Trabalho remoto, videoconferências, reuniões por aplicativo, aulas on-line... Essas são algumas tendências que vinham ganhando força antes da pandemia do novo coronavírus e se intensificaram com o isolamento social. A rotina de trabalho mudou e, provavelmente, continuará seguindo o mesmo caminho após o fim da quarentena, segundo especialistas. As organizações foram forçadas a migrar para o mundo digital, e muitas se adaptaram bem à tendência.
O Twitter, por exemplo, anunciou home office permanente para todos os funcionários que preferirem o modelo e estiverem em cargos que permitam o trabalho a distância. Nesse contexto, existem pesquisas que tentam entender como deve ser o “novo normal” depois da crise do coronavírus. Levantamento do grupo global de comunicação Dentsu Aegis Network mostra como os chineses estão se adaptando após o fim do isolamento.
De acordo com a pesquisa, aplicativos de comunicação entre equipes, como DingTalk, WeChat Work, Microsoft Teams e
Lark, se tornaram os mais vendidos das lojas de apps chinesas. Até 3 de fevereiro, mais de 10 milhões de empresas estavam usando o DingTalk para o trabalho remoto. “Algumas práticas que a gente adotou nesta situação dificilmente deixarão nossas rotinas. A gente teve aprendizados forçados”, analisa Ana Leão, diretora da Isobar, empresa de marketing da Dentsu Aegis Network.
“Muitas companhias aprenderam que a transformação digital não pode esperar mais. Com transformação digital, a gente não está falando só de mídias sociais e e-commerce, mas de uma verdadeira transformação das organizações para que elas operem dentro da economia digital”, afirmou Ana Leão. De acordo com a diretora, as apresentações e reuniões a distância — por meio de plataformas como Zoom e Skype — e o trabalho remoto — seja em casa, seja em um coworking — devem se intensificar no “novo normal” do Brasil.
Outra tendência, segunda ela, é o ensino a distância. “As empresas ligadas à educação que tiveram de se adaptar ao ensino remoto e investir na capacitação de professores não vão deixar de investir”, explica a diretora, que tem MBA pela University of British Columbia e pela Fundação Dom Cabral. Com mais de 20 anos de carreira em publicidade, Ana esclarece, no entanto, que essas são todas pressuposições e apostas, pois há muitos fatores que afetarão a rotina pós-isolamento.
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Tecnologias em alta
Cofundador da aceleradora de startups Cotidiano, André Fróes também acredita que a migração dos profissionais e empresas para o mundo virtual deve permanecer. “Hoje, a gente vê academias fazendo aulas on-line, médicos atendendo remotamente... Vai ser difícil isso acabar no contexto pós-isolamento”, avalia. “Se, antes, eu fazia uma consulta com um médico e tinha o custo do deslocamento e a chatice das filas, agora faço uma consulta remota”, compara.“Quando o isolamento acabar, não tem porque eu não continuar fazendo o atendimento a distância se isso foi percebido como um valor entregue pelo médico”, justifica o engenheiro de redes de comunicação pela Universidade de Brasília (UnB).
Entre as tendências que ganharam força durante o isolamento e devem continuar em alta, segundo a coordenadora dos cursos de data analytics e engenharia de dados do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI), Fernanda Farinelli, estão aplicativos para registrar as jornadas de trabalho, adoção de assinatura digital para viabilizar a formalização de instrumentos contratuais, uso de aplicativos ou websites para solicitar serviços e atendimentos via chatbots. “Com o fim da pandemia, é uma tendência que as empresas mantenham esses canais.” Outro exemplo citado pela doutora em ciência da informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) são as sessões remotas dos Poderes Legislativo e Judiciário. “A telemedicina e videochamadas entre profissionais de saúde e pacientes também têm potencial para persistir, mas demandam regulamentações”, acrescenta.
Mudanças no jeito de atuar
As revoluções forçadas pela pandemia agregam conhecimento às pessoas. “Esta crise acelerou a inteligência tecnológica da população em 10 anos. Todos agora sabem alguma coisa a mais de tecnologia”, analisa o palestrante de tecnologia e inovação Tony Ventura, autor de blog que leva o nome dele no site do Correio Braziliense. As mudanças também devem afetar a cultura organizacional das empresas e a rotina dos profissionais, a exemplo do trabalho remoto, que tem sido avaliado de maneira positiva por muitas entidades.
Afinal, esse modelo permite a redução de custos ligados à manutenção do escritório e deslocamento dos trabalhadores. “Algumas empresas perceberam que os funcionários têm mantido a produtividade trabalhando em casa”, explica “É claro que, para outras instituições, o trabalho remoto pode não ter funcionado tão bem. Mas muitos empresários vão pensar: por que eu vou pagar R$ 200 mil de aluguel em um prédio se eu posso colocar o home office e ter os mesmos resultados?”, explica.
