Correio Braziliense
postado em 19/07/2020 04:09
Uma série de fraudes envolvendo o currículo levou Carlos Decotelli a deixar o Ministério da Educação antes mesmo da cerimônia de posse como ministro, no fim do mês passado. O caso gerou grande repercussão, mas a prática de mentir no histórico acadêmico ou profissional é mais comum do que se imagina. De acordo com pesquisa da consultoria DNA Outplacement, 75% dos brasileiros escrevem informações falsas ou distorcidas no CV.
Na esfera pública, as fraudes também não são raras: personalidades políticas como a ex-presidente Dilma Rousseff, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, tiveram informações desmentidas. De acordo com Lucas Oggiam, diretor da Page Personnel, empresa global de recrutamento, a maioria das pessoas que mentem no currículo fantasia atributos porque acredita que a prática não afetará ninguém.
No entanto, ele explica que o preço da desonestidade pode ser alto, pois deixa uma mancha permanente na imagem. “Situações como a do ex-ministro (da Educação) nos mostram como nossa vida profissional e as informações que a gente passa para outras pessoas precisam ser levadas a sério, porque é nossa reputação que está na reta”, afirma o consultor, graduado em negócios internacionais pela Liberty University, na Virgínia (EUA).
“A mentira pode até supostamente beneficiar em curto prazo, mas a médio e longo prazos, ela costuma ser muito danosa para a carreira”, acrescenta. Segundo Lucas Oggiam, “mentir no currículo é a pior escolha que um profissional pode fazer em sua carreira”. Jefferson Kiyohara, professor de ética e compliance da FIA Business School, explica que, muitas vezes, o profissional inventa habilidades para assumir determinada vaga e acaba sendo eliminado justamente pela postura antiética de mentir no currículo.
Chance desperdiçada
Kiyohara recorda-se de um processo seletivo que a ICTS Protiviti, empresa da qual é diretor, apoiou. “A vaga não exigia conhecimentos avançados ou fluência em inglês, mas o candidato colocou isso no currículo. Por outro lado, a honestidade era muito importante, porque a oportunidade seria para trabalhar no programa de ética da companhia”, relata.
“Na entrevista, deixei bem claro que não era necessário ter fluência em inglês e perguntei se esse era realmente o nível de proficiência do candidato, o qual disse que sim. Avisei, então, que iria testá-lo, e ele não demonstrou nem conhecimento básico no idioma”, relembra. Kiyohara conta que levou a situação à empresa contratante e a companhia recusou o profissional por causa do ocorrido. “Foi uma pessoa que perdeu a oportunidade de estar empregada porque mentiu no currículo.”
75%
Índice de brasileiros que mentem no currículo
Fonte: DNA Outplacement
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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