Correio Braziliense
postado em 16/02/2020 14:50
Conheça pessoas que se encontraram cuidando ou hospedando cachorros, gatos, roedores e até pássaros. Há quem chegue a ganhar R$ 15 mil durante a temporada de férias, caso de Marcos Vinicius (foto). Quer entrar nessa também? Saiba o que é preciso para se tornar pet sitter
O mercado de pets brasileiro está entre os cinco maiores do mundo, segundo pesquisa do Euromonitor Internacional. Em 2013, havia mais animais do que crianças no Brasil. Eram 52 milhões de cães e 22 milhões de gatos ante a 44,9 milhões de crianças, como apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neste contexto, trabalhar com bichos pode render mais dinheiro do que se imagina.
A profissão de cuidador de animais ou pet sitter surgiu em 2010 no Brasil e só tem crescido. Um morador de Sobradinho chegou a faturar mais de R$ 15 mil em alta temporada, período em que donos de bichos viajam e têm que deixá-los em casas de pessoas de confiança. Trata-se de Marcos Vinicius Fernandes, 22 anos, que, com a ajuda da família, tem recepcionado bichos de estimação na própria casa.
Plataformas como Dog Hero ou My Pet’s Nanny facilitam contato entre cuidadores e donos. Embora trabalhar com animais pareça fácil, é necessário muita atenção, como relatam trabalhadores do setor. Para Marcos Vinicius, a atividade começou como fonte de renda extra e acabou se tornando a principal. O retorno da hospedagem de animais é tão grande que Marcos Vinicius e a família mudaram de lar para receber mais pets em dezembro de 2019.
A prioridade era um quintal espaçoso. “Eu nem queria saber como a casa era por dentro porque a gente se vira. Eu estava em busca de uma área grande para os cachorros poderem correr e brincar”, explica. O investimento foi bem planejado: com mais de 36 cachorros hospedados, a família faturou cerca de R$ 15 mil. O dinheiro foi usado para comprar um carro, instrumento de trabalho, pois Marcos busca os animais onde eles estão.
“Hoje, essa é a principal fonte de renda daqui de casa”, diz. A mãe do jovem, Viviane Fernandes, 45, é cuidadora de idosos e também hospeda cachorros pelo aplicativo Dog Hero. Atualmente, Marcos Vinicius cuida de no mínimo oito cachorros por dia e fatura, em média, R$ 4 mil mensais. Embora seja gratificante trabalhar com animais, a responsabilidade é muito grande. “Tem que prestar atenção o tempo todo. Não pode vacilar um minuto”, comenta.
Por isso, a família se reveza: enquanto uns têm que sair, outros ficam em casa olhando os bichos. No total, 153 cachorros passaram por lá, e Marcos lembra o nome de todos. Ele conta que, enquanto os pets estão sob os cuidados dele, precisa gravar vídeos dos animais felizes. Caso contrário, os donos não acreditam. “Quando eles voltam para a moradia deles, ficam tristes, como se estivessem com depressão. Alguns não querem nem sair daqui de casa”, relata.
“Tenho que pedir para os donos entrarem e colocarem no colo para levar”, brinca. O trabalho dele é muito valorizado pelos usuários que não economizam palavras na hora de agradecer pelo cuidado. “Experiência muito boa, o Marcos é superatencioso com os cãezinhos. Bily ficou muito à vontade e, na hora de vir embora, travou. Não queria vir”, escreveu a internauta Elaine sobre a experiência.
“O Bily fez muitas amizades. Marcos é um profissional excelente, e teremos outras oportunidades de o Bily ficar novamente com esse superanfitrião. Muito grata”, continuou a cliente. Marcos cresceu em Buritis (MG), com muitos animais. Cachorros, gatos, tartarugas, coelhos, patos, galinhas e até papagaio sempre fizeram parte da vida dele. “Eu tinha meu próprio zoológico”, brinca.
Paixão e profissão
Em 2017, Marcos Vinicius, estudante de educação física da Universidade de Brasília (UnB), abriu uma conta na plataforma Dog Hero para receber pets na moradia dele. Levou alguns dias até que o primeiro hóspede aparecesse. Quando concluir a graduação, Marcos pretende estudar medicina veterinária.
