Holofote

Oscilante, ministro do Meio Ambiente escorrega em dados de agrotóxicos

Mesmo assim, Ricardo Salles acertou 'Na mosca' duas de cinco verificações feitas pelo Holofote

Guilherme Goulart
postado em 10/07/2019 15:35
ministro Ricardo Salles no CB.PoderO CB.Poder dessa quarta-feira (10/7), parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, recebeu o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Entrevistado pelos jornalistas Denise Rothenburg, Gláucia Guimarães e Leonardo Cavalcanti, ele respondeu a questionamentos sobre gestão de resíduos, uso de agrotóxicos no campo e fontes de energia.

Confira a checagem do Holofote:

"80% dos brasileiros de todas as regiões, inclusive na Amazônia, vivem nas cidades"

QUASE LÁ

O estudo ;Identificação, mapeamento e quantificação das áreas urbanas do Brasil;, realizado pela Embrapa Gestão Territorial, mostra que o ministro Ricardo Salles cometeu uma leve imprecisão no dado apresentado durante a entrevista. Segundo a pesquisa, 84,3% da população brasileira ; e não 80% ; vivem nas áreas consideradas urbanas. Essas regiões representam menos de 1% do território nacional (0,63%) e abrigam 160 milhões de pessoas. O levantamento, divulgado em 2017, levou três anos para ser concluído e surgiu a partir da observação de imagens de satélite.

Detalhes do estudo podem ser conferidos aqui.
_________________________________________________________________________

"Se você olhar a cidade de São Paulo, que é a cidade mais rica do Brasil e que tem um sistema do lixo caótico, ela terá uma solução possível, no curto prazo, diferente de uma cidade pequena no interior de algum estado. É outra lógica"

NA MOSCA

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2017, a cidade de Sâo Paulo é, de fato, a mais rica do país. O estudo leva em conta a participação do município no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Nesse caso, o PIB de São Paulo é de R$ 650,5 bilhões (10,85% no total), seguido pelo do Rio de Janeiro, de R$ 320,7 bilhões (5,35%). Brasília aparece na terceira colocação, com R$ 215,6 bilhões de PIB, ou seja, 3,60% do PIB nacional.

_________________________________________________________________________

"Os países da Europa utilizam muito mais defensivos por hectare, quilos de defensivo por hectare do que o Brasil, muito mais. Não é um pouco mais. É muito mais. Holanda, França, vários"

CALMA AÍ

Levantamento feito pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2019, mostra que o ministro tropeçou em algumas informações dessa resposta. De acordo com o estudo, o Brasil está na 44; posição no ranking de uso de defensivos agrícolas, com 4,31kg de agrotóxicos por hectare cultivado em 2016.

De fato, portanto, o país utiliza menos defensivo do que Países Baixos ; ou Holanda ; (9,38kg/ha), Bélgica (6,89kg/ha), Itália (6,66kg/ha), Montenegro (6,43kg/ha), Irlanda (5,78kg/ha), Portugal (5,63kg/ha), Suíça (5,07kg/ha) e Eslovênia (4,86kg/ha).

A França, citada pelo ministro como país europeu que usaria mais agrotóxico do que o Brasil, aparece na 48; colocação, ou seja, atrás do Brasil, assim como Alemanha e Espanha. Dessa forma, segundo ranking da FAO, esses países europeus usam menos veneno na lavoura do que o Brasil.

_________________________________________________________________________

"O Brasil não só continua no Acordo de Paris, como vem cumprindo todos os seus compromissos assumidos, a NDCs. Vem cumprindo integralmente. Está muito bem nas metas de redução de gás de efeito estufa, biocombustíveis, fontes renováveis de energia"

NA MOSCA

No fim de 2018, relatório da Organização das Nação Unidas (ONU) concluiu que os países do G20, bloco do qual o Brasil faz parte, precisavam triplicar os esforços para controlar as emissões de gases do efeito estufa. O documento avaliou que metade dos membros não alcançou as chamadas metais incondicionais, entre eles Argentina, Austrália, Canadá, União Europeia, República da Coreia, Arábia Saudita, África do Sul e Estados Unidos.

Porém, de acordo com o relatório, o Brasil, além de China e Japão, estão no caminho para cumprir as metas até 2030, como informou o ministro ao CB.Poder.

Neste link, é possível conhecer com detalhes as metas estabelecidas para o Brasil no Acordo de Paris.
_________________________________________________________________________

"84% da nossa energia, 80 e poucos por cento, é energia renovável, limpa, ao contrário da Europa"

QUASE LÁ

Mais uma vez, o ministro do Meio Ambiente usou dados corretos e também imprecisos em uma mesma resposta. De fato, o Brasil é modelo mundial em energia renovável. Em 2015, a então presidente do Conselho Mundial de Energia Renovável, Angelina Galiteva, confirmou na mosca a informação dada por Ricardo Salles de que "84% da matriz energética brasileira são de fontes renováveis, com ênfase para as hidrelétricas". A entrevista de Angelina foi dada ao jornal O Globo.

Essa porcentagem, no entanto, tende a crescer no país. Em junho de 2018, por exemplo, o Boletim de Monitoramento do Sistema Elétrico apontou que "fontes renováveis responderam por quase 88% da energia gerada" naquele mês. As informações estão em publicação da Agência Brasil.

Em comparação com a Europa, o Brasil está bem à frente, como disse o ministro. Mas o Velho Continente tem dado passos importantes rumo à utilização de recursos renováveis. Segundo o guia das estatísticas europeias Statistics Explained, do site da Eurostat, na região, "mais concretamente, a quota de energia proveniente de fontes renováveis no consumo final bruto de energia quase duplicou nos últimos anos, de cerca de 8,5%, em 2004, para 17%, em 2016."

As informações completas podem ser conferidas aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação