VidaEscolar

Todos por um

Aprendizagem colaborativa contribui não só na aquisição de conhecimento, como também para a autoestima dos alunos, que trabalham juntos em sala de aula

Danilo Queiroz - Especial para o Correio
postado em 13/01/2019 02:50
Aprendizagem colaborativa contribui não só na aquisição de conhecimento, como também para a autoestima dos alunos, que trabalham juntos em sala de aula
Incentivar os alunos a interagirem em sala de aula e exporem suas experiências para colaborar com o próprio aprendizado e com o de toda a turma. Com base nesse preceito, a aprendizagem colaborativa vem ganhando cada vez mais espaço nos ambientes escolares. Todo o processo é realizado com o professor na posição de intermediador. Os estudantes formam grupos em busca de um objetivo estabelecido.
A metodologia propõe que os alunos construam o conhecimento coletivamente, a partir da interação com os pares e com o professor, que passa a ser uma figura de orientação. A aprendizagem colaborativa não está restrita à sala de aula e tem no uso da tecnologia um aliado. Com redes sociais e serviços de mensagens instantâneas, por exemplo, os estudantes podem interagir, compartilhar informações e construir trabalhos de forma colaborativa.
;É perceptível que um conteúdo passa a ser melhor compreendido quando transmitido de aluno para aluno. Eles utilizam diversas estratégias interessantes para ensinar os colegas, como por meio de vídeos e jogos eletrônicos. Outro ponto relevante é a interdisciplinaridade. Os próprios estudantes precisam abordar outros professores para chegar ao objetivo;, observa o professor Leandro Amorim, mestre em geografia.
À frente de projetos que colocam em prática os conceitos da aprendizagem colaborativa com alunos de ensino médio em um instituto do Paraná, Amorim descreve que existem dificuldades que devem ser superadas no processo de adaptação das propostas. ;Tem a resistência por parte de alguns deles ao método. Normalmente, isso acontece com quem tem menos afinidade com o conteúdo;, pontua. ;Porém, existe um ganho pedagógico considerável. Eles passam a associar sua vida com os estudos e dentro da linguagem deles;, acrescenta.

Podendo ser aplicado em diversos contextos, o método colaborativo é uma opção para aumentar a interação de alunos que cursam o ensino fundamental e o médio. No processo, o educador faz toda a intermediação, tendo a função de conduzir os trabalhos em torno de um objetivo estabelecido e construído em conjunto. ;Existem várias metodologias interessantes, como a sala de aula invertida, a aprendizagem entre pares, o método Montessori, entre outros, em que o aluno se torna protagonista da construção do ensino;, cita Ricardo Fragelli, professor do Departamento de Engenharia da Universidade de Brasília (UnB).
Fragelli enumera os diversos benefícios que a aprendizagem colaborativa pode oferecer para crianças e adolescentes. ;Quando o método é implementado em séries do ensino fundamental, ele apresenta bons resultados. É muito mais fácil aplicar a metodologia durante o 4; ou o 5; anos do que com jovens adultos. Os alunos ficam motivados por se ajudarem mutuamente em prol da melhoria de um grupo;, destaca o professor, que ainda cita a melhora da autoestima como um fator positivo.

Equipe


Em um ambiente educacional em que a cultura de conquistas individuais está enraizada, o especialista lembra ainda a necessidade de desenvolver senso de equipe, empatia, valorização e compartilhamento dos saberes. ;Há alunos que não sentem afinidade com nenhum grupo. Por serem tímidos, eles se isolam e diminuem o gosto pela escola. Um dos pontos principais do método é afastar os alunos do isolamento. O principal resultado que observo é a redução drástica no sentimento de solidão, que seria um dos passos para o quadro de depressão;, continua.
O professor da UnB desenvolveu uma metodologia colaborativa que aumentou em 95% o índice de aprovação na disciplina de Cálculo 1. No método trezentos, todo o aprendizado é realizado em grupos e o objetivo principal é proporcionar a colaboração. ;A ideia é ter melhorias por meio de metas. A metodologia cria grupos a partir de resultados de avaliação. As equipes não são feitas por afinidade e, sim, por potencial de colaboração;, explica.
Para saber mais
12 pontos centrais da aprendizagem colaborativa
  • Ambiente educacional centrado no aluno
  • Professor visto como um orientador
  • Aprendizagem proativa e investigativa
  • Interação e troca de experiências
  • Ênfase na aplicabilidade
  • Aprendizagem em grupo
  • Transformação
  • Desenvolvimento do senso de trabalho em equipe
  • Melhoria substancial na autoestima
  • Aprimoramento da comunicação
  • Melhoria nos relacionamentos interpessoais
  • Aprendizagem prática em vez de memorização teórica

Ensino híbrido

Sala de aula invertida e videoaulas estão entre as estratégias usadas por escola pública no Ceará
Baseada no conceito de trabalho colaborativo, a escola pública Divina Providência, no Ceará, desenvolveu um projeto com sala de aula invertida para ensinar o conteúdo de língua portuguesa a estudantes do 4; e 5; anos do ensino fundamental 1. Responsável por ministrar as aulas da disciplina na instituição, a professora Daniela Dotti implementou o recurso de ensino híbrido para auxiliar o aprendizado.
Na educação, o modelo consiste na mistura de diversos métodos de ensino presenciais e on-line, com o objetivo final de melhorar a experiência do estudante dentro da sala de aula, o que pode ocorrer por meio de videoaulas, salas de aula invertidas e outros meios de aprendizagem colaborativa. Nas atividades, Daniela organiza os estudantes da turma em pequenos grupos. Com a divisão feita, cada uma das equipes realiza uma tarefa correlacionada com os objetivos propostos. Tudo é feito com o apoio de tablets e computadores.
;Existe uma integração entre o trabalho colaborativo, o uso de tecnologias e o fato de aprenderem por desafios. As aulas invertidas ou trabalho com rotação por estações é essencial para os estudantes adquirirem conhecimento de um jeito prático. Eles aprendem em conjunto e no próprio ritmo;, ressalta. ;O ensino híbrido proporciona esses momentos de troca de experiências. A aprendizagem também fica mais significativa, por existir um objetivo em comum a ser alcançado por todos os membros do grupo;, continua a professora.
Toda a proposta de ensino, ressalta a docente, foi montada para seguir a característica da proposta pedagógica da escola, de levar ao aluno a responsabilidade pelo próprio ensino, à percepção do poder de transformação, ao autoconhecimento, à compreensão da realidade, ao respeito à diversidade e a se identificar como ser social e histórico. ;É função do educador oferecer ao aluno situações em que ele encontre desafios diversificados. O método vem se mostrando bastante consistente e já colhemos resultados positivos;, completa Daniela.

O que é sala de aula invertida?

Como o próprio nome indica, a metodologia propõe uma inversão completa do modelo de ensino tradicional. Nela, os alunos estudam o conteúdo das aulas em casa e vão à escola para tirar dúvidas sobre os temas e fazer exercícios. O principal objetivo é gerar aulas menos expositivas, com mais produção e prática, visando o engajamento dos alunos e a otimização do uso do tempo e do conhecimento do professor.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação