Correio Braziliense
postado em 01/03/2020 04:16
Fazer um casamento entre seu propósito de vida e o propósito do seu local de trabalho é possível. Danielle Baldoíno, 41 anos, é prova disso. Ela conquistou realização pessoal e profissional trabalhando dentro da própria casa. No passado, cancelou algumas férias porque não tinha com quem deixar seus cachorros até que se deu conta de que outras pessoas viviam o mesmo contratempo, uma vez que, com certa frequência, cuidava dos animais de amigos. Bastou apenas um “empurrãozinho” do destino para que ele decidisse transformar de vez o próprio lar em um hotel para cachorros.
A iniciativa, além de ser fonte de renda, ajudou no tratamento de uma depressão profunda. Danielle não imaginava que se sentiria tão bem por causa do trabalho. Antes de começar a dedicar a vida a cuidar de cachorros, trabalhou em outras áreas. Passou por faculdades de direito, jornalismo e marketing, mas não se identificou e trancou. No fim das contas, se formou em secretariado executivo pelo Centro Universitário Internacional (Uninter) e seguiu carreira na área. “Eu não era infeliz no meu trabalho, mas não era realizada”, percebe. Em 2012, Danielle adoeceu.
Devido a uma séria crise de depressão, precisou se afastar do emprego. A terapia principal, define ela, era o companheiro Baby, um poodle, já idoso na época. No ano seguinte, retornou ao trabalho, mas ainda estava doente, o que se intensificava com a falta de realização profissional. “A melhor decisão foi pedir demissão para continuar o tratamento em casa”, revela. Danielle conta que morava em um apartamento em Águas Claras, com o marido, Leonardo Baldoíno, e os três pets: Baby, Bob e Blush. No fim de 2016, o casal decidiu deixar o apartamento e se mudar para uma casa.
“Não foi por falta de espaço. Nós queríamos dar mais qualidade de vida para eles”, explica. No entanto, a antiga rotina fez falta. Em Águas Claras, Danielle frequentava o ParCão, pensado para os pets. Vários moradores se reuniam diariamente em horários combinados para os animais brincarem juntos. “Eu ia duas vezes por dia. Era o momento em que eu me sentia melhor”, relembra. Dani ellenão queria que os cachorros perdessem aquela experiência. Até que surgiu ideia de levar o ParCão para casa depois de uma amiga pedir para que ela cuidasse de uma cadela por alguns dias.
Na época, a colega perguntou quanto cobraria pela hospedagem. Ela nunca tinha pensando em cobrar pelo favor, mas sugeriu um valor depois de pesquisar e conhecer o aplicativo Dog Hero, que conecta donos de cachorros a pessoas que oferecem serviço de hospedagem ou passeios. Nascia assim o hotel canino O Mundo de Bob, localizado em Arniqueiras. O nome homenageia o desenho O Fantástico Mundo de Bobby. Na animação, o personagem principal sai da realidade para explorar o mundo da imaginação. É um universo lúdico que Danielle deseja oferecer para os cachorros.
Felicidade e realização
Na pousada para pets, Danielle provê o que se pode chamar de hospedagem “humanizada”. Ela não usa baias, ou seja, os cachorros podem andar livremente pela casa. A única barreira que eles encontram são grades de proteção infantil, usadas durante as refeições. Danielle explica que é um momento delicado em que ela necessita dividir os clientes. “Como tem alguns cachorrinhos mais idosos e outros, mais agitados, eu preciso separá-los na hora de comer. Eles não são agressivos, mas muito elétricos”, explica. Aos poucos, o ambiente foi sendo adaptado e, hoje, tem capacidade para receber 11 cães ao mesmo tempo.
Agora, a casa tem uma piscina exclusiva para os hóspedes, outra de bolinhas, além de caminhas espalhadas. Os bichos de estimação podem dormir onde quiserem. Caso se sintam confortáveis na sala, na cozinha ou até mesmo no quarto de Dani, está tudo bem. Alguns chegam a dormir na cama do casal. Depois de começar esse trabalho, Dani se especializou e fez um curso de auxiliar veterinário. E não vai parar por aí: ela começará o curso de medicina veterinária na Universidade Católica de Brasília (UCB) este ano, depois de ter feito e passado no vestibular sem contar para ninguém.
“Trabalhar pela satisfação muda sua vida em todos os aspectos. Se hoje eu estivesse trabalhando na área em que me formei, talvez eu fosse uma boa profissional, mas não faria da melhor forma possível, como faço hoje”, diz. Por causa da depressão, Dani tinha parado de dirigir. Era uma amiga que a levava para o curso de auxiliar veterinário no Gama. Entretanto, quando a colega precisou viajar, a dona de O Mundo de Bob precisou pegar o volante de novo e, depois de sete anos, voltou a dirigir. “Meu marido nem acreditou que eu fui. Pediu para eu mandar até a localização”, brinca.
Mesmo superando o trauma, o volante ainda é evitado. Por essa razão, Dani terceiriza o serviço de buscar e levar cachorros, que fica com Shirley Mendes, 41. “Somos amigas, na verdade, nos tratamos como irmãs”, define Dani. Shirley fica com a função de “uber pet”, como elas chamam, que inclui buscar os cachorros quando os donos não podem os levar ao veterinário, por exemplo. “Nós tentamos sempre perceber a necessidade do cliente, seja no transporte, seja na hospedagem, seja na alimentação”, diz Shirley.
Os planos de Danielle, após juntar propósito de vida e profissional, são muitos. Depois de se formar como médica veterinária, deseja expandir O Mundo de Bob para outros nichos. “Quero que, quando pensem na gente, saibam que podem contar com o nosso uber pet, com banho, creche, educação para animais, adestramento, loja virtual, além de tratamento veterinário”, almeja. Foi uma mudança de vida. “Não me vejo mais longe disso”, explica. Dani conta que chega a ouvir que não é mais a mesma pessoa. A satisfação a tornou alguém muito mais feliz. “A verdade é que eu nunca vi o que faço como trabalho, mas começou a me dar uma renda e muita satisfação”, conclui.
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