Da Equipe Holofote
postado em 23/04/2019 14:00 / atualizado em 14/09/2020 18:56
Influenciador digital e ex-morador de Miami, nos Estados Unidos, Luis Miranda (DEM/DF) surpreendeu nas urnas e elegeu-se deputado federal com mais de 65 mil votos. Com mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, o parlamentar participou do programa CB.Poder de quarta-feira (17/4), parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, e foi entrevistado pelos jornalistas Leo Cavalcanti, Rodolfo Costa e Gláucia Guimarães. O programa ultrapassou os 30 minutos habituais na tevê aberta e seguiu em transmissão no Facebook.
Confira a checagem do Holofote:
"A empresa Huawei está presente no Brasil há 20 anos. 70% de todas as antenas de telecomunicação do Brasil são da empresa Huawei. Quase 100% do cabeamento de fibra ótica no Brasil é da empresa Huawei"
Em relação aos números apresentados pelo deputado federal Luis Miranda sobre a empresa chinesa Huawei, há dados corretos, exagerados e subestimados.
De fato, a multinacional de equipamentos para redes e telecomunicações sediada na cidade de Shenzhen está há 20 anos no Brasil. A data foi celebrada com uma visita do presidente da empresa, Howard Liang, ao país em 6 de junho do ano passado. Ele participou dos eventos de comemoração do 20; ano da Huawei no Brasil e discursou no Digital Transformation Summit.
O segundo dado, de que 70% de todas as antenas de telecomunicação do Brasil seriam da Huawei, a porcentagem é ainda maior. De acordo com reportagem do Uol, de dezembro de 2018, "das mais de 86 mil estações rádio base (ERBs) em operação no Brasil, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), cerca de 70 mil foram fabricados pela Huawei. Isso quer dizer que 81% das antenas de celular têm o DNA da chinesa. Esses equipamentos são os responsáveis por transmitir sinal 2G, 3G e 4G a smartphones".
Já dizer que quase 100% do cabeamento de fibra ótica do país é da multinacional chinesa é exagerado. De fato, a empresa chinesa tenta dominar o mercado de fibra ótica do Brasil, mas a estratégia faz parte de um planejamento.
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"A China é o maior parceiro brasileiro. É um país que nós temos superavit de R$ 30 bilhões. Nós temos, aí, uma negociação de R$ 120 bilhões em parceria com a China. É o nosso maior parceiro econômico"
De fato, A China é a maior parceira comercial do Brasil no mundo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE), a "China atingiu a sua maior participação como destino das exportações brasileiras, 26,8%, o que resultou numa diferença de mais de 10 pontos percentuais em relação ao segundo parceiro os Estados Unidos, responsável por 12% das vendas externas do Brasil. O terceiro principal parceiro, a Argentina, reduziu a sua participação de 8,1% para 6,2% entre 2017 e 2018."
Além disso, no fim de 2018, a previsão de superavit comercial brasileiro com a China variava entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões.
Outro número fornecido por Luis Miranda pôde ser confirmado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC) em outubro de 2018. À época, o presidente da entidade, Charles Tang, afirmou: "Acredito que economistas tão capazes como Paulo Guedes vão entender que os US$ 120 bilhões que a China investiu no Brasil nos últimos anos ajudou a manter empregos e atenuar a crise econômica".
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"Nós (Brasil) temos a maior carga tributária do consumo no mundo"
Pelo menos dois levantamentos mostram que o parlamentar do DF errou. Em maio de 2018, a OSP Contabilidade divulgou um levantamento sobre as maiores cargas tributárias do mundo. O Brasil aparece na 14; colocação. Em primeiro, aparece a Dinamarca.
Essa colocação, no entanto, não quer dizer que o brasileiro pague poucos tributos. Segundo a Jusbrasil, "cerca de 35% do PIB Brasileiro são pagos em tributos, um percentual alto, porém menor que de diversos países europeus tais como Dinamarca, Suécia, Noruega e outros que pagam mais de 40% do PIB em tributos."
Atualização em 24 de abril, às 15h50
Após a publicação desta checagem, a assessoria de Comunicação do deputado Luis Miranda entrou em contato com o Holofote para mostrar o estudo usado pelo parlamentar para afirmar que o Brasil tem a maior carga tributária do mundo.
Levantamento feito pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) e pela Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), que inclui mais de 40 especialistas em tributos no Brasil, resultou no lançamento do documento-síntese " ; Justiça fiscal é possível: subsídios para o debate democrático sobre o novo desenho da tributação brasileira".
Nele, há uma tabela que especifica o caráter regressivo da tributação brasileira, colocando o país na primeira colocação na carga tributária mundial a partir das bases de incidência. Confira:
Diante disso, o Holofote optou por trocar a etiqueta inicial ; Pisou na bola ; para Quase lá, uma vez que os estudos apresentados durante a checagem também devem ser levados em conta.
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"Eu não respondo a nenhum processo criminal. Nenhum. Zero. Eu nunca fui condenado. Sou réu primário"
Na página Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há várias certidões de nada consta enviadas pelo parlamentar nas eleições do ano passado. Segundo os documentos, Luis Miranda não tem pendências com Justiça Eleitoral, filiação partidária, Tribunal Regional Federal da 1; Região e Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Também não há nenhuma condenação ou processo criminal aberto contra o parlamentar eleito pelo DF.
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"Quando você fala num cara famoso igual o Luis Miranda, que tem 4 milhões de seguidores somados em suas redes na internet, o que você está ganhando? Popularidade"
Luis Miranda tem 4.207.504 mil seguidores, somando Facebook, Twitter, Youtube e Instagram.
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"Estima-se que, na periferia de Brasília, por exemplo, onde mais precisa gerar emprego, hoje, temos 40% de desemprego"
De acordo com Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED/DF), realizada pela Secretaria de Trabalho, Codeplan, Dieese e em parceria com a Fundação Seade, o total de desocupados em regiões mais periféricas alcança 47%, um pouco além do informado pelo deputado.
O levantamento é de fevereiro de 2019. E separa o DF em quatro áreas. O Grupo 4 refere-se a regiões de baixa renda e registrou taxa de desemprego de 25,6%. O Grupo 3, restrito a regiões de média e baixa renda, a proporção de desocupados chegou a 21,4% ; portanto, o total é de 47% nessas áreas.
O Grupo 1 abrange regiões de alta renda. E o Grupo 2, regiões de média e alta renda.
Checagem de Ana Carolina Fonseca e Guilherme Goulart