Correio Braziliense
postado em 31/05/2020 04:12
Desde criança, Anna Luísa Beserra, 22 anos, moradora de Salvador (BA), sonhava em ser cientista e mudar o mundo. Quando ainda estava no ensino médio, ela, que é formada em biotecnologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), teve uma ideia que a aproximou da concretização do sonho: ela começou a desenvolver um dispositivo que filtra água da chuva utilizando apenas a luz solar, chamado Aqualuz. A jovem queria ajudar a resolver o problema da seca, que afeta milhões de pessoas no Nordeste.
Na época, Anna Luísa inscreveu-se no Prêmio Jovem Cientista do CNPq (Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e, apesar de não ter ganho, persistiu com a ideia. Quando estava na universidade, fundou, junto a três colegas, a Safe Drinking Water for All (SDW), startup que desenvolve tecnologias hídricas. A equipe recebeu aceleração do programa Academic Work Capital (AWC), do Instituto TIM, que oferece apoio financeiro e técnico para estudantes que querem fundar uma startup de base tecnológica.
A partir daí, os jovens conseguiram aprimorar a tecnologia do Aqualuz. Em 2019, a iniciativa rendeu a Anna Luísa o prêmio Jovens Campeões da Terra, da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela foi a primeira brasileira a receber a condecoração. “O prêmio mudou praticamente tudo. Abriu muitas portas e fez com que a gente ganhasse reconhecimento internacional, fora a credibilidade de ter um selo da ONU”, comemora.
“Eu quis fazer algo que pudesse ser simples e viável. Nas minhas pesquisas, identifiquei que existiam inúmeras tecnologias para tratar a água, mas o principal entrave era justamente o fato de a tecnologia ser complexa e cara, com custo de manutenção mais alto ainda”, explica. O processo de filtragem no Aqualuz leva de duas a quatro horas, e o equipamento tem durabilidade de, em média, 20 anos. A manutenção pode ser feita de maneira simples pelo próprio usuário. A SDW já distribuiu água potável para mais de 250 famílias no semiárido brasileiro.
Para Anna Luísa, o apoio do programa AWC foi fundamental. “Um diferencial para a gente ter sobrevivido enquanto tantas startups não sobrevivem foi a dedicação aliada à busca de mentorias”, diz. “Com o apoio do AWC, a gente conseguiu fazer o protótipo do Aqualuz pela primeira vez, porque, até então, só tínhamos uma versão caseira.” Ela conta que continua em contato com os mentores. “Volta e meia a gente faz reunião de acompanhamento, pede conselhos e dicas. As mentorias servem para a vida toda.”
O “novo normal” para Anna Luísa Beserra
“As pessoas estão começando a se tornar mais conscientes sobre suas ações e o impacto ambiental delas. Espero que, no contexto pós-pandemia, elas comecem a exigir que as empresas tenham iniciativas de sustentabilidade, tanto ambiental quanto social e econômica, visando um futuro melhor para o planeta. Eu espero muito que as próximas gerações consigam mudar a percepção sobre nossa forma de estudar e trabalhar. Estamos vendo agora que, muitas vezes, não precisamos de nos deslocar para uma reunião, por exemplo. Podemos fazer isso via videoconferência, sem gastar combustível e tempo. Espero também que a gente consiga ter resultados satisfatórios nas vidas pessoal e profissional, dando mais importância ao tempo com a família.”
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