Para Marcus Vinícius Silva, 24 anos, o home office não é uma novidade que veio com o coronavírus. Ele é desenvolvedor de software na Bxblue Consignados, empresa de empréstimos que oferece aos trabalhadores a flexibilidade de optar pelo formato remoto ou não. A firma tem um escritório na Asa Norte para quem escolhe ir ao trabalho pessoalmente. “Minha equipe, que é a de tecnologia, já tinha a opção de trabalhar de casa. Agora, a equipe de vendas, que era presencial, passou a atuar em formato remoto também e está dando certo”, analisa.
Antes da pandemia, Marcus gostava de ir ao escritório de duas a três vezes por semana. No restante dos dias, prestava serviço de casa. “Eu acho que é um equilíbrio legal, gosto do ambiente e de estar junto das pessoas também”, diz. “Na hora de tirar uma dúvida, com esse contato, a resposta é imediata, diferentemente de quando trabalhamos em casa”, compara. Ele reconhece, porém, os benefícios do home office, que agora adotou em tempo integral.
“Eu moro em Planaltina e, atuando a distância, não tenho que acordar muito cedo para chegar a tempo.” Como a instituição já tinha uma cultura de flexibilidade, a adaptação de outros setores está fluindo bem. “Se é uma empresa que tem experiência e sabe como fazer trabalho remoto, a tendência é de que a experiência agora seja legal”, supõe. “Para uma empresa que está começando a adotar esse sistema, pode ser meio estranho”, avalia.
A fim de que o serviço a distância vá bem, também é importante a colaboração das pessoas que moram na mesma residência, indica Marcus. “Trabalhar de casa não envolve só você, principalmente, no início. No começo, você tem que se organizar e se educar, mas quem está ao redor também tem que ser educado para isso, precisa compreender que, apesar de estar em casa, naquele horário, você está trabalhando” afirma o estudante de ciência da computação.
O papel da liderança
Assim como os trabalhadores, muitas empresas foram pegas desprevenidas e tiveram que adotar o home office às pressas por causa do contexto atual. A falta de uma cultura de trabalho remoto pode trazer dificuldades, principalmente neste início. Os desafios envolvem a organização do serviço, a manutenção da produtividade dos empregados, a comunicação e até recursos para viabilizar atividades digitalmente. Até porque nem todos os empregados podem contar com computador e internet em casa. São muitas variáveis para administrar de uma vez.
Fábio Bier é gerente de RH para a América Latina da Husqvarna, produtora de equipamentos para manejo de florestas, gramados e jardins. Ele analisa que o sucesso do home office depende também dos líderes das empresas, ainda mais em um momento como o que estamos vivendo. “Aluguem laptops, reforcem recursos de comunicação virtual, orientem seus funcionários a manterem o expediente mesmo remotamente, convoquem imediatamente a liderança a acompanhar o home office dos empregados, fazendo contato telefônico ou on-line, organizando reuniões virtuais diárias...”, aconselha.
Ou seja, há muitas alternativas, o importante é “não deixar o ritmo parar”. O gerente de recursos humanos enfatiza que, para a implementação da cultura do trabalho remoto, os chefes devem encontrar meios de monitorar os colaboradores. “Quando implementamos o home office na Husqvarna, exigimos que cada funcionário entregasse ao gestor no fim do dia um relatório descrevendo as atividades que realizou hora a hora. Era bem simples, mas muito efetivo”, exemplifica. “Hoje, não usamos mais, mas, para o período de adaptação, foi muito importante.”
Flexibilidade em alta
Agora, lidando com uma pandemia, é necessário que as pessoas sejam colocadas para trabalhar a distância integralmente. No entanto, em cenários normais, principalmente no início, Fábio observa que é importante dar ao funcionário a possibilidade de ir ao escritório quando quiser. Ou seja, a flexibilidade deveria ser a máxima do período de transição até os colaboradores se habituarem ao formato e conseguirem manter o mesmo nível de entrega diretamente de seus lares.
No entanto, a situação atual exige uma adaptação mais abrupta, que, por isso mesmo, exige mais cuidado dos colaboradores e dos empregadores. Olhar o lado bom dessa mudança é importante para manter um clima positivo. “Enquanto os funcionários ganham tempo para fazer coisas que realmente gostam e produzem onde se sentem mais confortáveis, as empresas ganham ao economizar com custos de manter os empregados fisicamente, com os escritórios”, afirma. Pós-graduado em gestão de pessoas, Fábio defende, no entanto, que as vantagens para as empresas e as instituições vão muito além disso.
“As empresas ganham muito mais com inovação, soluções criativas e resultados”, diz. Claro que, no início, pode ser mais difícil visualizar isso, mas o impacto ficará mais perceptível em longo prazo. O gerente de RH acredita que o coronavírus trará muitos ensinamentos para as companhias. “Dessa pandemia, tiraremos muitas lições, incluindo ter gente preparada para trabalhar de qualquer lugar. As empresas são as pessoas e, hoje, vemos que o comprometimento delas, trabalhando remotamente, é o que está mantendo o funcionamento de instituições mundo afora.”
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