Correio Braziliense
postado em 09/02/2020 04:08
O universo do trabalho mudou. Se há 15 anos todo mundo tinha que ter no currículo um curso de digitação, hoje, isso passou faz tempo. Não porque você não precise saber como teclar no computador, mas é que a habilidade é obrigatória para muitas atividades. Não é algo que se procura durante um processo seletivo. O inglês ou outro idioma, para muitas posições, não é mais diferencial: virou requisito. Ao passo que competências socioemocionais se tornaram a caça ao tesouro dos recrutadores. A tecnologia é um dos principais agentes de mudança do mercado. Com o avanço das máquinas e da inteligência artificial, ganha valor aquilo que equipamentos não podem substituir: as habilidades ditas humanas. O ingresso da geração Y ou dos millenials (nascidos entre 1981 e 1996) e, agora mais recentemente, da geração Z (nascidos a partir de 1997) também trouxe outro perfil de profissional para as corporações. A flexibilização passou a ser realidade em muitos ambientes: atualmente, o mercado admite outras dinâmicas e flexibilizações, como o serviço remoto, por meio do home office e os espaços de coworking.
Das modernizações decorrem quebras de paradigmas e mudanças, das mais banais às mais profundas. Muitos comportamentos se tornaram tendência, enquanto outros, antes aceitos, caíram em desuso e, em muitos casos, passaram a ser um atestado de falta de profissionalismo. Há habilidades e hábitos que passam a ser cada vez mais procurados nos funcionários; enquanto outros devem sair de cena. Antes, o perfil de chefe que dita atividades aos subordinados e, se questionado, berra era praticamente padrão.
Hoje, isso pode ser considerado assédio moral. Antigamente, casos de machismo, homofobia, gordofobia, racismo e discriminação eram muito mais comuns. Infelizmente, ainda são realidade, mas, hoje em dia, isso pode gerar demissão e processos, sendo que previamente só as vítimas sofriam. O profissional que não se preocupa com o meio ambiente existe, mas, agora, gastar papel e copo plástico demais não pega bem. Vários valores passaram a ser considerados importantes, sobrepondo-se ao que era “normal” ou “regra”. Quer saber o que está “in” e o que está “out” no mercado de trabalho? Continue a leitura!
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
Perfil profissional mudou
De acordo com gerente sênior de transição de carreira da Thomas Case e Associados, Michel Khouri, o mercado hoje lida com profissionais mais jovens e que têm formas de trabalhar muito diferentes das dos profissionais de antigamente. “São pessoas que estão sempre inquietas, em busca de aprendizado e reconhecimento mais rápido e experiências diversificadas. Esse pessoal é mais ousado, tem novas ideias, quer ser protagonista de um projeto e procura escolhas mais assertivas.”
Se mudaram as ferramentas, o perfil do funcionário e o modo de trabalhar, mudam também as habilidades e comportamentos exigidos, bem como o modo de verificá-los. Como exemplo disso, atualmente, as empresas têm adotado cada vez mais a inteligência artificial como instrumento de trabalho. Aliás, computadores têm a capacidade de desempenhar atividades que antes poderiam demandar a força de trabalho de várias pessoas.
Por causa dessa característica, o que se valoriza são pessoas que tenham muito mais domínio das habilidades socioemocionais, ou as soft skills, aquelas competências mais relacionadas à personalidade, aptidões mentais e emocionais das pessoas. “No futuro, as funções que são mais repetitivas vão ser feitas por uma máquina. Por isso, cada vez mais os funcionários vão ter habilidades mais humanas, como a criatividade, o trabalho em equipe, inteligência emocional e capacidade de resolver conflitos”, afirma Sérgio Agudo, diretor de Negócios para a América Latina da plataforma de educação a distância Udemy.
Seguindo essa tendência, Lucas Ferreira, 20 anos, resolveu entrar em um curso para desenvolver habilidades e discutir o futuro do trabalho. O jovem, que é estudante de engenharia elétrica na Universidade de Brasília (UnB), buscou a formação por sentir que a graduação é mais focada na parte técnica e não desenvolve competências socioemocionais. “É muito importante ter o preparo técnico para a sua profissão, mas a gente não vai ficar só preso àquilo”, diz.
“Você vai lidar com pessoas, pode estar trabalhando e ter uma sobrecarga de tarefas. Tem que saber como enfrentar isso”, completa. Durante os encontros com profissionais de diferentes empresas, Lucas aprendeu metodologias e técnicas que poderiam ser aplicadas na empresa júnior em que trabalha. “Na minha equipe, vi que era muito importante a gente usar uma metodologia chamada Daily Scrum em que todo dia nos perguntamos o que fizemos, o que vamos fazer amanhã e quais as dificuldades”, exemplifica.
De acordo com Lucas, o método faz que com que a equipe trabalhe a comunicação e a gestão das tarefas. “Se a gente percebe que a pessoa está com dificuldade em alguma coisa, conseguimos trazer uma solução mais efetiva para o problema”, avalia. “São pequenas coisas que a gente começa aplicando aos poucos e podem fazer uma grande diferença”, completa.
"Cada vez mais os funcionários vão ter habilidades mais humanas, como criatividade, trabalho em equipe, inteligência emocional e capacidade de resolver conflitos"
Sérgio Agudo, diretor de Negócios da Udemy
"É muito importante ter o preparo técnico para a sua profissão, mas a gente não vai ficar só preso àquilo: é preciso ter preparo socioemocional"
Lucas Ferreira, estudante da UnB
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