Embora a sigla CEO tenha se tornado cada vez mais usual nas conversas sobre o mundo corporativo, nem todos entendem o que realmente faz parte do dia a dia de alguém nessa posição. Em inglês, chief executive officer quer dizer presidente, diretor executivo ou geral. Ou seja, trata-se do cargo com maior autoridade na hierarquia operacional de uma organização.
Quem o assume tem, além de muita responsabilidade, atribuições que não pode delegar a terceiros, como permear a cultura da instituição, atingir os objetivos da empresa, construir equipes qualificadas e tomar decisões rapidamente. A posição é muito almejada por funcionários que trabalham há anos na organização e que já ocupam funções de chefia e destaque. Contudo, quando esse posto fica vazio, nem sempre as instituições desejam preenchê-lo com algum trabalhador interno.
É muito comum buscar talentos fora, em especial entre candidatos com boa experiência de gestão, não necessariamente na área de especialidade da firma em questão. De acordo com David Braga, presidente da Prime Talent, consultoria de busca e seleção de executivos de média e alta gestão, a maioria das organizações prefere deixar o cargo para profissionais externos.
No começo da hierarquia
Algumas características que as instituições solicitam nos concorrentes a essa vaga de destaque são unânimes: “Elas querem uma pessoa que tenha maturidade, atitude e vivência”. Segundo David, contudo, cada organização precisa de um perfil de CEO diferente. Por isso, a Prime Talent busca profissionais empregados e faz a proposta de contratação. Se o aspirante a presidente aceitar o desafio, passará ainda por uma minuciosa análise.
A empresa checa os requisitos mínimos da vaga, faz entrevista por competência para rastrear tudo que diz respeito à carreira profissional do mesmo e, por último, liga para ex-líderes e ex-liderados para avaliar o perfil do concorrente e, se for o caso, contratá-lo. Uma vez que a pessoa ocupa a posição de CEO, os desafios são muitos. Tudo o que der errado com a empresa pode, em última instância, ser considerado culpa sua. O peso da responsabilidade pode ser massante.
Saber como corrigir rumos equivocadosrapidamente, transmitir uma imagem positiva que contribua para a marca da firma, inspirar todos os liderados e, ao mesmo tempo, contar com gestores de confiança para delegar partes da administração da organização, ser capaz de lidar com a concorrência, compreender o momento de abandonar uma estratégia para trás, estar pronto para se adaptar a mudanças e novidades...
Esses são apenas alguns dos desafios da vida de um diretor executivo. A fim de lidar com todos eles, cada um adota um estilo. Para entender táticas de presidentes corporativos, o Trabalho & Formação Profissional conversou com sete CEOs. Conheça o modo de liderar de profissionais que estão no topo para se inspirar.
Um presidente que vai aos funcionários
“Sempre que quero falar com alguém, não peço para a pessoa vir até a minha mesa. Eu vou aonde ela está”, diz Fernando Teles, 52 anos, CEO da Visa. Ele acredita tanto no poder da mente e das palavras que, se alguém perguntar “como vai”, tem a resposta na ponta da língua: “Sempre bem”. Formado em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o primeiro emprego dele foi como office boy.
“Na minha família, não trabalhar nunca foi uma opção”, relembra o diretor executivo. Fernando é filho de pessoas com história de superação inspiradoras. O pai, piauiense, saiu da terra natal aos 18 anos em busca de emprego e se tornou economista. A mãe era vendedora de loja e, após juntar dinheiro, conseguiu se formar em fonoaudiologia. Assim, Fernando e a irmã receberam muito incentivo para investir nos estudos.
“Apesar da dificuldade, sempre estudamos em boas escolas. Hoje sou engenheiro e minha irmã, médica.”CEO da visa desde 2016, Fernando acredita que o grande diferencial de um diretor executivo é prestar atenção às pessoas. Por isso, diariamente, quando chega à empresa, cumprimenta todos os funcionários. “Esse hábito permite que você saiba o que está ocorrendo na empresa”, diz. “Quando alguém vem falar comigo e estou no meio de uma atividade, peço um minuto, termino a tarefa e presto atenção à pessoa para ver a totalidade do que ela quer informar”, acrescenta.
