2019

Encontro de costumes e paladares

A cidade conta um pouco da sua história por meio das feiras, que reúnem diversidade e orgulho de ser ceilandense

Fernanda Bastos*
postado em 27/03/2019 07:00
Jefferson Soares, vendedor de calçados:
;É três por 10.; ;Promoção só vai ter aqui.; ;É o maior desconto do Brasil-sil-sil!” Os gritos que ecoam pelos corredores das feiras de Ceilândia. A cidade abriga 10 entre as 84 feiras do DF, consideradas como pontos turísticos pelos moradores e de resgate da identidade dos primeiros habitantes da região, além da importância para o escoamento da produção agropecuária das chácaras locais.

Mais antiga da cidade, inaugurada em 1984, a Feira Central de Ceilândia conta com 463 bancas, divididas em setores. No centro, as confecções de roupas, bancas de eletrônicos e a associação de feirantes. Das quatro laterais, uma é repleta de restaurantes com comidas típicas do Nordeste ; rabada, sarapatel, buchada, dobradinha, carne de sol com mandioca ; e alguns pratos mineiros. Panelas e outros produtos utilizados na cozinha dominam outro canto. As peixarias e os açougues são o destaque do terceiro setor e, por último, uma variada opção de calçados.

Falando neles, os tênis de quatro molas e os de estilo skatista são os calçados que o ceilandense mais usa nos pés, de acordo com o vendedor Jefferson Soares, 23 anos. O feirante, que nasceu, cresceu e hoje trabalha na Feira Central, acredita que os preços mais acessíveis movimentam o comércio da região. ;Nem todos têm condição de comprar no shopping, e, aqui, a população é mais humilde, poucos têm renda fixa que dê para comprar um tênis ou uma roupa cara. A feira veste o povo, né?;
Paraibana, Sandra Regina acredita que a Feira Central representa o Nordeste dentro da cidade

Sandra Regina Costa, 53, paraibana que se mudou para Ceilândia há 40 anos em busca de melhores condições de vida, conta que a feira cresceu muito. ;Cheguei aqui e era só mato, buraco, poeira. A feira, quando começou, era só as lonas, muito barro e muita lama;, afirma. Vendedora na banca de panelas e utensílios de cozinha, ela acredita que o espaço representa o Nordeste dentro da cidade. ;Como aqui moram muitos nordestinos, eles vêm à feira para comer e comprar produtos da região, como queijo coalho, queijo de manteiga, rapadura, carne de bode, carne de carneiro. Tem de tudo;, ressalta.


Lugar para chamar de seu

Maria do Socorro tem orgulho de viver e trabalhar em Ceilândia
Outra feirante que declara o orgulho de viver e trabalhar na cidade é Maria do Socorro Soares, 49, moradora do Sol Nascente desde 1986 e que trabalha há 13 anos no Shopping Popular, com roupas infantis. Ela conta que foi uma das primeiras camelôs que conseguiu a transferência para o shopping. ;Montei aqui minha lojinha, não trabalho na rua mais;, lembra, sorridente.

Francisco Rodrigues, 40, vizinho da banca de Maria, trabalhou 14 anos como ambulante e, há 12, está no shopping na banca de eletrônicos. ;É um polo de vendas muito bom, centralizado e com um preço acessível;, garante o vendedor.
Francisco Rodrigues trabalha na Feira:

O Shopping Popular, inaugurado próximo à Feira Central da cidade, retirou os camelôs e ambulantes que vendiam produtos nas ruas e os realocou em um prédio público construído pelo Governo do Distrito Federal. Abriga ainda uma unidade do Na Hora, que oferece serviços públicos variados.

Para o diretor administrativo do sindicato dos feirantes do DF, Marques Célio Rodrigues de Almeida, 57, a feira é cultura. Cearense, neto de feirantes, que mora em Ceilândia desde 1995, ele afirma que esses locais precisam de um maior apoio do governo para se atualizar sem perder a tradição.

;Hoje, os grandes mercados que se instalaram na cidade diminuíram o movimento nas feiras, mas se tivéssemos um maior apoio do governo, de valorização da feira, isso seria diferente. Elas representam o sustento de muitas famílias e fazem parte da vida dos ceilandenses;, destaca.

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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