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Deputado João Campos mostra precisão, mas derrapa em dado da Arena Pernambuco

O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

Da Equipe Holofote
postado em 28/02/2019 15:12
Deputado federal João Campos (PSB-PE)
Em entrevista aos jornalistas Leo Cavalcanti, Denise Rothenburg e Simone Souto ao programa CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, o deputado federal João Henrique Campos (PSB-PE) comentou o papel do partido na oposição ao governo federal, a reforma da Previdência, o acidente aéreo do pai, Eduardo Campos, a tragédia em Brumadinho, em Minas Gerais, o superfaturamento na Arena Pernambuco e o ensino integral no país. A entrevista do engenheiro civil de 25 anos foi dada na quarta-feira (27/2). Confira a checagem do Holofote para algumas respostas dadas pelo parlamentar:


"Enquanto isso, a gente tem mais de 2 milhões de jovens que não estão nas escolas, nós temos 11,8 milhões de analfabetos no Brasil, 38 milhões de jovens e adultos analfabetos funcionais, que é um problema histórico no Brasil, mas a gente não vê o governo discutindo isso"

O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

Vamos por partes. Primeiro, é difícil precisar qual faixa etária o termo "jovens", usado pelo deputado, define. Por isso, buscamos estudos diferentes. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) 2016, pouco mais de 2 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos não estudavam.

Já de acordo com o documento do 2; Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação (PNE), elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 1,95 milhão de crianças ainda estão fora das escolas. O estudo considera também o período de 2016.

Uma matéria do início de 2018, veiculada no Bom Dia Brasil (TV Globo), cita 2,1 milhões de crianças e adolescentes fora da escola. A reportagem cita o IBGE como fonte da informação, mas sem apontar qual pesquisa específica.

Os dados são muito parecidos e mostram que o deputado acertou, ou ao menos chegou bem perto. Observação: se jovens de 18 a 29 anos que também não estudam forem incluídas na conta, então, o número sobre para 24,8 milhões.

Na segunda parte da afirmação, o deputado João Campos chegou bem perto: a PNAD Contínua 2017 aponta que o Brasil tem 11,5 milhões de analfabetos.

Na questão do analfabetismo funcional, o deputado acertou em cheio: são 38 milhões de pessoas, entre 15 e 64 anos, no país. O número é medido pelo Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional 2018, medido pelo Ibope Inteligência e desenvolvido pela ONG Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro. O Correio noticiou o dado.

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"A Polícia Federal fez um bom trabalho de investigação e chegou a quatro hipóteses (para o acidente aéreo do pai, Eduardo Campos). (...) Entre as quatro hipóteses que foram levantadas pela Polícia Federal, que sejam admitidas que elas existiram: uma é a falha humana possível; a segunda é uma colisão ou possível colisão com pássaros; e as outras são duas falhas mecânicas, uma referente ao estabilizador e a outra ao profundor, que são duas peças da aeronave"

O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

De fato, o relatório final da investigação da Polícia Federal sobre a morte do então candidato à Presidência da República Eduardo Campos, em 2014, apontou quatro hipóteses para o acidente aéreo em Santos (SP). Segundo reportagem da Agência Brasil, "o documento aponta que a queda do avião ocorreu, de maneira isolada ou cumulativa, pelas seguintes razões: colisão com pássaros; desorientação espacial por parte dos pilotos; possibilidade de disparo de compensador de profundor; ou uma pane com travamento de profundor em posições extremas."

Na quarta-feira, mesmo dia da entrevista do deputado federal João Henrique Campos ao CB.Poder, o Ministério Público Federal arquivou o inquérito por não ser possível determinar as causas do acidente, em 13 de agosto de 2014. Além de Eduardo Campos, mais seis pessoas morreram na queda da aeronave.

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"A minha pretensão política é de dar conta dessa missão que o povo me deu, de Pernambuco. Ter sido o deputado federal mais votado da história do nosso estado não é tarefa fácil"


O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

João Campos recebeu 460.387 votos, equivalentes a 10,63% dos votos válidos, o que, de fato, o torna o deputado federal mais votado da história de Pernambuco. A informação pode ser conferida no site do TSE: nas seções da eleição de 2018, na qual ele foi eleito, e nas anteriores desde 1994.

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"A gente tem de evitar, a gente de proibir que esse método construtivo (barragem de rejeitos ou a montante) seja feito no nosso país. Ele já é proibido em alguns países. Países onde têm terremoto, por exemplo, como o Japão e o México, você não pode construir nesse método"

O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

O método construtivo citado pelo deputado João Campos, de fato, é proibido em alguns países, e não é recomendado em países com histórico de terremotos. No Chile, por exemplo, esse tipo de barragem não pode ser construído desde a década de 1960, como mostram as matérias da Folha de S. Paulo e da revista Exame.