Garra e organização semanal
Maria Oldham, 36 anos, foi convidada para ser CEO da fintech sueca iZettle enquanto estava grávida, em 2018. “Tive muita sorte, a gravidez correu superbem. Pude continuar com as atividades normalmente, incluindo viagens até o nascimento da minha filha”, conta. Hoje à frente da empresa de gerenciamento de negócios, Maria conta que os desafios são sua maior fonte de motivação.
“Uma vez desafiada, sou guiada de forma incansável para o resultado”, afirma. Formada em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a diretora executiva trabalha em média 13 horas por dia e aproveita o domingo para planejar toda a semana. “Aí sigo a agenda diária, a planejada e a não planejada”, brinca.
Em sua rotina, enfrenta desafios como achar os melhores talentos, tornar a visão do negócio realidade e inspirar pessoas. Tornar-se CEO foi conquista e também uma surpresa para Maria, pois sempre chamou a atenção dela o fato de haver poucas líderes femininas no mercado.
Mão na massa
Tiago Piatto é bastante jovem para ser CEO. Aos 27 anos, ele é presidente da startup de educação Colmeia. Isso é fruto de ter iniciado sua vida empreendedora cedo. Aos 19 anos, fundou a empresa junior de engenharia de computação da Universidade de Brasília (UnB) Struct. Enquanto estudava na instituição, aproveitou as folgas para dar aulas particulares de matemática e física.
Foi aí que percebeu um mercado grande, mas com algumas falhas que, mais tarde, sua startup poderia resolver. Em 2016 juntou-se ao irmão e a um colega de turma para fundar a Colmeia. Com espírito de liderança e gosto por pessoas, não foi difícil escolhê-lo para ocupar o cargo de CEO. “No início foi muito difícil. Começar do zero não é nada fácil”, afirma. Aos poucos, a organização foi crescendo e, hoje, ele luta para manter uma rotina saudável.
“Tento não trabalhar mais de 10 horas por dia, mas nem sempre é possível”, relata. Tiago se considera um líder mão na massa porque, às vezes, pausa deveres estratégicos para cuidar da parte operacional. “Muitas pessoas não gostam de executar. Mas como líderes vão cobrar alguma atividade se não a executam? Tem que servir de exemplo”, indica. Em quatro anos na Colmeia, o CEO nunca precisou tomar decisão sozinho, sempre conversa com sócios e investidores antes de partir para a ação.
Pessoalidade e legado
“O papel do CEO é deixar um legado. Se ele não fizer isso, não teve um desempenho completo”, assegura Aloysio Carvalho, 47, presidente da Falconi Capital, empresa de investimento em ativos privados. Ele acredita que todo profissional tem que pensar no impacto de suas ações na sociedade e na empresa em que trabalha. Formado em engenharia de produção pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acumula anos de experiência em liderança.
Em 2019, o grupo Falconi o convidou para fundar e ser CEO da Falconi Capital, onde trabalha hoje. Aloysio investe aproximadamente 30% do tempo cuidando da equipe. Cumprimenta todos os funcionários diariamente, quando chega na empresa. Ele conhece todos os funcionários e tem conversas individuais semanalmente com os colaboradores para alinhar expectativas e ajudar no desenvolvimento de cada um.
O CEO não quer que os trabalhadores lhe obedeçam porque ele é o chefe, mas porque acreditam nele. “A essência do trabalho como diretor executivo é cuidar de gente. Olhar as pessoas é parte de olhar o futuro”, diz. Além disso, no dia a dia, relaciona-se com clientes e desenvolve planos estratégicos para melhorar o desempenho da empresa. A capacitação constante faz parte do estilo de Aloysio para continuar numa rota de crescimento.
Ele fez mestrado em engenharia de produção na UFMG e MBA no Insper. A formação dele também é marcada por experiências no exterior: durante o MBA, fez extensão na escola francesa Insead (Instituto Europeu de Administração de Empresas). O currículo também é recheado de estudos nos Estados Unidos: ele se especializou em estratégia pela Universidade Harvard e em inovação pela universidade de Berkeley.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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