Deseja ser um anfitrião com mais conhecimentos e quer ajudar todos os animais que necessitem, independentemente de dinheiro. “O mercado da medicina veterinária está mercenário, tudo muito caro”, brinca. Ainda em 2017, uma família abandonou a cadela Tequila na casa de Marcos. Ele poderia ter ligado para a central do site, mas, como estava apaixonado pela boxer, decidiu adotá-la. Além de Tequila, ele tem outra cadela, Bibi, e dois gatos sem raça definida, Ragnar e Floki.
A primeira a criar app brasileiro no ramo
Andressa Gontijo, 38, tinha dois cachorros, o poodle Billy e o daschund Freud. Sempre que viajava, deixava-os em um hotel para animais. Contudo, essa opção se tornou um problema quando Billy começou a dar sinais de que não ficava bem nesses locais. A veterinária, formada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), buscou soluções. Descobriu que, em países como Estados Unidos e Portugal, existiam pet sitters.
A partir daí, resolveu trazer o sistema para o Brasil. Em 2010, Andressa criou o My Pet’s Nanny, plataforma que une cuidadoras a donos de cachorros e gatos. “Fui a pioneira. Comecei a estudar o negócio fora do Brasil e tropicalizei. Tive que adequar à nossa realidade.” No início, ela era a única pet sitter. A paulistana passou a criar e a ministrar cursos sobre o tema e foi recrutando alunos para a plataforma.
Em 2012, o negócio começou a crescer rapidamente e, hoje, conta com mais de 80 cuidadoras. No site, há opções de cadastramento e de curso, com duração de 10 horas e custo de R$ 199. Andressa acredita que o negócio é sazonal. “Acontece mais em umas fases do ano do que em outras, porque é quando o cliente viaja, então, algumas épocas são mais solicitadas.” Para fazer parte da equipe de cuidadores da plataforma, há checagem de informações e de perfil.
Após o cadastro, Andressa pesquisa até antecedentes criminais. “Para cuidar de animais, precisamos saber qual a relação da pessoa com os bichos”, explica. Aprovados podem receber pets em casa e ganham por comissão 70% do valor do serviço. Além disso, trabalhadores podem comprar produtos da loja My Pet’s Nanny e cursos com desconto. Brasilienses ganham, em média, R$ 2.500 mensais a partir da plataforma.
Cuidadores cobram cerca de R$ 50 pela diária. A primeira visita à casa do cliente é gratuita e inclui análise do pet. Há duas opções de serviço: hospedagem ou passeio, que pode ser no lar do animal ou não. Nesse caso, o pet sitter vai até lá, brinca, alimenta e passeia com o bicho no próprio espaço onde ele mora.
Universitária com renda extra
A estudante de arquitetura da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro Luana Lopez, 24, não perde tempo quando o assunto é ganhar dinheiro fazendo o que gosta. Desde 2017, ela hospeda cachorros e gatos em casa e chegou a faturar quase R$ 9 mil em uma temporada. “Hospedamos 10 cachorros e 25 ficaram na lista de espera”, conta. Para que não falte atenção aos animais, Luana se organizou com o marido: enquanto ela está na faculdade, ele cuida de tudo.
Quando ele vai trabalhar, a estudante fica em casa com as “crianças”, como eles chamam os pets. Luana conheceu a plataforma Dog Hero por causa de uma viagem. Ela é dona da cadela vira-lata Pérola e precisava deixá-la em algum lugar. Por isso, pesquisou locais na internet e encontrou a plataforma de hospedagens. Observou, no site, que estavam recrutando anfitriões. Decidiu participar do processo seletivo e foi aprovada.
Ela trabalha até hoje com “doguinhos”, outro apelido carinhoso para seus hóspedes. Tudo que sabe aprendeu nos cursos do site e com a prática. Ela reforça a importância das avaliações de clientes on-line: comentários positivos sempre ajudam. “No início, como não temos nenhum cliente, pedimos para os amigos entrarem na plataforma e nos avaliarem. Com isso, os usuários se sentem mais confiantes de contratar a gente”, explica.
Outro aspecto que a favoreceu no começo foi a dinâmica do site: para ajudar iniciantes, a Dog Hero prioriza novatos, colocando-os na primeira página de busca. Em 2017, quando começou a ser cuidadora, Luana morava em uma casa de 1.000 m². Por isso, conseguia cobrar R$ 70 pela diária. Em 2019, mudou-se para apartamento e baixou o preço para R$ 65. “Parece pouca diferença, mas quem quer hospedagem por um mês sente a mudança. São R$ 150 a menos”, conta.
