Correio Braziliense
postado em 19/07/2020 04:10
O paulista Muhammad Puncha, 36 anos, usou um recurso um tanto quanto inusitado para conseguir emprego — ele omitiu, no currículo, o mestrado em educação tecnológica e a experiência como gestor em uma empresa. Isso porque os recrutadores sempre falavam que ele era “muito qualificado” para as vagas*.
“Eu terminei meu mestrado em 2011 e, em 2013, aceitei a proposta de assumir um cargo de gestão em uma empresa de software, em São Bernardo dos Campos. Só que, cerca de um ano depois, o trabalho não estava indo bem. Eu não estava feliz e decidi pedir demissão”, relembra o pedagogo.
Muhammad retornou para a cidade natal, Araraquara, onde começou a procurar emprego, mas teve muita dificuldade. “As contas vinham e eu não tinha o que fazer. Os bicos não estavam dando conta de pagar as despesas. Então, comecei a distribuir meu currículo para tudo quanto foi lugar”, relata. “Só que, quando tinha retorno, a resposta era esta: estamos procurando uma pessoa que está começando agora e que não vai abandonar o cargo assim que conseguir outro”, acrescenta.
“Foi quando eu percebi que eu precisava mudar o CV porque, se eu colocasse toda minha experiência, eu nunca seria chamado.” Foi assim que Muhammad conseguiu emprego como caixa de um supermercado, onde ficou por alguns meses, até passar em um concurso público para ser professor da educação infantil da rede municipal de Araraquara. Atualmente, ele também faz mestrado em ciências sociais na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Análise de um recrutador
Lucas Oggiam, diretor da Page Personnel, empresa global de recrutamento, avalia o porquê de, muitas vezes, profissionais qualificados demais para a vaga não serem chamados.
“Historicamente, a pessoa que aceita uma posição mais baixa do que ela tinha antes, no momento em que receber uma proposta similar à anterior, vai aceitar. Então, não é porque os recrutadores não acreditam no interesse da pessoa naquela posição. É porque ele sabe que o risco de perder uma pessoa no período de seis a 12 meses é alto. E o desafio do recrutamento não é só fazer com que o candidato entre na empresa, mas que ele se mantenha.”
"As contas vinham e eu não tinha o que fazer. Os bicos não estavam dando conta de pagar as despesas. Então, comecei a distribuir meu currículo para tudo quanto foi lugar. Só que, quando tinha retorno, a resposta era esta: estamos procurando uma pessoa que está começando agora e que não vai abandonar o cargo assim que conseguir outro”
Muhammad Puncha, professor de educação infantil
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