Trabalho e Formacao

Profissional da saúde e mãe

Na data que homenageia a maternidade, o caderno Trabalho & Formação Profissional conta histórias de mulheres que estão na linha de frente contra o coronavírus e precisam lidar com o receio de adoecer os filhos pequenos

Correio Braziliense
postado em 10/05/2020 04:20
A médica infectologista Marli, do Hospital Santa Lúcia

Este Dia das Mães é um pouco diferente do convencional. Devido às medidas de isolamento e distanciamento social, em muitas casas, a comemoração será feita a distância, e o beijo amoroso terá que ficar para depois. Em outras, apesar de a família estar reunida, existe a preocupação de não sair de casa, quebrando a tradição daquele almoço no restaurante preferido nesta data. As delícias e as dores da maternidade ganharam outra cara durante a pandemia. É normal se preocupar com os filhos e, agora, essa preocupação se intensifica.

O medo de que os descendentes se contagiem com a covid-19 pode ser angustiante. Ainda mais para mulheres que, por causa da profissão, atuam na linha de frente contra a doença. Médicas, enfermeiras, fisioterapeutas, farmacêuticas, biomédicas, técnicas e outras trabalhadoras da saúde enfrentam esse dilema. A culpa materna torna-se uma carga ainda mais cruel para as que têm crianças pequenas, pelo temor de elas próprias serem o fator de transmissão do vírus.

“Existe muita ansiedade, algumas desenvolvem um quadro depressivo que atrapalha o sono, a alimentação. Elas ficam o tempo inteiro submetidas ao medo de adoecer e não poder cuidar dos filhos ou passar para eles”, afirma o psiquiatra Fábio Aurélio Costa Leite, formado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Muitas também lidam com receito de contagiar outros familiares, como pais idosos, que, não raro, moram com elas. “Temos mães que protegem os filhos e, claro, há filhas que tentam proteger as mães.”

Cuidar da saúde mental


No Hospital Santa Lúcia, além de atender a pacientes em consultas, o psiquiatra Fábio Aurélio presta assistência a profissionais que ali trabalham. “Existe uma assistência preventiva, e, em cima disso, essas colaboradoras são acompanhadas de acordo com a resposta da primeira sessão”, relata. Para ele, esse tipo de ação deveria existir em todas as instituições de saúde. “O que estamos vivendo mexe muito com o psicológico, e isso tem sido deixado de lado. Há casos em que a imunidade baixa, e a paciente fica ainda mais vulnerável a um quadro infeccioso”, justifica.

Ao contar para os filhos que está trabalhando em contato com o vírus e, por isso, pode ser que o distanciamento seja maior dentro de casa, o médico aconselha explicar que o trabalho envolve cuidar de outras pessoas, que precisam de ajuda. “A criança vai entender que o serviço da mãe é ajudar. Por isso, ela não está tão presente”, observa. “E dá para tentar minimizar essa ausência, ligando, conversando e brincando dentro do possível”, sugere.

Para acalmar o coração das mamães, ele destaca que reconhecimento é fundamental, tanto da parte dos gestores do hospital, quanto dos próprios filhos. “Isso é algo que nem todas as pessoas têm noção da importância. Todos os dias, essas mulheres estão se expondo e, todos os dias, merecem gratidão”, defende.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa


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