Diariamente, ela passeia, cuida e alimenta os animais que estão sob seus cuidados. O horário de chegada e saída é flexível. Luana acredita que quem se dedica muito à profissão de cuidador consegue ganhar aproximadamente R$ 1.500. Contudo, tem que ter muita responsabilidade e paciência. “Os cachorros são crianças. Então, eles podem comer meia e fazer xixi no sofá. Tem que estar preparado”, aconselha.
Por isso, a profissional, que conta com três anos de experiência na área, indica não hospedar muitos animais de uma vez e sempre fazer um encontro inicial. “É quando apresento o hóspede à Pérola”, explica. Para ela, nesse momento, dá para analisar o comportamento do animal para conhecê-lo melhor. Assim, também é possível avaliar se há condições de hospedá-lo ou não.
Cuidando de animais na Inglaterra
Alessandra Mendes, 44, foi para a Inglaterra estudar inglês em 2004, mesmo ano em que começou a trabalhar como pet sitter no país e está lá até hoje. Cuidando de animais, ela e a esposa, Chamois, ganham aproximadamente 8 mil libras mensais, que equivalem a mais de R$ 45 mil. Pagando as despesas, por exemplo, licenças, gasolina e outros, sobram mais ou menos R$ 28 mil (5 mil libras).
“Não me imagino em outra profissão. Nosso escritório é o parque, acho um privilégio. Vivemos muito bem”, conta. “É um serviço bem exclusivo. Hospedamos no máximo 20 cachorrinhos, então é algo bem pessoal e próximo”, explica Alessandra. Elas oferecem três serviços: hospedagem, quando os animais dormem na casa; day care, cuidado durante o dia; e passeio de geralmente uma hora. Elas moram em uma casa de 100m².
A brasileira afirma que, embora 20 animais pareçam muito, a residência não fica uma bagunça, pois todos são educados. “A gente sempre faz teste com o cachorro. Se ele não demonstrar estar bem no ambiente, não aceitamos.” O day care custa R$ 184,58; o passeio de uma hora, R$ 96,55; e a hospedagem, R$ 212,97. Os valores foram convertidos para real. Apesar de parecer caro no contexto brasileiro, Alessandra explica que, para a Inglaterra, o preço é abaixo da média. “Tem gente que cobra 50 libras (R$ 283,97) por meio dia de cuidado”, compara.
“Como nossa casa é pequena e já trabalhamos há muito tempo com isso (20 anos, aproximadamente), ficamos constrangidas de aumentar o preço.” As dificuldades da profissão começam com as despesas para tornar o negócio lícito. Na Inglaterra, apenas para receber os animais em casa, é necessária uma licença anual que custa R$ 3.975,52, convertendo para real. A permissão para passear nos parques com os animais vale R$ 340,76, valor também convertido.
Além disso, Alessandra explica que, enquanto passeia com os pets, alguém sempre pede para tirar foto ou sugere que ela faça alguma coisa, como soltar os animais. “Isso é muito chato. Cada um tem um modo de trabalhar”, desabafa. Outra dificuldade é lidar com o movimento do verão europeu. “O parque fica cheio de piqueniques e temos que redobrar a atenção com os cachorros.”
Bico virou casamento
Com o lucro, além de se sustentarem, Alessandra e Chamois viajam aproximadamente três vezes por ano. Em 2020, vieram ao Brasil e planejam visitar Bulgária, França e Irlanda. Elas têm três cachorros: o mestiço de chihuahua com yorkshire Gizmo, 9 anos; a yorkshire Bella, 11; e a mestiça de chihuahua com affenpinscher Tabitha, 6. Alessandra se formou em publicidade e propaganda pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), mas nunca trabalhou na área por falta de oportunidade. Foi então que decidiu ir para Londres por um ano.
Planejava, no máximo, adiar a estadia por 12 meses. “A Inglaterra era uma opção mais fácil que os Estados Unidos por causa do visto. Minha amiga, que já tinha estudado lá, superrecomendou”, lembra. Ela chegou ao país em março de 2004 e, no mesmo mês, conseguiu emprego: uma colega de classe contou que havia visto um panfleto de uma britânica em busca de cuidadora de animal, e ela não hesitou. Ligou para a empregadora e marcou um encontro no parque. Foi contratada.
Quem anunciou a vaga de emprego foi Chamois, que se tornaria companheira dela. A britânica trabalhava com animais havia quatro anos e precisava de ajuda por causa da alta demanda. Após seis meses trabalhando juntas, começaram um relacionamento. “Juntas, desenvolvemos ainda mais o negócio e hoje estamos muito bem”, conta Alessandra. Elas recebem clientes por propaganda boca a boca e indicação de veterinários parceiros. Não anunciam o negócio em nenhum local, nem na internet.
