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Mudança na prática

Prazos para a implementação da Base Nacional Comum Curricular começam a vencer no próximo ano. Um dos principais desafios está nas mãos dos professores

Bruna Lima - Especial para o Correio, Mariana Niederauer
postado em 13/01/2019 01:20

Francisco Thiago Silva diz que os planos de ensino precisarão ser adaptados

Superados os desafios de consolidar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), agora é a vez de os sistemas de ensino e, essencialmente, de os educadores, protagonizarem o processo de implementação. Pela primeira vez na história do país, um referencial curricular dispõe, na forma de lei, sobre o compromisso de promover a educação integral do aluno, alcançando todas as dimensões do desenvolvimento humano ; cognitivo, social, emocional, físico e cultural.

;A educação no Brasil passa a ter uma concepção de desenvolvimento integral e, para isso, define competências gerais que devem ser profundamente adquiridas pelos estudantes ao longo da educação básica. Com isso, a Base expande os objetivos das escolas para garantir a formação de pessoas para a vida, e não só para incorporar conhecimentos acadêmicos. O mais importante, agora, é conseguir fazer com que o professor rompa com a lógica conteudista;, avalia a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido.

Ao definir e direcionar, por meio de 10 competências gerais, o que deve ser trabalhado em sala de aula, a BNCC busca garantir que o aluno aprenda um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para conseguir enfrentar problemas e desafios do mundo contemporâneo.

Mas como fazer para que toda essa concepção seja, de fato, implementada? Para Anna Penido, os esforços devem se concentrar em várias instâncias. ;É necessário reunir agentes com conhecimentos, experiências e contextos diversos. Professores empenhados em estudar e implementar práticas pedagógicas mais ativas e interdisciplinares; um corpo docente conectado e trabalhando de forma colaborativa; uma direção comprometida em criar clima e infraestrutura para que a escola abrace a nova proposta; um Estado que promova políticas públicas que ajudem no processo. Como diz um provérbio africano: ;É preciso toda uma tribo para educar uma criança;;, afirma.

Para além do espírito de corresponsabilidade, a diretora de Tecnologias Educacionais do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Maria Amabile Mansutti, acrescenta que, para garantir a aprendizagem plena, é necessário um estudo aprofundado do texto da Base. ;O documento deve acompanhar o educador. Mas é uma compreensão rasteira supor que o texto define tudo. Pelo contrário, a Base precisa ser esmiuçada e decifrada para direcionar os currículos, mas as metodologias, os projetos são desenvolvidos levando em conta, também, o contexto de cada região, escola, sala de aula;, alerta.

Preparação

Por mais que as diretrizes estejam traçadas, a sensação de despreparo por buscar o novo ainda é uma barreira a ser vencida. ;Tivemos a oportunidade de criticar e organizar, com ampla participação de conselhos, especialistas, professores e educadores. Foi o melhor documento que o Brasil conseguiu produzir. Então, é preciso dar um voto de confiança e colocá-lo em prática. Estamos no processo de mudança, de atualização e, aos poucos, virão mais orientações, materiais e plataformas, auxiliando os próximos passos para só depois avaliar e reajustar, conforme as novas necessidades que surgirem;, afirma Maria Amabile.

O professor adjunto da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE/UnB) Francisco Thiago Silva, especialista em currículo e formação de professores, explica que, além de se apresentar como um documento norteador para a elaboração dos currículos escolares, a BNCC se estrutura como um documento curricular. Por isso, exigirá das instituições de ensino que mudem o planejamento e a maneira de avaliar as aprendizagens.

Crítico do resultado final do documento, ele acredita que um dos principais desafios dos professores será alinhar as Diretrizes Curriculares Nacionais à Base, às experiências exitosas das escolas, às demandas de mercado e ao perfil de saída dos alunos, ou seja, aos requisitos de aprendizagem para cada etapa do ensino.

;Isso tudo tem que ser pensado e, a longo prazo, teremos que rever a formação dos professores;, avalia. ;Depois desse alinhamento de documentos, de redes, trazendo a Base para o centro da organização pedagógica, cada escola vai ter que alinhar os projetos político-pedagógicos ao que a BNCC determina;, completa. Ainda na avaliação dele, será preciso adaptar os planos de ensino e os planos de aula dos docentes, além de promover estudos sistemáticos para mensurar os resultados da implementação.


Para saber mais

Aprendizagens essenciais

A BNCC é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica no Brasil, nas redes de ensino pública e privada. Até 2020, deve ser implementada a Base da educação infantil e do ensino fundamental. No ano seguinte, é o prazo para colocar em prática o documento do ensino médio. A BNCC é responsável pela definição de 60% dos conteúdos que devem ser ensinados em sala de aula. O restante consiste na parte diversificada, definida pelos sistemas estaduais, municipais e pelas próprias escolas.

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