Trabalho e Formacao

Empresas devem tirar lições e traçar estratégias para o pós-pandemia

Com a pandemia, as empresas tiveram de se adaptar a uma nova realidade, com vários desafios. Muito se aprendeu e é preciso traçar estratégias adaptadas

Ana Luísa Santos*
postado em 12/07/2020 15:03 / atualizado em 07/11/2020 14:15
A pandemia trouxe variados impactos à vida em sociedade, forçando adaptações e também aprendizados na preparação para o novo normal. O que aconteceu com a vida pessoal também se aplica ao mundo laboral e ao contexto empresarial. Empreendedores e gestores tiveram de remodelar a forma de trabalho, seja adotando delivery ou o home office forçado, seja se reinventando para passar pela crise.
Em meio a um contexto de aumento de desafios e também de preocupações com a saúde, tanto física quanto mental, das pessoas, muito se aprendeu e especialistas concluem que várias das transformações abruptas de agora podem continuar no mundo pós-covid (se ele um dia existir). No entanto, para que as evoluções aceleradas de agora não se percam, é necessário planejamento, fundamental também para as corporações.
Estudo do diretor executivo da Infobase, André Miceli, em parceira com a pesquisadora Luciara Duque mostra que 80% das empresas devem repensar suas estratégias para vencer os impactos econômicos da crise gerada pelo novo coronavírus. Para isso, analisaram o antes e o depois de Black Swans — eventos raros, imprevisíveis e de alto impacto nos mercados financeiros —, como é o caso da covid-19.
O levantamento pondera que não é possível prever o futuro, mas, mesmo assim, é possível traçar táticas para se reinventar e se adequar ao que o novo normal reserva e, dessa forma, garantir sobrevivência no momento atual e também depois. E o planejamento estratégico é urgente. De acordo com Daniel Schwebel, gerente nacional da plataforma Workana, corporações que não se adaptarem ao novo normal muito possivelmente enfrentarão problemas agora e mais adiante e podem ir à falência.

Fique atento!

Modelo para entender o contexto

Ao traçar estratégias, Lucila Simão, CEO do Instituto Fenasbac, recomenda a adoção do modelo Cynefin, criado por Dave Snowden, e aplicável a qualquer empresa. O objetivo é ajudar gestores a compreender o ambiente organizacional em que se inserem e, a partir disso, tomar melhores decisões. Há contextos básicos em que a instituição pode estar com a desordem sendo a intersecção entre eles:
•  Simples
•  Complicado
•  Complexo
•  Caótico
•  Desordem
• Depois que se entende em que posição está a empresa, é possível considerar qual a melhor forma de agir, entender o padrão que as decisões costumam seguir e em que velocidade o contexto está mudando. O modelo Cynefin facilita a compreensão do impacto da crise e as ações necessárias a serem tomadas.
• Para entender como aplicar o modelo, assista a o vídeo do Instituto Fenasbac no link. A entidade também preparou uma playlist de vídeos sobre estratégias para além da crise. Acesse em: bit.ly/38ISVwO. Dúvidas podem ser tiradas pelo e-mail maysa@ifenasbac.com.br.

Repensando rotas

Traçar estratégias para além da crise pode ser determinante neste momento. As empresas que se organizarem e se prepararem desde agora estarão à frente daqui a alguns meses e terão muito mais possibilidades de se adequarem aos novos modelos de negócios. É no que acredita o Instituto Fenasbac, que atua em gestão corporativa, finanças e economia em Brasília, com foco em consultoria e treinamento para os setores público e particular.
Lucila Simão, CEO da instituição, considera que a única certeza que se tem no momento é a de que os negócios não serão mais como antes. O novo normal veio para ficar e está fazendo parte do cotidiano desde agora. “As estratégias que as empresas usavam antes de isso tudo acontecer não funcionam mais, porque o normal mudou. As formas como as pessoas se relacionam e trabalham, o local onde trabalham, o modo como vendem… Tudo isso mudou”, analisa.
"Então, se o cenário em que eu estou inserido não é mais o mesmo, a minha estratégia tem de mudar. O que eu fazia antes não vai funcionar agora nem no pós-pandemia", analisa. Lucila, que fez curso de negociação e resolução de conflitos na Universidade Harvard, defende a criação de um comitê de inovação e estratégia nas corporações para pensarem como os negócios conseguirão sobreviver na nova realidade ocasionada pela pandemia de covid-19.
"As empresas precisam de um modelo mental de situação de crescimento, de ter e fazerem coisas que nunca fizeram antes, pensar novas estratégias... É preciso criar um leque de estratégias que competem entre si, porque é preciso experimentar novas formas de fazer", recomenda. O momento é de testar. "É hora de colocar parte de uma estratégia concorrendo com outra e ver o que funciona. De acordo com os resultados, você investirá mais em uma do que em outra", ensina.
Para Lucila, o que havia antes da pandemia em termos de transformações era muito discurso e pouca prática, sendo que a crise trouxe a emergência da mudança. "Sem dúvida, vamos ter legados imensos. Coisas que já fazem parte do nosso dia a dia e não nos imaginávamos sem… A pandemia fez o futuro chegar mais rápido", avalia. "O trabalho remoto veio para ficar. A empatia com o outro também vem sendo muito vivida. Os propósitos das empresas estão sendo resgatados, a preocupação com a colaboração é essencial e legítima. O mundo foi tomado com uma consciência maior da interconexão, da interdependência e das novas formas de fazer", diz.

