Num mundo movido à tecnologia, as grandes tendências que guiam comportamentos avançam na velocidade das inovações digitais e se guiam por elas. Há algumas décadas, filmes futurísticos imaginavam várias inovações que seriam integradas ao cotidiano das pessoas, incluindo carros voadores. Nem todas as ideias viraram realidade, mas muito do que foi pensado lá atrás se concretizou, sim, exemplo de chamadas com áudio e vídeo, óculos de realidade virtual, casa inteligente, carros autônomos e muito mais.
No entanto, tudo isso demorou muito para virar realidade. Agora, o que se pensa para o futuro torna-se real a passos muito mais rápidos, de acordo com estudos e especialistas. O peso das novas ferramentas na vida das pessoas só tende a aumentar, provocando mudanças estruturais e ditando comportamentos. Entretanto, o mundo virtual não é uma tendência que anda sozinha, pois se sacode de acordo com os hábitos da sociedade, como mostram quatro estudos. Entre eles, estão levantamento da Cognizant, empresa americana de tecnologia da informação, que apresentou 42 tendências para o futuro do trabalho.
Segundo Eduardo Guerreiro, diretor de negócios digitais da Cognizant no Brasil, a tecnologia não passa de uma ferramenta, portanto, não é ela que estabelece as tendências. “As mudanças que estamos avaliando são do comportamento humano”, explica. Entre essas, estão descentralização de hierarquias, variações de locais e horários de trabalho (algo que já estava em curso, com a disseminação do home office, mas ganha caráter quase impositivo durante a pandemia do coronavírus), aumento do valor do propósito, preocupação com o meio ambiente e até mesmo alterações no modo de se vestir.
As tendências que influenciarão o futuro do trabalho e da vida humana se complementam umas às outras, como destaca Marcos Carvalho, sócio de Auditoria da PricewaterhouseCoopers (PwC) no Brasil. Pensando nos grandes movimentos que trariam um forte impacto na natureza, na sociedade e na economia, a consultoria publicou o estudo Megatendências: uma síntese das implicações. A pesquisa, de 2015, resumiu cinco supermovimentos que afetariam os rumos das empresas e da sociedade, entre mudanças demográficas e climáticas, deslocamentos do poder econômico, urbanização acelerada e avanços tecnológicos.
Apesar de o levantamento afirmar que o mundo está mudando em ritmo acelerado, nem mesmo a própria PwC imaginava que as megatendências listadas no documento se tornariam realidade tão rapidamente. Marcos Carvalho, bacharel em contabilidade pela Universidade de São Paulo (FEA/USP), explica que, além de tais mudanças estarem conectadas umas às outras, elas estão se concretizando em uma escala muito maior do que o esperado. “Todos os temas listados no estudo em 2015 estão na mídia atualmente. Aquilo que colocamos como potenciais temas de foco, hoje, são fato”, afirma.
Por essa razão, a abordagem do próximo estudo precisou mudar. Entre 2018 e 2019, a empresa reavaliou toda a pesquisa e a direcionou de forma mais conjunta. Assim foi criado o conceito Adapt, dessa vez com as cinco consequências das megatendências. A palavra é uma sigla para assimetria, disrupção, idade, populismo e confiança, na versão em português.
Inteligência artificial impacta profissões
Todos os anos, o grupo de pesquisa estratégica de mercado Euromonitor publica as 10 principais tendências globais de consumo. A sondagem é feita com empresas de 100 países investigadas por mais de 1.000 analistas. Tecnologia, cuidado consigo e com a sociedade devem ser os destaques deste ano, de acordo Euromonitor. A primeira tendência, intitulada “Mais que humanos”, aborda a inserção de robôs e da inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) no cotidiano das pessoas para fins de bem-estar, conveniência e conforto.
Segundo Marcel Motta, diretor geral da Euromonitor no Brasil, em 15 anos, a novidade afetará cerca de 50% dos empregos do mundo. Entretanto, não é necessário se assustar com o decorrente aumento do desemprego. As máquinas serão utilizadas para fazer o trabalho que o ser humano não deseja mais, além de propiciarem a criação de novos cargos, funções antes inimaginadas. Um exemplo atual é a extinção do trabalho de cobrador de ônibus em São Paulo.
