Jornal Correio Braziliense

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No Fórum Alternativo, indígenas se mobilizam contra a privatização da água

Tribos temem que Aquífero Guarani, uma das maiores reservas subterrâneas de água do Brasil, seja privatizada


Das diversas comunidades que compareceram ao primeiro dia do Fórum Mundial Alternativo da Água (Fama), neste sábado (17/3), as tribos indígenas foram as que mais se destacaram. Índios de praticamentes todas as unidades da Federação estiveram na Universidade de Brasília (UnB), e demonstraram as suas preocupações quanto ao futuro da água para as tribos mais carentes.

;A nossa situação é complicada. Nós que vivemos no Nordeste, e já passamos quase sete anos sem chuvas, sabemos o que é a falta de água e a necessidade dela. Às vezes, temos que andar distâncias enormes, com baldes na cabeça, para buscar alguma coisa. Já vimos animais morrendo, e crianças, mulheres e idosos implorando por água. Sabemos o valor da água, e ver grandes corporações, que já estão milionárias, tirando o nosso bem-estar é uma falta de respeito enorme;, desabafou Taponoyê Xukuru, da tribo Xukuru do Ororubá, de Pernambuco.

Atualmente, a situação do Aquífero Guarani, uma das maiores reservas subterrâneas de água do mundo e a segunda do Brasil, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão, é o que mais preocupa as comunidades indígenas do país. ;Ela banha 100% das terras indígenas Guarani no Brasil. Se ocorrer alguma concessão no futuro, vai ser um desastre. É a única fonte de água potável que temos;, lamentou Paulo Karai, da tribo Guarani, de São Paulo.

Oito estados abastecidos

O aquífero está presente em oito estados brasileiros: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Segundo Taponoyê, mesmo os indígenas de outras localidades lutam pelo aquífero. ;O aquífero não fica em Pernambuco, mas é um bem de todo o povo brasileiro. A partir do momento em que sobrevivemos e dependemos daquela água, é um direito nosso defendê-la, independentemente do estado. Enquanto indígena, eu tenho que defender a natureza brasileira. Nós nos preocupamos com o futuro;, disse.

Segundo Paulo, sua comunidade, com quase 15 mil índios, já sofre com alguns impactos. ;Nós sentimos as mudanças. Existem explorações irregulares, o que já é um risco, porque está contaminando a água. O aquífero não é mais 100% limpo. A água está ficando imprópria para consumo;, comentou. Na sua opinião, participar do Fama pode auxiliar as comunidades que dependem do aquífero.

;Estamos lutando há anos para o acesso à água. Ela pertence à toda população. Quando temos a possibilidade de estar em um evento assim, onde existem pessoas não-indígenas dentro da sociedade que também têm essa preocupação, ganhamos mais força e ânimo para lutar pela defesa desse patrimônio;, destacou.