Trabalho e Formacao

Eu cheguei lá na juventude!

Conheça pessoas que alcançaram grande destaque ainda jovens e saiba como elas estão vivenciando a pandemia

Correio Braziliense
postado em 31/05/2020 04:10
Conheça pessoas que alcançaram grande destaque ainda jovens e saiba como elas estão vivenciando a pandemiaLiderança educacional

 Em 2018, Ana Carolina Machado, 28 anos, foi eleita pela Universidade de Saint Gallen, na Suíça, como uma das jovens lideranças que estão definindo o futuro e, em 2019, entrou, como líder educacional, para a lista Forbes Under 30, publicação que destaca jovens de referência em diferentes segmentos. Foi durante um intercâmbio, enquanto cursava marketing na Universidade de São Paulo (USP), que Ana Carolina se apaixonou pela educação e decidiu que queria construir carreira na área. Ela foi dar aulas sobre responsabilidade social corporativa em uma escola pública de Milão, na Itália, onde passou dois meses.

Quando retornou para São Paulo, fundou, com dois amigos da universidade, uma escola de inglês para jovens de baixa renda, chamada 4U2. “A gente cobrava um preço baixo e trazia professores estrangeiros para darem as aulas. Começamos no Capão Redondo, em São Paulo. O negócio foi crescendo muito rápido. Depois de três anos, tínhamos mais de cinco unidades e mais de 1 mil alunos matriculados”, conta.

A vontade de viver outras experiências no setor educacional fez com que Ana vendesse a parte dela da empresa depois de alguns anos. Então, começou a trabalhar como consultora de startups na área de educação, apoiando empreendedores que estavam desenvolvendo soluções tecnológicas para o setor. Depois, atuou em uma rede de escolas particulares para classe média baixa, em São Paulo, e se tornou diretora de uma das unidades.

Entre 2017 e 2018, fez uma especialização em psicossociologia da juventude pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Ano passado, começou o mestrado em educação na Universidade Stanford, na Califórnia, Estados Unidos, com bolsa da Fundação Lemann. “Agora, eu quero contribuir com políticas públicas, que é o que vai mudar mesmo a educação no Brasil”, conta. “Eu vim para Stanford para me preparar melhor, conhecer mais teorias sobre educação e também para fazer novas conexões que me permitam contribuir com o debate sobre iniciativas para o setor”, ressalta.

De acordo com ela, o papel das lideranças jovens é contribuir para a redução da desigualdade social no Brasil. “A gente precisa sair da nossa posição de conforto e privilégio e se engajar com iniciativas que, de fato, vão gerar mais oportunidades para as pessoas que não tiveram as mesmas chances que a gente”, explica. “É isto que eu espero: que, de alguma forma, eu e as outras lideranças consigamos contribuir para virar esse jogo, em vez de só perpetuar a dinâmica que já existe e exclui a maioria das pessoas. No caso da educação, é contribuir para que a maioria dos alunos tenha um futuro mais promissor.”

“Somos questionadas”

A mestranda conta que percebeu barreiras durante a trajetória por causa do gênero e da idade. “Acho que nós, mulheres, ainda mais jovens, somos muito questionadas quando tentamos nos posicionar e nos colocar em lugar de destaque”, lamenta. “Quando trabalhava como diretora de escola, percebia isso. Esse era um desafio, porque havia pessoas na minha equipe que eram mais velhas do que eu e, muitas vezes, acabava conversando com pais que também eram mais velhos”, relembra.

“Então, acho que tinha essa questão de pensarem ‘nossa, como essa mulher tão jovem, que não tem filhos, pode ser uma das lideranças da escola do meu filho?’. Eu sentia isso.” No meio acadêmico, não foi diferente. “A gente percebe que algumas opiniões são mais autorizadas do que outras. Depende muito de quem está falando e de qual experiência e quais títulos essa pessoa tem na área”, afirma. “Então, muitas vezes, eu, como estudante, jovem, mulher, sei que o peso do que eu falo é menor do que o peso de outras pessoas que têm mais tempo de carreira e, geralmente, são homens brancos privilegiados.”

Rotina puxada na crise


Com as medidas de isolamento social, as aulas de Ana em Stanford estão sendo ministradas pela internet. “Eu tenho uma carga horária bem pesada de aulas remotas todos os dias. Fora isso, passo muito tempo estudando para as disciplinas ou fazendo trabalhos e atividades”, conta. “Então, acaba que eu fico entre seis a oito horas por dia no computador. Às vezes, fico até 10.” Ela só sai de casa para ir ao supermercado ou à farmácia e para fazer atividades físicas. Pelo menos uma vez por dia, faz caminhada “para respirar um pouco de ar puro”.

Na opinião da mestranda, o formato de aulas remotas tem sido cansativo, especialmente porque os alunos perdem a experiência universitária. “Só ficou a parte de conteúdo, leituras, trabalhos e provas”, justifica. “Como eu já estou terminando o curso, consigo lidar com essa situação de uma maneira melhor. Mas eu sinto muito pelos alunos que estão no primeiro ano de estudos, os que ainda têm mais um ano aqui ou até aqueles que vão entrar e estão nessa expectativa para saber como as aulas serão conduzidas.”


O “novo normal” para Ana Machado
“Acho que vai demorar um pouco até voltarmos aos padrões de normalidade de antes da pandemia. Acredito que teremos um período de transição. No começo, imagino que haverá várias restrições em termos do número de pessoas que podem acessar determinado lugar, para evitar aglomerações. Talvez lugares que geralmente concentram mais pessoas, como restaurantes, salas de aula, alguns tipos de comércio e cinema terão que fazer um revezamento, além de manter espaço maior entre as pessoas. Aqui na Califórnia, por exemplo, a gente está saindo da quarentena, mas é obrigatório usar máscara na rua. A gente também não pode acessar todos os lugares da maneira como acessava antes. Alguns comércios serão reabertos, mas outros vão continuar fechados por tempo indeterminado. Então, imagino que vai demorar um tempo até voltarmos aos padrões de convivência mais parecidos com o que tínhamos antes. Nesse período, também vamos usar mais tecnologias para trabalho e estudo, para evitar a exposição em espaços de convivência com muitas pessoas, como escolas, universidades e escritórios.”
 
 
Leia!

Nova colunista do Correio

Ana Machado entrou para o time de colunistas do jornal. A Coluna Saber estreou no site Eu, Estudante em 20 de maio e será publicada no site a cada 15 dicas, abordando educação em geral. O Trabalho & Formação Profissional abrigará outro enfoque da coluna: mensalmente, Ana Machado escreverá textos sobre educação profissional e de jovens e adultos para o caderno. Confira no próximo domingo (5/6) a estreia dela neste espaço. A Coluna Saber sairá nesta editoria a cada primeiro domingo do mês.

A ideia é compartilhar os conhecimentos adquiridos no mestrado em Stanford com os leitores do jornal. “Nós, que estamos na academia, na universidade, precisamos construir essa ponte para falar com diferentes pessoas. Se a gente não trouxer outras perspectivas para elevar o nível do debate, vamos só produzir conhecimento e ficar fechados em um grupo muito restrito de gente que é especialista e já entende do assunto”, reflete a estudiosa.


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