Game Over

Heavy Rain: suspense envolvendo os crimes de um serial killer é contado como um filme

postado em 04/05/2010 07:00
O francês David Cage passou a última década produzindo games que passam longe do convencional. Eles têm narrativa e fotografia idênticas às de um filme, mas precisam de alguém no controle para definir os rumos da história, como em qualquer jogo. A mais nova criação da Quantic Dream ; empresa da qual Cage é fundador e diretor executivo ; é Heavy Rain, situado na fronteira entre o videogame e o cinema.

Como em toda vez que se fala de um filme, não é bom estragar as surpresas relacionadas à história. Mas pode-se dizer o seguinte de Heavy Rain: o game gira em torno dos crimes cometidos pelo Assassino do Origami, um serial killer conhecido por sequestrar crianças. Elas são encontradas depois de mortas, com um origami nas mãos. A trama é contada do ponto de vista de quatro personagens.

O principal é Ethan Mars, um arquiteto que vê sua vida desabar após perder o filho mais velho, Jason, em um acidente de carro. Deprimido e separado da mulher, ele precisa salvar o segundo rebento, Shaun, que foi sequestrado pelo Assassino do Origami e está prestes a se tornar a próxima vítima. A busca pela identidade do infanticida acaba atraindo os outros três personagens: a fotógrafa Madison Paige, o agente do FBI Norman Jayden e o investigador particular Scott Shelby.

Protagonista Ethan Mars deve passar por provações para salvar a vida do filho, raptado pelo Assassino do Origami

O game é dividido em diversos capítulos em que o jogador se alterna no controle dos protagonistas. Nas cenas mais importantes e até nas banais, o jogador interage cumprindo os comandos que aparecem na tela. Às vezes, basta apertar um botão ou girar a alavanca direcional. Em outras, é preciso pressionar um número certo de teclas. Quando não se tem o controle dos personagens, a participação se limita a apertar ou a segurar botões no momento certo. Normalmente são sequências mais rápidas, como uma perseguição de carros ou uma troca de socos.

O resultado é único, bem diferente do costumeiro na maioria dos jogos, e só não agrada totalmente pela estranha movimentação dos personagens dentro do cenário. É preciso apertar um dos botões da parte de cima do controle para fazer a pessoa andar e usar o direcional para movimentá-la, como ela se fosse um carro de corrida.

No início, o jogo prende mais pela curiosidade em relação à jogabilidade do que pela diversão propriamente dita. Comparado com a trama de um filme, Heavy Rain demora até ficar interessante. Entre investigações e perseguições, o jogador fica preso a atividades monótonas, como escovar os dentes, lavar o rosto ou tomar um copo d;água. No entanto, à medida que os quatro se aproximam de seus objetivos, o jogo apresenta momentos tensos, de deixar qualquer um com o coração na mão, sobretudo nas partes relativas a Ethan, nas quais ele passa por diversas provações para descobrir a localização de seu filho.

O suspense aumenta mais porque o jogo sobressai ao transmitir as emoções dos personagens. Raiva, tristeza, desespero, angústia, medo, tédio; tudo o que eles sentem é compartilhado tão bem ; e a qualquer hora, o que jogador pode saber o que eles estão pensando apertando um botão ; que suas motivações acabam dando impulso ao próprio jogador, ultrapassando até a vontade de descobrir quem é o Assassino do Origami.

Isso poderia ainda ser melhor se o game não tivesse buscado tanto realismo nos gráficos. As texturas têm bastante polimento e as movimentações são convincentes, mas as expressões dos personagens caem no vale sinistro (1). É comum que os personagens tenham feições sonolentas até mesmo quando estão alegres ou com raiva.

Escolhas
Por trás do amontoado de comandos, Heavy Rain é um jogo de escolhas. Ele sempre dará a oportunidade de apertar os botões certos para fazer o personagem desviar de um caminhão, mas, se o jogador não quiser, não precisa fazê-lo. Se um dos personagens morre, o jogo continua sem ele, com as devidas consequências de sua ausência. Até quando os quatro morrem, a trama tem um fim apropriado. A história está acima de tudo no game, até mesmo do próprio jogador.

Sendo assim, o jogo tem uma série de finais, e como você chegará neles depende de cada escolha feita ao longo do caminho. O mais interessante é que as decisões são mais sutis do que em outros games com esse tipo de característica. Mesmo assim, após passar por uma cena, é fácil distinguir quais caminhos o jogador teria ; e, por isso, existe a opção de jogar apenas determinados segmentos, como quem escolhe ver apenas o capítulo de um filme em DVD. No entanto, para observar encerramentos diferentes, é preciso jogar tudo de novo, com decisões diferentes.

Mascarado por largas doses de linguagem cinematográfica, Heavy Rain traz uma experiência diferente como jogo, por mostrar que a história continua mesmo quando não se completa o que é pedido. Não se trata de um game incrível, tampouco de um ótimo filme, mas mistura elementos das duas mídias de uma forma interessante por aliar interatividade com emoção de forma única.

1 - Nem tão realista
Denominado na década de 70 pelo especialista em robótica Masahiro Mori, o vale sinistro (em inglês, uncanny valley) é um termo que, nos games, serve para mostrar quando os gráficos se aproximam muito da realidade, mas não a ponto de parecerem completamente realistas, principalmente no que diz respeito às expressões faciais. O problema também é recorrente em animações fotorrealistas do cinema, como O expresso polar e Beowulf.

Heavy Rain
  • Produção: Sony Computer Entertainment
  • Desenvolvimento: Quantic Dream
  • Disponível para Playstation 3
  • Número de jogadores: 1 (apenas single-player)
  • Preço: R$ 199

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