postado em 27/03/2018 06:15
Foi no colégio que Rebeca Realleza, 22 anos, teve os primeiros contatos com o rap. A mãe não gostava do gênero, ;achava que era música de bandido;, mas um projeto dentro da própria escola apresentou a menina às rimas e ao som.
A partir de então, ela começou a cantar com os amigos em outras escolas e a paixão pela música e pelo estilo se tornou mais forte. ;Um dia cantamos no Teatro Newton Rossi, e percebi que era aquilo que eu queria fazer;, lembra Rebeca, um dos novos nomes de destaque do rap ceilandense.
Ceilândia é protagonista nas letras de Rebeca, mas não é a violência e a criminalidade que aparecem nas músicas da rapper que mora no Sol Nascente. ;Nas minhas letras, falo das coisas boas de Ceilândia. Do amor, da esperança; Se a gente da arte não levar o amor, quem vai levar? A bala, o tiro a gente já escuta todo dia;, explica.
Apesar das dificuldades que a região enfrenta, Ceilândia é feita de esperança e de sonhos. ;Eu amo os sonhos daqui. Amo a luta de Ceilândia. Aqui as pessoas sonham com algo melhor, com a melhoria da cidade. Mesmo com todas as dificuldades elas têm esperança;, aponta a rapper, que é também estudante de direito.
O amor por Ceilândia é evidente nas letras e nas palavras de Rebeca, que canta a força de vontade e a união de um povo capaz de superar as adversidades. O rap e a cidade foram, para a rapper, responsáveis por tudo o que ela se tornou. ;Foi aqui que me descobri como mulher. Onde eu brotei. Onde eu descobri também como queria escrever e como fazer minhas letras.;
A dura realidade no Sol Nascente, por exemplo, inspirou Receba, mas por outro ponto de vista. ;A gente não precisa ser o que esperam porque acham que somos assim. Por isso, canto que ;minha cabeça não está a prêmio.; Nós não precisamos entrar todos na vala do crime, das drogas...;, avalia.
Diversidade e união
Para Rebeca, ;Ceilândia é cheia de cultura, muito diversa, com muita gente fazendo música, muita gente envolvida com a arte e se ajudando;, acredita.
;A gente mora numa região muito difícil, era pra ser cada um por si. Mas sozinho não se chega a lugar nenhum. Então damos as mãos e conseguimos construir algo. Sem esse desejo de união, nada aconteceria. Essa consciência vem da falta de recursos, pela necessidade;, ressalta.
O pioneiro Japão
Um dos expoentes do rap na cidade, Japão nasceu no mesmo ano que Ceilândia, 1971. O artista, de 47 anos, tem uma trajetória que, de fato, se confunde com os caminhos da região. É impossível falar da cultura de Ceilândia e não lembrar dele.
;Além de ser meu local de nascimento, Ceilândia é o melhor lugar onde eu possa estar, aqui tenho tudo que preciso para seguir com minha arte, sem contar as pessoas, os 17 bairros. O dia a dia agitado e tenso é uma inesgotável fonte de inspiração;, afirma Japão.
O rapper fala sobre a diversidade da cultura ceilandense, que vai do rap ao samba, dos saraus ao rock e comenta os locais onde costuma ir. ;Gosto de frequentar o Sarau VA e o samba da comunidade, que ocorrem na praça da Bíblia. Vou também à Praça do Cidadão, onde rolam várias investidas culturais;, cita.
Em 2019, Japão planeja lançar o décimo álbum da carreira, que vai se chamar justamente Ceilândia 1971. ;O disco vai ser aberto com uma frase do sambista e poeta Marcelo Café, que resume, para mim, a maior qualidade de Ceilândia: ;Ceilândia é mulher e, como toda mulher, se reinventa na dor;;, adianta.