A posição foi substituída por um equipamento que faz a cobrança automaticamente, e os profissionais foram realocados para outras atividades, como recarregar o cartão de passagem. “A tecnologia sempre vai impactar o mercado de trabalho. É um processo natural”, explica Marcel, mestre em economia pela Universidade de Wisconsin-Madison. No Brasil, a tendência começou a ganhar força. O país ganhou, neste ano, o primeiro curso técnico em inteligência artificial integrado ao ensino médio, ministrado pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), em São Paulo. Para Marcel Motta, o Brasil tem um grande potencial de se tornar referência no assunto.
De olho nos empregos do amanhã
Lucas Davi Santos, 14 anos, é um dos 23 alunos do novo curso da Fecap. Inicialmente, o jovem queria cursar informática, mas, como as vagas haviam acabado, a escola sugeriu a matrícula no recém-criado curso de inteligência artificial e ele aprovou a ideia. “Eu vi como uma grande oportunidade. Eu percebo que, no futuro, a humanidade vai desenvolver grandes tecnologias assim”, relata. Segundo o estudante, as aulas têm sido muito produtivas.
A empolgação é notável, e Lucas tem certeza de que concluirá o ensino médio preparado para trabalhar na área. O objetivo é um dia ser empregado da empresa de tecnologia Google. Na faculdade, o jovem apostará mais uma vez em inteligência artificial, pois acredita que é a profissão do futuro. A professora Evelyn Cid, 38, é especialista em engenharia de software pela Universidade São Judas e coordenadora do ensino técnico da Fecap. No curso, ela ministra a disciplina de inteligência artificial aplicada aos negócios. A docente explica que a graduação é totalmente desenvolvida para o mercado de trabalho.
No ano passado, Evelyn e o diretor da escola, Marcelo Krokoscz, mapearam novas profissões e perceberam o destaque da inteligência artificial. O estudo feito pela Cognizant, reforça que inteligência artificial é a profissão do futuro. A pesquisa sugere que devemos tratar a inserção desses novos dispositivos à vida cotidiana com naturalidade, afinal “os filmes de Hollywood com robôs inteligentes malvados são uma miragem”. A tecnologia precisa de pessoas para operá-la. “Nós potencializamos a inteligência artifical para que ela aprenda a tomar decisões de acordo com nossos pensamentos”, enfatiza Eduardo Guerreiro.
Confira as cinco implicações das mudanças em curso:
» Assimetria: aumento da riqueza, intensificação de desigualdades e erosão da classe média.
» Ruptura: a velocidade, a escala e a natureza difusa dos avanços tecnológicos. Assim, a transformação digital e a rapidez de execução viram requisitos de sobrevivência para a maioria das organizações.
» Idade: pressão demográfica nos negócios, instituições sociais e econômicas. A população global está a caminho de atingir 8,5 milhões antes de 2030. Nas economias envelhecidas, os trabalhadores mais velhos precisarão trabalhar mais e aprender novas habilidades, enquanto, nas economias mais jovens, os governos serão confrontados com o alto desemprego juvenil.
» Populismo: colapso no consenso global, gerando um mundo fraturado, em que o nacionalismo ganha força, e crescente tensão nos negócios transnacionais. Haverá pressão para redução de impostos cobrados de empresas, num contexto em que países passam a competir para atrair companhias.
» Confiança: declínio da confiança nas instituições que sustentam a sociedade a partir dos efeitos avassaladores da corrupção. A potencialização da desinformação é uma das consequências do fenômeno.
Para conferir a pesquisa na íntegra, acesse bit.ly/adaptpesquisa.
Termo “Adapt”
Cinco questões e implicações globais urgentes.
A PwC identificou megatendências que transformarão nosso mundo ainda mais rápido do que o previsto. Acredita-se que isso se deve à interação entre as tendências, o que aumenta a velocidade e a difusão da mudanças. A sigla Adapt considera as megatendências como um dado e está focado nos efeitos de segunda ordem, os quais têm um impacto imediato nas atuais tomadas de decisões.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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