Empresas humanizadas

"As empresas que se apoderarem disso, ou seja, as que utilizarem empatia com seus colaboradores, que fizerem essas pessoas se sentirem incluídas e pertencentes terão um retorno sensacional lá na frente. Agora, as instituições que não humanizarem suas relações não darão certo, estão fadadas a não se adequarem à nova normalidade"  Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade
"As empresas que se apoderarem disso, ou seja, as que utilizarem empatia com seus colaboradores, que fizerem essas pessoas se sentirem incluídas e pertencentes terão um retorno sensacional lá na frente. Agora, as instituições que não humanizarem suas relações não darão certo, estão fadadas a não se adequarem à nova normalidade" Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade (foto: CKZ Diversidade/Divulgação)

Durante este momento de isolamento social gerado pela pandemia do novo coronavírus, observa-se nas empresas várias lições colocadas em prática. Entre elas, a humanização nas relações de trabalho. Períodos de dificuldades e crise fazem com que líderes e gestores repensem estratégias com base nas transformações ocorridas neste tempo. Neste novo cenário, nota-se maior empatia e caridade, maior quantidade de doações sendo feitas, tanto por pessoas individualmente, quanto por empresas.
Com tudo isso, a tolerância e o respeito estão em alta. Quando se pensa em diversidade e inclusão, é necessário entender que o posicionamento institucional da corporação deve estar totalmente alinhado para receber e acolher todas as pessoas, entendendo que experiências e culturas distintas podem gerar uma troca relevante para a companhia, ocasionando mudanças internas e externas.
Para Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada em inclusão e diversidade, o erro de muitas instituições durante a crise sanitária foi deixar de lado a temática, priorizando emergências financeiras. No entanto, ela defende que pensar estrategicamente neste período envolve, sim, fortalecer ainda mais essas ações. "Muitas empresas estão deixando de lado o tema da diversidade, mas ela é totalmente prioritária", aponta.

Olhar flexível

"As pessoas não sabem muito bem o que é inclusão. Primeiro, diversidade inclui todos. Inclusão é ter um ambiente em que as pessoas se sintam incluídas. Todas as pessoas precisam se sentir valorizadas e engajadas, isso é muito importante. É fundamental a gente ter essa postura inclusiva", afirma. Professora da Fundação Dom Cabral, Cris observa que profissionais mais jovens buscam por vagas em empresas que estão abertas à diversidade e que tenham uma cultura inclusiva.
Vários integrantes das novas gerações entendem que uma companhia com valores reais nesse sentido também prioriza o colaborador. "Esse olhar flexível para as mudanças nas corporações se faz necessário, já que é uma estratégia cada vez mais indispensável para reter os profissionais", analisa. Cris é enfática ao dizer que as empresas que não se adaptarem ao novo normal tendem a ficar para trás.
"As que se apoderarem disso, ou seja, as que utilizarem empatia com seus colaboradores, que fizerem essas pessoas se sentirem incluídas e pertencentes terão um retorno sensacional lá na frente. Agora, as instituições que não humanizarem suas relações não darão certo, estão fadadas a não se adequarem à nova normalidade", alerta. O conselho que ela deixa para lideranças é se abrir neste momento tão complicado.
"Mostrar vulnerabilidade está sendo importante, principalmente para os líderes, mas não no sentido de mostrar fraqueza, mas no sentido de indicar que não se sabe de tudo. Isso cria conexões mais fortes e verdadeiras, cria o pertencimento. Esse processo colaborativo, em que você mostra vulnerabilidade, fortalece a confiança, fortalece o time. O líder que mostra vulnerabilidade é corajoso", orienta.

