Holofote

Fake news de doação de livros faz brasilienses perderem viagem ao Ibama

Mensagem compartilhada no WhatsApp desinforma que o órgão estaria dando livros e que obras que restassem seriam incineradas, mas notícia é falsa

Alan Rios
postado em 07/08/2019 16:18
Mensagem compartilhada no WhatsApp desinforma que o órgão estaria dando livros e que obras que restassem seriam incineradas, mas notícia é falsaFuncionários do prédio da Superintendência do Ibama, no Setor de Autarquias Sul, repetiram a frase dezenas de vezes nesta quarta-feira (7/8): "É fake news".

Tudo teve início pela manhã, quando começou a circular uma mensagem no WhatsApp informando sobre uma suposta doação de livros no órgão. O boato detalhava que obras didáticas, técnicas, de literatura clássica, infantis e gibis eram distribuídas de forma gratuita no Setor de Autarquias Sul, onde o Ministério da Agricultura tem uma sala locada para armazenamento de obras de um projeto literário. Por fim, a falsa informação dizia que, caso restassem livros não doados, eles seriam incinerados.
Veja mensagem:
Mensagem compartilhada no WhatsApp desinforma que o órgão estaria dando livros e que obras que restassem seriam incineradas, mas notícia é falsa

"É um absurdo", afirmou Ana Luiza Pupe, coordenadora-geral de Apoio à Estruturação da Produção Familiar do Ministério da Agricultura. A mensagem compartilhada diversas vezes tem vários erros. Primeiro, há falha incomum para comunicações oficiais na data, pois diz que a ação ocorrerá ;até quinta-feira 7/8;, sendo que 7 de agosto é nesta quarta-feira. "Na hora que vimos a mensagem, tentamos conter a crise, porque imaginamos que algumas pessoas viriam. Só não pensávamos que seria tanta gente, como foi. Vieram pessoas do Gama, dizendo que receberam a informação em um grupo, e gente que veio de ônibus, por exemplo;, lamentou Ana Luiza.

Também há confusão entre órgãos, pois fotos enviadas com as mensagens mostram livros do Ministério da Agricultura, que cataloga obras para fazer o transporte a outro prédio, e nada têm relação com o Ibama. As publicações são parte de um projeto chamado Arca das Letras, que atende, principalmente, escolas, bibliotecas e comunidades rurais. "Normalmente, as fake news têm sensacionalismo para que as pessoas se assustem e encaminhem. Isso tem de nos acender um alerta, porque, se a gente for parar para pensar durante cinco minutos, íamos nos questionar muito sobre se um órgão oficial do governo iria queimar um acervo inteiro de livros. Isso não faz nenhum sentido", argumentou a representante do ministério.

Outro alerta que Ana Luiza faz é que a população precisa ter cuidado com mensagens que citam ações do governo e são encaminhadas pelas redes sociais, já que a internet facilita a propagação de notícias falsas . "Essa é uma oportunidade de mostrar para as pessoas que comunicações oficiais são feitas por órgãos oficiais. Não houve qualquer informação do Ibama ou do Ministério da Agricultura. Veio do WhatsApp, isso não é oficial", concluiu Ana Luiza.

Indignação


O Holofote foi até o local indicado na mensagem para entender o caso. Logo na portaria, um grupo de pessoas ouvia as explicações de que se tratava de um boato falso. Em poucos minutos, mais brasilienses apareceram e foram embora revoltados. "Eu sou diretora de uma creche em Samambaia Sul e saí de lá para buscar livros para as nossas crianças. Era uma oportunidade ímpar. Fico até sem saber o que fazer agora", disse Maria Iudete Sales, 45 anos.

Ela conta que até desconfiou que a mensagem pudesse se tratar de uma desinformação, mas não conseguiu contato por telefone com o Ibama. "Recebi pelo Whatsapp, da minha irmã, que também é professora. E todo mundo que perguntei falava que era verdade", lamentou.

Sheila da Silva, 34, também deu viagem perdida. "Eu vim de Santa Maria de ônibus, porque queria uns livros clássicos. Um amigo me passou a mensagem hoje de manhã, e eu achei uma ótima oportunidade, até porque estou de férias e poderia vir. Mas é decepcionante saber que é mentira", ressaltou.

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