Até a publicação desta verificação, o Holofote não havia conseguido confirmar se o método construtivo é proibido especificamente no México e no Japão.

Atualizado em 28/02/2019, às 18h47

O Holofote procurou a assessoria do deputado João Campos (PSB-PE) para saber qual era a fonte da declaração dada na entrevista. A resposta foi a seguinte:

"Chile e Peru, países com a incidência de terremotos, têm a proibição do modelo.

O Japão e o México realmente não têm proibição.

De fato, houve uma falha nos exemplos citados, mas o Japão, por exemplo, é um país com ocorrências de rompimento de barragem em relação ao modelo de alteamento a montante, inclusive por incidência de terremoto. Mas, fica registrado o fato de que esse modelo de alteamento a montante é verdadeiramente proibido em países com histórico de terremoto, como é o caso do Chile e Peru.

No Japão, em função de um terremoto, houve o rompimento da barragem japonesa de Mochikochi n;1, em 14 de janeiro de 1978. *Modelo de alteamento a montante"


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"São 84 barragens com esse mesmo método no Brasil, e elas têm de ser descomissionadas. Não basta ser desativada. Brumadinho estava desativada"

O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

Nota explicativa da Agência Nacional de Mineração (ANM), divulgada em 15 de fevereiro de 2019, 21 dias após a tragédia em Brumadinho (MG), confirma a existência de "84 barragens construídas a montante ou com método construtivo desconhecido na PNSB, onde destas, 43 são classificadas como de alto dano potencial, ressaltam essa urgência."

A nota faz o alerta para o risco desse tipo de construção usado em larga escala entre as décadas de 1970 e 1990 e orienta que "todas essas barragens terão até 15 de agosto de 2021 para concluir o descomissionamento ou a descaracterização da barragem." A barragem de Brumadinho, como mencionou o deputado João Campos, estava desativada desde 2015.

A tragédia na Região Metropolitana de Belo Horizonte matou 189 pessoas, segundo balanço divulgado na quarta-feira (27/2). Outras 126 permanecem desaparecidas.

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"A Arena Pernambuco foi a arena mais barata, por assento, do Brasil, de todas as arenas"

O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

O Holofote analisou números fornecidos pelo próprio governo federal e pela Pluri Consultoria. Em termos absolutos, a afirmação está longe de ser verdade. De acordo com dados do governo federal, a Arena Pernambuco gastou R$ 532,6 milhões e foi o oitavo estádio mais caro construído/reformado para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, entre 12 obras.

Mesmo se for considerada a equação entre custo total e o número de assentos, a Arena Pernambuco, com 46.154 lugares, não aparece em primeiro lugar. O estudo da Pluri Consultoria, feito pouco antes da Copa, aponta que cada cadeira no estádio teve o preço de US$ 6.378 mil, na verdade, o sétimo mais barato entre os campos brasileiros. De acordo com os valores divulgados pelo governo federal, a Arena Pernambuco aparece como a sexta mais barata entre os 12 estádios, com o custo de R$ 11.539,62 por assento.

Mas há um problema: os custos divulgados pelo governo federal, pelo governo pernambucano e pelo Tribunal de Contas do Estado são diferentes. O primeiro aponta um total de R$ 532,6 milhões; o segundo, de R$ 479 milhões; e o terceiro, de R$ 389,4 milhões. A diferença vem da suspensão de pagamento ao consórcio da Odebrecht, por suspeita de superfaturamento. Se for considerado somente o último valor, cada cadeira da Arena Pernambuco saiu por R$ 8.436,97. Mesmo assim, fica somente na terceira colocação: o Beira-Rio (R$ 7.307,29) e o Castelão (R$ 8.133,24) ocupam os dois primeiros lugares.

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"A gente (Pernambuco) tem 52% dos alunos da rede em escola de tempo integral. O segundo estado que mais tem é São Paulo, e não tem 10% dos alunos"

O parlamentar do PSB de Pernambuco acertou cinco das sete informações verificadas pelo Holofote

O deputado não acertou na mosca o dado informado na entrevista ao CB.Poder por causa de uma leve imprecisão. Consultada pelo Holofote, a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informou "que a modalidade integral de ensino contempla 57% dos estudantes matriculados no ensino médio da rede e é a maior do País. São 412 unidades de ensino na modalidade, sendo 368 Escolas de Referência em Ensino Médio (EREMs) e 44 Escolas Técnicas Estaduais (ETEs), distribuídas em todos os municípios do Estado."

Confira a entrevista completa:

[VIDEO1]

Checagem de Ana Carolina Fonseca, Guilherme Goulart, Igor Silveira e Leonardo Meireles

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