Pessoas no centro

"Os passos adotados (para priorizar as pessoas) foram liderar pelo exemplo, priorizar formatos de colaboração, trabalhar com ciclos curtos de avaliação-planejamento-ação e adaptação do que é preciso ao longo do percurso"  Juliano Primavesi, CEO da KingHost
"Os passos adotados (para priorizar as pessoas) foram liderar pelo exemplo, priorizar formatos de colaboração, trabalhar com ciclos curtos de avaliação-planejamento-ação e adaptação do que é preciso ao longo do percurso" Juliano Primavesi, CEO da KingHost (foto: KingHost/Divulgação)

A pandemia obrigou a adaptação à nova realidade. Para isso, instituições desenvolveram novas relações de trabalho, decidiram que ferramentas utilizar na nova rotina por causa do isolamento social, e, além disso, aprenderam a levar motivação aos seus colaboradores virtualmente. Juliano Primavesi, CEO da KingHost, conta que, desde o início da pandemia, a empresa preocupou-se em adotar medidas de segurança e apoio para os funcionários
Fundada em 2006 em Porto Alegre, a firma oferece hospedagem de sites compartilhada, computação em nuvem e serviços de servidor de nome de domínio. A fim de ajudar os trabalhadores durante a crise, a direção da companhia resolveu manter as pessoas e não a tecnologia no centro. "Os passos adotados para isso foram liderar pelo exemplo, priorizar formatos de colaboração, trabalhar com ciclos curtos de avaliação-planejamento-ação e adaptação do que é preciso ao longo do percurso", explica Juliano.
A KingHost atentou-se ainda mais para os cuidados com a saúde mental. De acordo com Juliano Primavesi, a empresa vem adotando medidas para que as pessoas se sintam mais tranquilas, mesmo neste momento complicado que estamos vivendo. "Nós estamos utilizando um aplicativo focado na saúde mental dos colaboradores, e isso tem contribuído bastante. Além disso, estendemos a nossa preocupação às famílias, distribuímos máscaras e deixamos as pessoas levarem os equipamentos do escritório para casa", diz.
Assim, para Juliano, é possível manter as práticas que importam a todos, como comunicação transparente e frequente, integridade nas relações, benefícios voltados ao bem-estar, além de buscar oportunidades de convergência com o propósito de simplificar o uso da tecnologia para cultivar parcerias. Quando pensa em traçar estratégias para o momento pós-pandemia, o CEO afirma que um dos maiores aprendizados que vai levar desta crise é o trabalho remoto.
"Pensávamos na implementação do home office a longo prazo, mas a pandemia fez com que tivéssemos que nos adaptar mais rapidamente. É algo a que pretendemos dar continuidade. Isso possibilitou, ainda, a contratação de profissionais que não são do Sul do país: vimos que é possível e vamos continuar", revela.

Crescendo apesar da crise

"Tenho certeza de que quando tudo isso terminar, sairei com a convicção de que dá para ter uma empresa distribuída, com pessoas de vários lugares do mundo e que tenha uma cultura forte e coerente"  Manoela Mitchell, CEO da Pipo Saúde
"Tenho certeza de que quando tudo isso terminar, sairei com a convicção de que dá para ter uma empresa distribuída, com pessoas de vários lugares do mundo e que tenha uma cultura forte e coerente" Manoela Mitchell, CEO da Pipo Saúde (foto: Pipo Saúde/Divulgação)

