o Vivan nos nossos canais”, diz.
O CEO pontua que a maior parte das pessoas acessam informações via omnichannel — união de vários canais para facilitar operações do usuário. “Por isso, redes sociais são um ponto importante que você tem que deixar nutrido com postagens. Os clientes podem consumir informações por ali também, não só pelo aplicativo da marca”, destaca. Atualmente, o Instagram do clube serve para mostrar o diferencial do Vivan e quais as vantagens de fazer parte da comunidade. “Não é uma ferramenta de atração, para conseguir assinantes. Queremos passar credibilidade”, esclarece Pedro.
E se eu optar por terceirizar?
Quem deseja ter seu negócio nas redes sociais também tem a opção de contratar uma agência de marketing ou publicidade para fazer esse serviço. “Hoje, a concorrência é cada vez mais desleal. Existem vários canais de vendas e formas de se comunicar com o cliente. Por isso, sai na frente quem faz um bom plano de marketing”, afirma Bruno Homero, 33, formado em propaganda e marketing pela Universidade Paulista (Unip). Ele trabalha nessa área há 15 anos. Foi responsável pelas redes sociais de empresas como Vivo e Fujioka, onde contratava agências para administrar contas on-line, mas sempre se decepcionava.
“Muitas não tinham estratégia por trás. Começavam com um bom resultado e, no meio do contrato, o serviço mudava.” Em 2014, Bruno começou sua trajetória como empreendedor e se tornou sócio dos restaurantes Bio Smart Food e Frango no Pote. Ano passado, recebeu convite para uma sociedade em sua área de formação. Aceitou. Hoje, é CEO e sócio da agência de marketing Kaluma (KLM), onde faz campanhas on-line e off-line. “Os clientes escolhem mais on-line. O investimento é menor, mais assertivo e fácil de mensurar”, relata.
Para solucionar problemas citados pelos CEOs do Brechó Peça Rara e do Vivan, Bruno acredita que é necessário contar com um analista, assistente ou gerente de marketing que entenda as necessidades da empresa e faça um planejamento estratégico para repassar à agência. “Quando não contratam esse profissional, que seria a ponte, é difícil para a agência, porque cuidamos de outros clientes e não tem como investir a fundo no negócio da contratante”, explica. A Kaluma tem aproximadamente 30 clientes e oito funcionários, contando com Bruno.
Segundo ele, as empresas que contratam essa figura têm um resultado mais efetivo. “A Bio Smat Food, por exemplo, tem um responsável por essa área que chega com o plano ou uma estratégia desenhada e a gente operacionaliza.” O CEO afirma que o alinhamento entre a agência e o cliente é de extrema importância. “Sempre fazemos reuniões e só executamos algo com a aprovação deles”, diz. Bruno conta que agências como a KLM existem para resolver “dores” de empresas por meio do marketing.
“Para dar visibilidade, aumentar a venda e ajudar no posicionamento”, explica. Por isso, na primeira reunião com o cliente, eles fazem um diagnóstico gratuito e propõem soluções de acordo com os objetivos da empresa. Entre os serviços que eles dispõem estão: produção fotográfica, vídeo, redes sociais, tráfego em links patrocinados no Google e Facebook, website, plano de mídia, branding e parte off-line.
Sobe e desce
Procurar referências (seja positivas, seja negativas) é um bom caminho para acertar na hora de administrar os canais do seu negócio. Veja cinco exemplos para se inspirar e cinco casos de erro para você não cometer:
5 casos de marcas que souberam usar bem as redes sociais:
Mangai
Exemplo de ação presencial que vai para o on-line. A rede de restaurantes Mangai pediu para os clientes compartilharem histórias vividas nos ambientes da empresa. Após uma seleção, escolheram duas pessoas e gravaram um vídeo para as redes sociais. A marca conseguiu valorizar os clientes e se aproximar deles.
Vult
A marca de maquiagens Vult tem diversas ações para promover interação com usuários. Uma delas é repostar publicações de quem marcou empresa.
Doritos
Patrocinador do Lollapalooza Brasil, Doritos sorteou três ingressos para o evento por meio das redes sociais. Ações como essa geram reconhecimento de marca.
Netflix
A empresa ficou famosa por suas respostas bem-humoradas no Twitter. Divertidos, os tweets viram memes e viralizam nas redes sociais.
5 casos de marcas que se deram mal nas redes sociais:
Maria Filó 1
Nada escapa das redes sociais! O dono da marca Maria Filó fez piadinha com uma funcionária grávida durante visita à loja. Ele teria dito que em breve mandaria todas as mulheres embora e contrataria “somente gays porque eles não engravidam”. A internet não perdoou, o que fez a marca perder clientes e, por fim, publicar uma nota se explicando
Maria Filó 2
Outra vez a marca viralizou negativamente. Tâmara Isaac entrou na loja e notou que a estampa de uma roupa era racista, pois continha o desenho de uma escrava segurando o filho de uma mulher branca, sentada. A consumidora ficou indignada e postou no Facebook. Mais de 15 mil pessoas reagiram ao post e 1.500 compartilharam.
TRESemmé
A publicidade da linha de produtos “Selagem Capilar”, da TRESemme causou polêmicas por causa do slogan e da modelo. A frase era “Meu cabelo liso ressalta o melhor de mim. Por isso, gosto dele forte” e a foto era de uma mulher negra com cabelo liso. Consumidores consideraram a campanha preconceituosa e fizeram duras críticas.
Vogue
A marca fez uma campanha para divulgação das Paralimpíadas com os atores Cléo Pires e Paulinho Vilhena imitando pessoas com deficiência em vez de exibir atletas paraolímpicos.
A foto, editada, repercutiu negativamente nas redes sociais.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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