VidaEscolar

Conectada com os sonhos

Para motivar os estudantes, escolas precisam apresentar percursos de aprendizagem alinhados aos anseios deles

Bruna Lima - Especial para o Correio, Mariana Niederauer
postado em 13/01/2019 03:00
Giovanna, filha de Carla, deseja que a escola seja um espaço de troca de ideias
O desafio de motivar os estudantes em sala de aula não é novidade na educação. As formas de se alcançar esse objetivo é que são cada vez mais discutidas. E a resposta está justamente em buscar aquilo que tanto se exige dos alunos e dos jovens que ingressam no mercado de trabalho: inovação. O primeiro passo pode parecer abstrato e exige exercício de reflexão e esforço de reinvenção de currículos e práticas pedagógicas. Trata-se da conexão da escola com os sonhos dos alunos.
Helena Singer, líder de Juventude para a América Latina da Ashoka, organização sem fins lucrativos que busca reconhecimento para agentes de transformação positiva na sociedade, observa várias dimensões possíveis quando se fala em sonhos. No caso de estudantes do ensino médio, por exemplo, ajudá-los a refletir sobre em que área profissional pretendem atuar é uma delas.
Outra conexão possível, e que pode permear toda a educação básica, é o que eles gostam e almejam para a comunidade em que estão. Atender a todos esses anseios, levando em consideração as diferentes fases do ensino e as personalidades de cada aluno, é o grande desafio da atualidade. ;Tudo isso se traduz numa outra estrutura de escola, de currículo, de gestão do tempo e de espaço;, diz.
Na visão dela, a escola precisa ensinar quatro características básicas: a empatia, ou seja, compreender a perspectiva do outro, para pensar com ele uma solução comum; compartilhar habilidades; ser capaz de em determinados momentos liderar e, em outros, saber ser liderado; e ser criativo, pensar soluções inovadoras para problemas que são cada vez mais agudos.

Significados


Para o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luciano Meira, as escolas precisam desenhar estrategicamente um conjunto de percursos de aprendizagem que tenha conexão mais próxima com o significado da construção do conhecimento. Essa atitude tem como objetivo corrigir um problema secular, que consiste em não mostrar para o jovem significado naquilo que ele faz. ;É um abandono afetivo, físico e intelectual.;
Algumas diretrizes gerais ajudam escolas e professores nesse processo. A primeira delas é a necessidade de contextualizar a aprendizagem. Nesse sentido, trabalhar com o desenvolvimento de projetos é uma das possibilidades ; uma construção coletiva, por meio de pesquisas com fontes diversificadas, resolução de problemas e diálogo com outros colaboradores.
O que também não pode ficar de fora desse planejamento é a dimensão do prazer, que determina a qualidade do engajamento. O uso de estratégias de gamificação ; técnicas de design de jogos ; pode ajudar, segundo Meira. ;A engenharia didática não pode ser desligada do circuito de afetos da escola. Se a pessoa não se sente bem, não tem prazer em estar ali e sofre bullying o tempo todo, também não vai adiantar;, ressalta. ;Não existe aprendizagem unicamente cognitiva. Cognição e emoção estão entrelaçadas;, resume.
O professor, que é sócio-fundador da edtech Joy Street, empresa de tecnologias educacionais lúdicas instalada no Porto Digital de Recife, vai além, e explica que toda a aprendizagem é um fenômeno dialógico. ;Você precisa estabelecer trocas. Com um professor, com um aluno e até com um livro;, avalia. Toda essa mudança de paradigmas necessita, é claro, do apoio dos pais. ;Pesquisas demonstram que a participação das famílias no contexto escolar é fator determinante para o sucesso dos alunos;, aponta. Para contar com esse suporte, no entanto, é preciso comprovar os resultados.

Debate

menina, ramo de flores e portão de escola ao fundo Um ambiente mais interativo e que dê poder de fala aos alunos é o que a estudante Giovanna Carvalho, 12 anos, mais sente falta no processo de aprendizagem. ;É difícil o aluno ser incluído no momento em que o professor dá aula. A escola precisa ser um lugar de debate, onde a gente possa realmente expressar nossa opinião, ter liberdade de argumentar;, opina.
Para a mãe de Giovanna, a jornalista Carla Carvalho, 39, é necessário aproveitar esse momento de reforma na educação para promover uma mudança de postura dos educadores e revitalizar os métodos de ensino. ;Os professores têm que deixar de lado as metodologias massantes do copia e cola, do eu falo e você decora e, no fim, aplicar uma prova que define toda a avaliação. É preciso focar na formação de profissionais e cidadãos preparados para a vida, sem esquecer do caráter humanitário e colaborativo.;
Para assistir
O documentário Nunca me sonharam, apresentado pelo Instituto Unibanco e produzido pela Maria Farinha Filmes, retrata os desafios do presente, as expectativas para o futuro e os sonhos de quem cursa o ensino médio em escolas públicas brasileiras. O filme está disponível em plataformas de streaming ; lista completa em www.videocamp.com/pt/movies/nuncamesonharam.

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