Fundada por Manoela Mitchell, Vinicius Correa e Thiago Torres, a Pipo Saúde é uma startup de gestão de benefícios que nasceu com o objetivo de otimizar e facilitar a relação do RH de empresas com planos e benefícios de saúde. Atualmente, a empresa faz o gerenciamento de serviços para 3 mil pessoas e planeja chegar a mais de 10 mil até o fim de 2020.
Com o avanço da pandemia no Brasil, a startup notou crescimento na busca pelo primeiro plano de saúde empresarial. Manoela Mitchell, CEO da Pipo Saúde, afirma que o número de clientes quase dobrou. "Desde a pandemia, crescemos cerca de 100%. Então, para nós, apesar de ser um momento delicado economicamente para o país, temos percebido uma demanda crescente, com dois tipos de clientes: empresas buscando o primeiro plano; e empresas querendo otimizar os custos", pontua.
Sobre os aprendizados que esse período de pandemia trouxe para a empresa, a mestre em finanças pela ESC Toulouse acredita que eles possam ser heranças positivas a serem incorporadas no cenário pós-pandêmico. "O principal aprendizado foi a importância de se comunicar. A gente também percebeu a importância do convívio social e entendeu como as pessoas, eventualmente, ficam mais psicologicamente suscetíveis por se sentirem muito sozinhas, por exemplo, o que pode trazer perda de produtividade", descreve.
"A gente tem feito várias pesquisas como um termômetro da empresa e tem agido de maneira mais proativa com pessoas que moram sozinhas para ficarmos mais próximos delas", conta. Manoella não achava que uma empresa trabalhando totalmente remota, pelo menos nos primeiros anos, poderia dar certo, o que se provou equivocado. "O mercado de trabalho vai mudar muito", decreta.
 "Eu acho que um aprendizado muito importante, que eu particularmente não achava que era possível há um tempo, é o trabalho distribuído", diz. "Falei algumas vezes, quando comecei a empresa, que eu achava que, neste começo, era muito importante a gente estar respirando o mesmo ar, todos juntos para construir a empresa", relata. "Tenho certeza de que, quando tudo isso terminar, sairei com a convicção de que dá para ter uma empresa distribuída, com pessoas de vários lugares do mundo e que tenha uma cultura forte e coerente", conclui. 

Adaptação remota

O home office é uma tendência natural do pós-pandemia, mas ele precisará vir acrescido da flexibilidade que a crise sanitária impede. Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade, vê como necessário que os colaboradores possam escolher trabalhar em casa ou no escritório, em vez de ter o formato retomo como única opção, como anunciaram recentemente grandes marcas como Facebook e Twitter. Ela explica que isso é importante, pois "seres humanos são naturalmente sociais e emocionais".
Há muito do que se implementou na crise que pode e deve ser melhor utilizado. Pesquisa da startup Pulse concluiu que 78% dos brasileiros se sentem mais produtivos trabalhando remotamente. Outro estudo, do Capterra, software da consultoria Gartner, detectou que, para 70% dos gerentes, as empresas poderiam funcionar em seu pleno potencial com uma equipe totalmente remota.
Para muitas pessoas e organizações, esta foi a primeira experiência com teletrabalho e, por isso mesmo, o modelo trouxe mais desafios do que se tivesse sido um passo planejado. Mesmo assim, há bons resultados a se considerar e que podem ser pesados ao pensar no futuro dos trabalhadores e das empresas. Gerente da plataforma Workana no Brasil, Daniel Schwebel, explica que o que estamos vivendo neste período não são as condições do tradicional home office.
"Estamos em isolamento forçado, somos obrigados a trabalhar 100% dentro de casa, sem a opção de escolher entre ir para o escritório ou ficar em casa", diz. Mesmo para quem já estava acostumado ao modelo, a pandemia traz desafios únicos. "Eu trabalho em home office há oito anos. Para mim, sempre foi muito gostoso trabalhar remotamente porque eu sabia que minha esposa estava trabalhando e minha filha estava na escola. Isso era o home office", diferencia.
Com a crise sanitária, o teletrabalho integrou-se ainda mais à cultura corporativa da Workana, plataforma fundada em 2012 para conectar profissionais freelancers da América Latina. Com sede em Buenos Aires, na Argentina, e escritórios em São Paulo e Kuala Lumpur, na Malásia, a empresa tem uma base com mais de 3 milhões de trabalhadores cadastrados.
"(Com o home office) tem um ganho também de custo, pensando no transporte que é pago ao funcionário, do gasto que se tem ao manter um escritório com mesas, telefonia, iluminação e pessoal da limpeza, por exemplo"  Daniel Schwebel, country manager da Workana
"(Com o home office) tem um ganho também de custo, pensando no transporte que é pago ao funcionário, do gasto que se tem ao manter um escritório com mesas, telefonia, iluminação e pessoal da limpeza, por exemplo" Daniel Schwebel, country manager da Workana (foto: Workana/Divulgação)
Mais de 30 mil projetos são publicados todos os meses na plataforma, desenvolvida para consolidar e disseminar o formato remoto e freelancer, à medida que as barreiras convencionais de relações de trabalho se transformam a cada dia com os avanços da tecnologia. Mesmo que o teletrabalho de agora não necessariamente seja o ideal, gerando resistência e aversão por parte de alguns, é importante considerar que as dificuldades não vêm, necessariamente, do formato remoto, mas, sim, do que a pandemia forçou.
Os que souberem olhar para isso estrategicamente poderão aproveitar a experiência abrupta atual para planejar bem o futuro. Pós-graduado em gestão de negócios e valorização de empresas, Daniel Schwebel afirma ser muito provável que mais firmas adotem o trabalho remoto no cenário pós-pandemia. O modelo será muito mais naturalizado.

