Trabalho e Formacao

Há níveis diferentes de gravidade?

Correio Braziliense
postado em 19/07/2020 04:09
Jefferson Kiyohara, professor de ética e compliance

Será que todas as mentiras no currículo são vistas da mesma forma pelos recrutadores? De acordo com Lucas Oggiam, diretor da Page Personnel, a resposta é não. “Mentiras sobre os lugares por onde você passou, posições e certificados que obteve são encaradas de forma muito mais grave pelo recrutador do que mentiras que são potencialmente um engano de percepção”, argumenta.

Ele explica que, em se tratando de habilidades que dependem de autoavaliação, o candidato pode se confundir. “Quando uma pessoa coloca no currículo que tem inglês avançado, você vai testar e ela diz que está meio enferrujada, você entende que ela pode ter se enganado em vez de mentido. Ok, faz parte da vida. A gente aceita isso”, exemplifica.

“Agora, no caso de uma questão mais técnica, um certificado, um diploma ou algo do tipo, não tem como você se enganar. Essa parte não é questionável. Essas mentiras, sem dúvida, pesam mais sobre o candidato”, elucida. Na avaliação de Jefferson Kiyohara, graduado em administração de empresas pela Universidade de São Paulo (USP), eticamente, não há distinção entre níveis de mentira.

No entanto, ele admite que, embora continue sendo antiético, “é até compreensível (para o recrutador) quando a pessoa tenta subir um pouco a régua, do tipo: estudou sete anos de inglês, tem um conhecimento avançado e diz que é fluente ou, então, alguém que tem conhecimento intermediário de Excel e coloca no currículo que tem plenos conhecimentos”. De acordo com o diretor da ICTS Protiviti, geralmente, as pessoas “maquiam” o currículo não por engano, mas para buscar um status que elas não têm.

“Muitas vezes, o candidato quer compensar algo que entende ser uma injustiça. Ele pensa: ‘Puxa, eu sou a pessoa perfeita para essa vaga, mas não atendo a determinado requisito’. Por isso, a pessoa não hesita em fazer esse tipo de ajuste.” O professor de ética e compliance da FIA Business School alerta que os processos seletivos precisam ser transparentes em ambos os lados. “A gente sabe, também, que muitas empresas colocam requisitos que não fazem o menor sentido para aquela posição. Isso, também, acaba induzindo algumas pessoas a buscar uma valorização do currículo.”


"Não há distinção entre níveis de mentira, mas é até compreensível quando a pessoa tenta subir um pouco a régua, tipo: estudou sete anos de inglês, tem conhecimento avançado e diz que é fluente”
Jefferson Kiyohara, professor de ética e compliance



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