2019

No ritmo das picapes

Projeto oferece oficinas gratuitas de DJ para moradores da comunidade, além de aulas de percussão

Alexandre de Paula
postado em 27/03/2019 07:00
Dione Black, presidente da Associação Vila dos Sonhos:
A música pulsa em Ceilândia. A batida do hip-hop, as rimas do rap, o gingado do samba são exemplos de apenas alguns dos ritmos que se destacam na variedade cultural da região, repleta de movimentos e projetos que mobilizam a área. O desejo de crianças, jovens e até adultos de aprender a comandar picapes de DJ ou a vontade de dominar instrumentos de percussão viram realidade no projeto Vila dos Sonhos.

A sede fica na QNQ e é espaço para oficinas gratuitas que dão oportunidade para o aprendizado de música eletrônica e tradicional. Além disso, há parceria com diversas escolas.

No pequeno galpão onde o projeto se instala, diversas picapes, mesas de som e outros equipamentos de DJ ocupam o espaço. Os alunos ; a maioria jovens ; se dividem entre cada um deles para mexer os discos e produzir sons. Observam, atentos, as dicas e os conselhos do professor, DJ Black, que vão além da música. ;Atenção à postura, DJ não pode ficar assim de qualquer jeito;, diz a um dos pupilos.

Entre os fones e os discos, histórias de superação e sonhos à espera de realização. Kaio Josué Farias de Sousa, 19 anos, terminou em 2018 o ensino médio e quer ingressar na faculdade de letras-inglês neste ano. O sonho maior começou a virar realidade: ser produtor cultural e responsável por eventos.

Para chegar às oficinas, pega ônibus, sai do P Sul, espera por muito tempo (pelo menos, uma hora). Mas garante que vale a pena. A cultura e a arte são uma forma de afastar a realidade da violência, tão próxima do dia a dia desses jovens. ;Muito amigo meu morreu. Muitos amigos da escola hoje vejo na rua traficando, são presos, parece que é algo comum. Mas a gente vai buscando maneiras de ficar longe;, explica.

O amigo Warley Souza Matos, 19, faz um esforço parecido ao de Kaio para participar das oficinas. Sai do Sol Nascente de ônibus para chegar à Vila dos Sonhos. Ele está no 3; ano do ensino médio e sonha em entrar para a Universidade de Brasília (UnB). Quer fazer ciências sociais ou filosofia. ;Convivo com muita gente de mente fechada, quero ter a oportunidade de aprender coisas novas e de ensinar, de mostrar outras visões. É um pouco do que acontece aqui.;

Também morador do Sol Nascente, o carteiro Jovenildo Arcanjo dos Santos, 44, faz parte do grupo de alunos com mais experiência. ;Desejo mesmo sempre foi seguir com a música. Estava no sangue, fui criado no rap, na black music, nos bailes.;

Participação

O Vila dos Sonhos nasceu em 2010, criado por um grupo de professores do CEF 25 e, aos poucos, repassado para os jovens da comunidade que queriam participar de iniciativas assim. ;A ideia foi sempre mostrar que só somos tantos neste mundo para podermos ajudar uns aos outros. Se não for para ser assim, não tem sentido. Ceilândia é assim. Mesmo quando o Estado está ausente, a cidade se ajuda;, ressalta Dione Black, presidente da associação.

No ano passado, o projeto conseguiu apoio do GDF, o que custeia o aluguel das picapes utilizadas na oficina. Atualmente, há 25 alunos participando das aulas, mas a ideia é recrutar mais. As inscrições para novas turmas estão abertas.
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