Ganhos do home office

"A maioria das pessoas em home office forçado, mesmo as que nunca tiveram essa experiência, está conseguindo ser mais produtivas, e há estudos mostrando isso", aponta. Será mais enraizado compreender que trabalhar de casa não equivale a trabalhar menos, pelo contrário! Firmas poderão optar por migrar para o modelo pensando em eficiência, tanto de tempo e de trabalho, quanto financeira.
"Tem um ganho também de custo, pensando no transporte que é pago ao funcionário, do gasto que se tem ao manter um escritório com mesas, telefonia, iluminação e pessoal da limpeza, por exemplo", elenca Daniel. Ele acredita que as empresas devem sair fortalecidas desta crise no que diz respeito às relações de trabalho e vê no home office uma ferramenta de retenção de talentos.
"Estudo da consultoria Meta Quadrix mostrava que, antes da pandemia, a rotatividade de empregados nas empresas que ofereciam trabalho remoto era de 20%, quase metade do índice das que não ofereciam”, diz. Assim, a falta de presença física não enfraquece a relação com a firma, pelo contrário. “As pessoas acabam tendo uma sensação de ter um vínculo mais forte com a empresa", analisa.

O poder das soft skills: habilidades ganham força

Daniel Schwebel, gerente nacional da Workana, avalia que as empresas que querem se destacar no pós-pandemia e superar a crise estão traçando estratégias desde agora para isso. "Eu tenho visto várias grandes empresas trazendo treinamento para que cada pessoa consiga trabalhar melhor as habilidades socioemocionais, mais relacionadas à resiliência, à flexibilidade, à autoconfiança e à autodisciplina", elenca.
"É preciso treinar o profissional para ele se adaptar a esta nova realidade, para se preparar para o amanhã, porque o amanhã já está muito parecido com o hoje", pontua. A pandemia trouxe muitos aprendizados, de acordo com Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade. Talvez o mais importante seja aproximação entre times e gestão. "Um aprendizado muito forte na estratégia das empresas é que a liderança precisa entender que ela tem o poder de contagiar emocionalmente a equipe, e isso é muito forte", explica.
"Os líderes precisam entender que eles impactam o estado emocional dos colaboradores o tempo inteiro", observa. Uma estratégia que Cris vê como muito importante no cenário pós-pandemia é o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, principalmente por parte de quem ocupa cargos de gestão. "Hoje, as empresas ainda estão muito focadas em competência técnica", aponta.
"Mas a parte comportamental é fundamental para gerar esse sentimento de pertencimento, para o profissional se sentir valorizado. E isso, as pessoas terão que desenvolver", constata a mestra em sustentabilidade e idealizadora de fórum de diversidade e inclusão que ajuda corporações a construírem ambientes mais diversos e inclusivos, tornando-as mais inovadoras e sustentáveis. 
 
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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  • "(Com o home office) tem um ganho também de custo, pensando no transporte que é pago ao funcionário, do gasto que se tem ao manter um escritório com mesas, telefonia, iluminação e pessoal da limpeza, por exemplo" Daniel Schwebel, country manager da Workana Foto: Workana/Divulgação
  • "As estratégias que as empresas usavam antes de isso tudo acontecer não funcionam mais, porque o normal mudou" Lucila Simão, CEO do Instituto Fenasbac Foto: Instituto Fenasbac/Divulgação
  • "As empresas que se apoderarem disso, ou seja, as que utilizarem empatia com seus colaboradores, que fizerem essas pessoas se sentirem incluídas e pertencentes terão um retorno sensacional lá na frente. Agora, as instituições que não humanizarem suas relações não darão certo, estão fadadas a não se adequarem à nova normalidade" Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade Foto: CKZ Diversidade/Divulgação
  • "Os passos adotados (para priorizar as pessoas) foram liderar pelo exemplo, priorizar formatos de colaboração, trabalhar com ciclos curtos de avaliação-planejamento-ação e adaptação do que é preciso ao longo do percurso" Juliano Primavesi, CEO da KingHost Foto: KingHost/Divulgação
  • "Tenho certeza de que quando tudo isso terminar, sairei com a convicção de que dá para ter uma empresa distribuída, com pessoas de vários lugares do mundo e que tenha uma cultura forte e coerente" Manoela Mitchell, CEO da Pipo Saúde Foto: Pipo Saúde/Divulgação