Ele destaca que os profissionais devem estar preparados para esse novo modo de trabalho. Na transição durante a pandemia, improvisos são perdoados, mas, depois, será preciso aperfeiçoar. “Ninguém vai querer contratar um professor para dar uma aula on-line com a internet picotando, com ele travando, ou em um ambiente feio”, justifica o publicitário formado pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub).
“Se um professor vai dar aula e tem um barulho de reforma atrás, é horrível para os alunos.” Para solucionar problemas como esse, há dispositivos on-line gratuitos. “Existem ferramentas hoje, como o Zoom, que mudam o fundo do lugar onde você está. Há outros que cortam ruídos do ambiente”, exemplifica o mestre em negócios sustentáveis pela Maharishi University of Management.
Momento de transição
É importante ressaltar que a prática forçada do trabalho remoto, como vivenciada por muitos trabalhadores hoje, é bastante diferente do home office opcional, como explica a professora do IGTI Fernanda Farinelli. “Quando o profissional opta pelo trabalho remoto, em geral ele se prepara para isso. O modelo imposto pela pandemia fez com que muitos profissionais não simpatizassem com o home office, pois eles não estavam preparados”, diz.
“Por exemplo, alguns profissionais, pais e mães, reportaram dificuldades com o trabalho em casa porque precisam compartilhar o notebook com os filhos para eles acompanharem as aulas a distância”, pontua a mestra em administração pela Fundação Pedro Leopoldo. “Outros tiveram de incluir tarefas domésticas em suas agendas e conciliar com o trabalho. Na dinâmica da pandemia, pais e mães não só precisam ensinar aos filhos como estudar remotamente, mas também inventar ou criar atividades para distrai-los.”
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Home office permanente
Com a experiência positiva de trabalho remoto durante o período de distanciamento social, a marca de produtos para pet Zee.Dog anunciou home office permanente para os colaboradores. A partir de agora, eles poderão decidir se vão para o escritório, no Rio de Janeiro ou em São Paulo, ou não. Antes da quarentena, a equipe já trabalhava na jornada de quatro dias úteis presenciais, como conta Thadeu Diz, diretor criativo e um dos fundadores da Zee.Dog.
“Com o tempo, percebemos que o time não só se adaptou (ao trabalho remoto), mas começou a incluir novos hábitos no dia a dia, como ler, meditar ou praticar uma atividade física no tempo que seria de deslocamento até o escritório ou, até mesmo, nos intervalos ”, relata. “Consideramos que o resultado foi positivo, pois os colaboradores puderam destinar mais tempo para atividades que estavam sendo deixadas de lado ou sendo praticadas com menos dedicação”, acrescenta.
Ele explica que o escritório não deixará de existir, apenas de ser obrigatório. “Quando tudo estiver mais tranquilo e for seguro voltar à rotina, a equipe poderá trabalhar onde preferir e ir à empresa quando quiser.” Thadeu conta, também, que a Zee.Dog está redesenhando o espaço físico do escritório para promover a integração entre os colaboradores que optarem por trabalhar presencialmente e os que preferirem ficar em casa.
“Todas as salas de reunião serão transformadas para essa experiência de aproximar mesmo quem estiver trabalhando remotamente”, explica. “Temos algumas paredes brancas no escritório e queremos projetar a imagem das pessoas que estão trabalhando em home office, para que possamos perceber a presença delas e, assim, facilitar a comunicação.” A companhia tem lojas em Brasília e em vários estados.
Quanto aos aprendizados que a empresa adquiriu nesse período, o executivo comenta: “Acredito que tudo o que estamos vivendo e as necessidades de rápidas adaptações vão nos deixar um legado em vários aspectos. Ideias que o mundo já queria implementar, mas não tivemos coragem de testar antes foram aceleradas”.
As aulas on-line chegaram de vez
A Colmeia, startup brasiliense que faz intermediação de reforço escolar, teve de se adaptar ao ensino a distância. Antes, a empresa oferecia essa opção, mas ela quase não era procurada. Agora, durante a quarentena, passou a ser a única alternativa viável. O retorno foi surpreendente. “As aulas foram muito bem recebidas tanto pelos nossos clientes antigos, que, muitas vezes, tinham resistência ao on-line, tanto pelos novos públicos que a gente alcançou”, conta o CEO da startup, Tiago Pigatto, 27.