Além do casal, há mais uma funcionária. Alessandra explica que o negócio é relativamente pequeno por decisão dela e da esposa. “Não quisemos aumentar porque envolveria alugar uma sala maior em outro lugar, seriam mais despesas e não conseguiríamos dar atenção especial aos animais”, argumenta. Hoje, elas têm uma lista de cachorros fixos. São 10 para day care e seis para passeio todos os dias, além dos pets que surgem devido a viagem ou imprevisto dos donos.
"Não me imagino em outra profissão. Nosso escritório é o parque, acho um privilégio. Vivemos muito bem. É um serviço bem exclusivo. Hospedamos no máximo 20 cachorrinhos, então é algo bem pessoal e próximo”
Alessandra Mendes, publicitária e pet sitter
Para entreter na casa do bicho
A dentista e moradora do Jardim Botânico Débora Marandola, 37, passou a cuidar de cães em 2019, quando estava desempregada. Dona da poodle Malu há 11 anos, ela pensou que essa poderia ser uma boa opção, pois vê nos animais muito companheirismo. “Uni o útil ao agradável”, brinca. Cadastrou-se na plataforma sem expectativa de altos lucros. “Seria uma forma de ocupar minhas horas vagas e fazer um extra. Qualquer dinheiro que entrasse valeria”, diz.
Débora não queria receber cachorros na casa dela. A pretensão seria ir até o lar do animal e cuidar ou passear com ele por lá. “Minha cachorrinha não é muito sociável, então tenho receio de trazer outro pet, e ela não receber bem”, explica. A dentista se cadastrou no aplicativo My Pet’s Nanny no ano passado, mas ainda não recebeu clientes pela plataforma. Como mora longe do Plano Piloto, região mais demandada, cobra mais caro pela visita.
Esse pode ser um dos fatores pelo qual ela ainda não recebeu oferta. “Não tenho problema de atender Asa Sul e Asa Norte, desde que seja o valor da tarifa cheia.” Ela se tornou servidora pública este mês e acredita que o mercado de cuidadores de animais em Brasília é pouco explorado. Como dona de cachorro, ela entende a resistência de algumas pessoas a esse serviço. “Não deixaria minha cadela com qualquer um sem indicação”, pondera.
“Avaliação do aplicativo tem seu efeito, mas não tanto quanto a indicação de um conhecido”, defende. Além disso, Débora viu muitos anúncios de pet sitters oferecendo serviços de forma independente, sem empresa ou plataforma, que é outra opção viável.
Os nomes mais populares de pets
Top nomes de cadelas no DF:
1ª) Mel / Mell
2ª) Nina / Ninna
3ª) Luna / Lunna
4ª) Lola / Lolla
5ª) Mag / Maggie
Top nomes de cães machos no DF:
1º) Thor
2º) Luke
3º) Bob
4º) Billy
5º) Fred
Top raças de cachorros:
1º) SRD
2º) Shih Tzu
3º) Yorkshire Terrier
4º) Lhasa Apso
5º) Poodle
* Dados da plataforma Dog Hero
Palavra de especialista
Alertas antes do trabalho
“O mercado de pet sitter tende a crescer porque facilita a vida dos donos de pets que têm que viajar ou passam por algum imprevisto. Algumas plataformas dão até seguro para o caso de animais que passam mal durante a estadia. Quem recebe os bichos em casa tem que averiguar se a carteira de vacina, o vermífugo e o repelente do animal estão atualizados. O cuidador corre riscos, como o de mordida, por exemplo. Por isso, é importante fazer a pré-avaliação e conhecer o cão antes de hospedá-lo. Ninguém quer pet violento em casa. Fazer a pré-avaliação é fundamental para saber se ele vai se adequar ao cuidador e aos outros pets que estão no ambiente e evitar riscos. Além disso, é necessário estar atento na hora do passeio: conheço caso de animais que se desprenderam da coleira e fugiram. Quem vai cuidar do pet na casa dele tem que observar muito o bicho, pois, como a visita é de geralmente uma hora, o bicho pode se sentir sozinho. Nesses casos, há possibilidade de a imunidade baixar e ele fica vulnerável a outras doenças. Levar para o veterinário é a melhor opção.”
Paulo César Tannus, médico veterinário
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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