Trabalho e Formacao

Presidente do Ciee enviou a Bolsonaro propostas para superar a crise

Humberto Casagrande quer ajudar o país a sair do colapso que veio com a pandemia e, ao mesmo, auxiliar jovens em busca de emprego e empreendedores que perderam receitas

Ana Luísa Santos*
postado em 07/06/2020 14:38 / atualizado em 11/12/2020 16:07
O CEO do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), Humberto Casagrande, tem ideias audaciosas para orientar a recuperação econômica. Ele acredita que, se 1% do valor disponibilizado pelo orçamento federal para o combate ao novo coronavírus, cerca de R$ 600 bilhões, fosse destinado à Lei da Aprendizagem, em cerca de 60 dias, seria possível ter abertura de vagas. O impacto direto e indireto dos aprendizes na economia é de R$ 5,6 bilhões anuais, de acordo com levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), encomendada pelo Ciee.
 
 
A segunda ideia de Casagrande é a criação de títulos especiais de dívida pública, chamados de "coronabonds". A prerrogativa seria de emitir cerca de R$ 600 bilhões em títulos com vencimento em 20 anos e rendimento pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mais spread de 2,5% ao ano, retorno acima da curva de títulos públicos convencionais, o que despertaria interesse de investidores.

Juventude em colapso

Antes da pandemia causada pelo novo coronavírus, a situação de jovens procurando emprego já era crítica. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a taxa de desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos, no primeiro trimestre deste ano, ficou em 27,1%. Índice bem acima da média geral, de 12,2%, no país. De acordo com Casagrande, desde o início da pandemia, o contexto é de colapso.
"Piorou ainda mais. Em março deste ano, em comparação com março do ano passado, nosso número de contratos caiu 55%", conta ele. "Comparando abril deste ano com abril do ano passado, a queda foi de 85%", completa. "A situação dos jovens, que já não era boa, ficou desesperadora", analisa. "Nós, no Ciee, atendemos a 300 mil jovens, entre estagiários e aprendizes. Entretanto, temos uma fila de 3 milhões de outros buscando oportunidade", diz.

Na tempestade

Após a revogação da Medida Provisória (MP) nº 905/2019, que criava o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo e visava facilitar o emprego de jovens e pessoas acima de 55 anos, o Ciee resolveu sugerir planos para enfrentar o agravamento da crise.
"Visto que a MP da carteira verde e amarela foi revogada, e na ocasião, o governo afirmou que estava com recursos, orçados em R$ 10 bilhões para fazer isso, resolvemos encaminhar duas propostas para criação de outra medida provisória visando a geração de empregos: uma baseada na Lei de Aprendizagem e a outra, baseada na venda de títulos públicos", explica o presidente do Ciee.

Os projetos foram enviados ao presidente da República, Jair Bolsonaro, com cópia para o Ministério da Economia, mas o Ciee não obteve resposta até o momento. Para entender melhor as iniciativas, confira entrevista com Humberto Casagrande, engenheiro que trabalhou por 35 anos no mercado financeiro, tendo sido conselheiro da Bovespa, Bolsa de Valores de São Paulo. Quando se aposentou da área de investimentos, assumiu a presidência do Ciee.
Qual a ideia para a geração de emprego para jovens?
Seriam contratados 400 mil jovens para trabalhar em pequenas e médias empresas. O governo pagaria metade dos salários, e as empresas pagariam a outra metade. Como haveria esse subsídio, as organizações teriam grande interesse em contratar. Lembrando que esses contratos valeriam só por agora, neste momento de pandemia, e quem for contratado trabalharia nas empresas por dois anos. Tivemos a preocupação em não aumentar o deficit público na elaboração da proposta. Seria bom para os jovens e seria bom para o país também.
Quais vantagens essa iniciativa traria?
Se isso fosse feito, o governo gastaria apenas 60% do que estava pensando em gastar com a carteira verde e amarela, e nós estaríamos atingindo os mesmos objetivos. Então, teríamos todos os recursos para implementar essa medida imediatamente.
Como a proposta de venda de títulos públicos, no caso, os “coronabonds”, poderia ajudar neste cenário econômico em que nos encontramos?
Nós achamos que, para a criação de empregos, teríamos que ter condições econômicas melhores. Não adianta querer gerar emprego se, ao seu redor, está tudo destruído. Então, pensamos em uma maneira de diminuir esse sofrimento que nós estamos vivendo. Estima-se que o Brasil precisaria de R$ 300 bilhões a R$ 400 bilhões para atender aos três entes necessitados: estados e municípios, pessoas físicas e empresas. Nós achamos que o governo está querendo pagar à vista uma dívida que dá para quitar em 20 anos. Então, pensamos nesse título público, chamado de "coronabonds", que seria pago daqui a 20 anos, incorrendo juros de 2,5% ao ano mais a variação do IPCA. Assim, neste tempo, pagaríamos a dívida dessa desgraça que caiu sobre as nossas cabeças, não precisaríamos pagar à vista.
Por que isso despertaria interesse de instituições?
Existe muito interesse por parte dos bancos e dos investidores nisso também, porque há interesse de que as empresas não quebrem e as pessoas, também, para pagar o que devem e para a economia continuar funcionando. Então, todo mundo vai ter interesse em comprar esses títulos. Com essa tranquilidade, todo mundo ficaria em casa e respeitaria a quarentena.

Como funcionaria na prática?

O governo diz: "fique em casa, pare tudo". Então, tem que dar uma contrapartida, que não está sendo dada, que é repor o faturamento de pequenas e médias empresas, dar auxílio aos autônomos. É um custo que o governo tem que assumir, e isso teria que ser muito rápido. Por exemplo, um salão de beleza que faturasse R$ 15 mil por mês receberia essa quantia do governo com o valor aplicado pelos três meses parados, totalizando R$ 45 mil. Atenderia todo mundo que comprovasse a perda de dinheiro, e esses R$ 400 bilhões serviriam para isso.
 
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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