Correio Braziliense
postado em 23/02/2020 04:08
A aprovação em um concurso público é o sonho de vários brasileiros que buscam estabilidade financeira e qualidade de vida. No entanto, a jornada até alcançar essa meta requer muito esforço, dedicação e persistência. Muitos, no entanto, não estão preparados para lidar com as adversidades durante o processo de preparação para uma seleção desse tipo. Os desafios são diversos, incluindo grande volume de matérias para estudar e preocupação com a concorrência.
A ansiedade pela espera por um edital que ainda não foi lançado e que, por vezes, demora mais que o planejado para sair, também pode ser grande. No meio de tudo isso, há uma grande pressão sobre os ombros dos concurseiros. Eles cobram de si mesmos, além de receberem cobranças de familiares e amigos pela aprovação. Assim, lidar com a parte psicológica do período pré-seleção não é fácil.
Há 20 anos, a psicóloga Juliana Gebrim atende pacientes que a procuram por enfrentarem dificuldades para manter o equilíbrio mental antes de um concurso público. Assim, Juliana se tornou referência nessa área. Atualmente, trabalha no Gran Cursos Online oferecendo esse suporte. Juliana explica a importância do equilíbrio emocional para não desanimar nas vezes em que a aprovação não vier: em geral, um concurseiro não é aprovado em diversas seleções e precisa persistir até passar.
“O aluno tem que perceber que isso faz parte do processo, entender que é natural. Por isso, quem não enxerga a questão das emoções de uma forma séria está destinado à reprovação”, alerta. Ela identifica ansiedade, depressão e procrastinação como alguns dos sintomas mais comuns entre candidatos que estão se preparando para fazer provas. Para conseguir resolver esses problemas, Juliana recomenda que a melhor saída é buscar ajuda de um profissional habilitado.
“Se o estudante identificar que tem algo o prejudicando, deve procurar um psicólogo imediatamente para não deixar isso se ampliar”, indica. Para Juliana, uma rotina de estudos considerada saudável parte do princípio de que o candidato não se deixa abater por problemas externos. “Falo muito para os estudantes entrarem em uma bolha e focarem apenas no que é necessário, de acordo sempre com o ritmo deles”, observa.
As estratégias
A psicóloga Juliana Gebrim desaconselha excessos. “Tem gente que diz para as pessoas estudarem tanto a ponto de não dormirem o suficiente. Mas o sono é fundamental, porque é, justamente nesse momento que você memoriza o que aprendeu”, pondera. Contar com uma rede de apoio de amigos e familiares pode ajudar alunos a lidarem melhor com os sofrimentos e com a pressão inerentes aos estudos para concursos.
É o que defende João Gabriel Diniz, tutor de estudos no curso preparatório Reciclagem Educacional. O trabalho dele se baseia em criar estratégias para os alunos que desejam a aprovação. Por ter adquirido vários resultados positivos, ele classifica o apoio de pessoas importantes para os candidatos como primordial para ajudar os concorrentes durante o andamento dos estudos. “Porque, em muito dos casos, os estudantes se sentem pressionados por pessoas próximas, e isso atrapalha”, diz.
João indica que uma boa estratégia para se seguir com relação aos estudos é “a prática de fazer revisões de provas, pois, assim, a pessoa vai adquirir mais segurança para a hora de fazer o exame”, o que diminui o sofrimento emocional. O professor Rodrigo Silva é coordenador do programa de coaching do Gran Cursos Online há mais de um ano. Ele faz uma analogia com a preparação de atletas para exemplificar como manter a calma e a concentração durante a prova.
“Como alguém que treinou por quatro anos para correr por apenas 10 segundos mantém o equilíbrio? Confiando na preparação que fez antes. Então, a grande dica é: se você cumpriu bem essa, já chega para o concurso mais calmo. Geralmente quem está nervoso é por que não estudou o suficiente”, afirma. A preparação deve ser de longo prazo, mas pode, inclusive, chegar até a véspera da prova.
Dedicação integral
Daniela Adamek, 25 anos, abdicou-se de tudo e de todos durante um período de 10 meses antes de fazer a prova para o cargo de consultora legislativa da Câmara Legislativa do Distrito Federal. A dedicação integral surtiu efeito e ela passou em primeiro lugar na prova. Formada em direito pela Universidade de Brasília (UnB), Daniela trilhou esse caminho com ajuda psicológica porque compreendeu que seria essencial para conseguir obter o resultado que desejava.
“Sempre tive alguns problemas de cunho familiar, e eu sabia que, em algum momento, isso atrapalharia os meus estudos. Procurei a psicóloga como uma forma de ajudar a me equilibrar para estar bem e saudável”, relata. Ela compartilha da visão de que a preparação para um concurso público não deve ser apenas estudar mais de 12 horas por dia, afinal, os concurseiros não são máquinas.
“Uma hora, a pessoa surta e, se você não tem esse amparo, está suscetível a não saber como resolver. Aí, no desespero, vai atrás de um profissional, mas talvez já seja tarde demais”, alerta. “A psicóloga foi um suporte que me ajudou a pensar em como resolver os problemas da melhor forma possível e de modo que não prejudicasse os meus estudos, mantendo o foco”, descreve Daniela sobre a experiência.
Atrás do sonho
O sonho de José Carlos Varias, 26 anos, sempre foi ser delegado de Polícia do Estado de Alagoas. Morador da cidade de Caxias, no interior do Maranhão, ele foi aprovado em diversos concursos, porém acabou não sendo efetivado em nenhum deles. “Ao longo do tempo, com as reprovações, a gente vai aprendendo a manter o psicológico no lugar, fazendo sempre algo diferente quando se estagna, porque o importante é não parar”, conta.
Para José, a vida de concurseiro é solitária, portanto a parte psicológica sempre terá peso. Por isso, ele ressalta que “é necessário ter uma válvula de escape, que pode ser a família, os amigos ou os parceiros”. Segundo ele, o apoio dos entes queridos “ajuda o candidato a não se abater”. Afinal, pensar em desistir acaba passando pela cabeça de muitos candidatos. “O importante é ter fé de que a hora certa vai chegar”, diz.
*Estagiário sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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