Antes, a empresa atendia a estudantes de Brasília e São Paulo. Agora, de acordo com Tiago, que é formado em engenharia de computação pela Universidade de Brasília (UnB), a Colmeia tem pelo menos um cliente em cada estado e alcançou cerca de 200 novos estudantes durante a quarentena. “A gente implementou algumas mudanças importantes na startup”, diz.
“Inicialmente, tivemos de migrar toda a estrutura para o on-line e preparar nossos professores, porque ministrar uma aula virtual é bem diferente de uma presencial”, conta. “Fora questões de plataformas e ferramentas que tivemos de implementar muito rápido para atender o público.” Outra mudança foi a adequação ao home office, que deve continuar até o fim do ano.
Graças aos investimentos nas aulas virtuais e ao retorno positivo por parte dos estudantes, Tiago acredita que a modalidade continuará sendo muito procurada após o período de distanciamento social. “Com certeza, a gente vai continuar com as aulas on-line, porque o mercado vai mudar e os costumes das pessoas, também.”
Vida profissional x pessoal
Jéssica Melhado, 25 anos, analista de mídias sociais da instituição financeira XP Inc., está trabalhando em casa desde março, quando começou a quarentena. O trabalho remoto será rotina até o fim do ano e, talvez, permanentemente. A empresa decidiu estender o home office com base em questionários de satisfação aplicados aos colaboradores e clientes, que mostraram os impactos positivos do modelo. Agora, a XP estuda levar o trabalho remoto adiante. Jéssica é entusiasta da ideia.
“O home office vem para gerar um equilíbrio entre nossa vida pessoal e profissional”, opina. “Conversando com algumas pessoas que também estão trabalhando de casa, entendo que o trabalho remoto tem sido a oportunidade de antecipar sonhos que a gente tinha anteriormente”, acrescenta. Ela cita o exemplo de colegas que estão cogitando se mudar para o interior, o que seria impossível se tivessem de ir à empresa todos os dias.
“No meu caso, moro perto da XP e agora vou poder me mudar para uma região mais afastada, o que eu prefiro”, conta. “Da mesma forma, sempre quis ter um cachorro, mas nunca cogitei a ideia porque ele ficaria sozinho o dia inteiro.” Um dos principais benefícios de fazer o expediente em casa, de acordo com Jéssica, é não ter de enfrentar o trânsito de São Paulo. “O problema do deslocamento interferia muito no dia a dia. Muitas vezes, o time já chegava cansado no escritório. Agora a gente começa o dia bem mais tranquila.”
De acordo com a graduada em relações internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o sucesso do trabalho a distância depende do apoio da empresa. “A XP sempre ofereceu a infraestrutura necessária para os colaboradores. Por exemplo, a gente poderia retirar cadeiras do escritório se quisesse, já que são cadeiras para quem vai ficar sentado o dia inteiro”, relata. “É muito importante que a empresa seja parceira nesse processo.”
"Conversando com algumas pessoas que também estão trabalhando de casa, entendo que o trabalho remoto tem sido a oportunidade de antecipar sonhos que a gente tinha anteriormente”
Jessica Melhado, analista de mídias sociais
Palavra de especialista
Aceleração do aprendizado digital
"Empresas ficaram anos debatendo sobre quando participariam da transformação digital. Elas sabiam que queriam entrar no mundo virtual, mas não conseguiam dar o primeiro passo. Quando a pandemia chegou, em quatro semanas, todo mundo estava 100% na internet. A necessidade é a mãe da mudança! As transformações também aconteceram para pessoas comuns. Lembro que, alguns anos atrás, ouvia muitas pessoas dizerem que não combinavam com a tecnologia, principalmente as mais velhas. Diziam que só sabiam mexer no WhatsApp e que já tinham tentado, mas não conseguiam aprender outras ferramentas.
Quando a pandemia chegou, as pessoas aprenderam, em poucos dias, algumas ferramentas que se faziam necessárias. Senhoras do Brasil inteiro aprenderam a mexer no Instagram em dois dias para ver a live da igreja ou do padre predileto. Algumas dessas pessoas não sabiam bem o que eram lives até poucas semanas atrás. Executivos aprenderam rapidamente a entrar em videoconferência em diversas ferramentas das quais nunca tinham ouvido falar. Empresários do ramo de alimentação tiveram que se cadastrar nos aplicativos de delivery em poucos dias para não perderem vendas. Mães de família que nunca tinham pedido comida por delivery, em poucas semanas já viraram experts em iFood, Rappi e Uber Eats. Artistas do ramo da música descobriram que podem faturar mais nas lives do que em shows. Tudo isso chegaria em nossas vidas devagar ao longo de 10 anos ou mais, mas o isolamento social fez surgir a necessidade de acelerarmos o processo."
Tony Ventura, referência em tecnologia, viaja o mundo buscando ferramentas
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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