2019

Um guerreiro da tropa

Consagrado no cinema pela atuação em Branco sai, preto fica, Marquim da Tropa dá exemplo de superação

Alexandre de Paula
postado em 27/03/2019 07:00
Marquim do Tropa:
;Eu cheguei aqui em cima de um caminhão/ Fazendo curvas rasantes e voando rente ao chão/ A poeira predominava, o povo não se cansava/ Carregando na cabeça lata com água.; Os versos de Marquim do Tropa, rapper, cineasta e ator ceilandense, narram a chegada do próprio artista à região. Vindo da extinta Vila do Iapi, Marquim, hoje com 49 anos, nasceu quase com Ceilândia. Tinha 1 ano quando se mudou para a cidade recém-criada.

A história de Marquim parece de cinema e, de fato, é. Boa parte dela pode ser vista em Branco sai, preto fica, o contundente documentário com ares de ficção do cineasta também ceilandense Adirley Queirós. O longa ; vencedor do Festival de Brasília de 2014 ; rememora uma batida policial no baile black Quarentão, na década de 1970. A violenta abordagem dos homens de farda deixou Marquim numa cadeira de rodas até hoje.

É ele quem ajuda a conduzir a narrativa de Adirley Queirós, seja com os depoimentos pessoais, seja com a parte ficcional do filme. Marquim é protagonista e, no enredo, sonha em explodir Brasília. O trabalho rendeu reconhecimento nacional e internacional. Do Festival de Brasília (onde Branco sai, preto fica se consagrou), Marquim saiu carregando dois troféus: melhor ator local e melhor ator geral.

;Quando começamos a filmar o Branco sai, deixei o cabelo crescer, engordei uns 10 quilos. Entrei de cabeça, e o Adirley achou que poderia ser um ator consagrado. Mas eu não via isso dentro de mim;, lembra. ;Quando fui premiado como melhor ator nacional do festival, fiquei extasiado. Era muito bom para mim. Mas eu sou da Ceilândia, sabe? No fundo, era um prêmio para Ceilândia.;

Música

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Mas antes do cinema veio a música. Antes da música e do cinema, na verdade, veio o futebol, interrompido, no entanto, pela perda definitiva da capacidade de andar. ;Eu passei seis meses no Sarah. Chorei quando ouvi a enfermeira dizendo: ;Antônio Marcos, está aqui sua cadeira de rodas;. Mas eu transferi toda essa dor para a música. Ela foi meu refúgio.;

Marquim é nome conhecido do rap ceilandense. Integra o grupo Tropa de Elite, que conquistou sucesso nacional com músicas que retratam o cotidiano de Ceilândia, como Opala 71 azul. O estilo do Tropa mistura a dureza do rap com pegada mais melodiosa. ;A gente conseguiu ter um jeito único. A pessoa reconhece quando toca algo nosso.;

O Tropa, conta Marquim, tinha outro nome no início: American Rap. ;Mas a gente tinha quase 72 integrantes e, quando chegava num lugar, os locutores diziam: ;Está chegando a tropa;.; No princípio, incomodou, mas os rappers acabaram assumindo. ;A gente queria pelo menos um complemento para Tropa. Era época da guerra nas Malvinas. Um dia ouvimos na tevê: ;A tropa de elite de Sadam Hussein;; Pronto, ficou;, recorda. O grupo prepara disco novo para ser divulgado ainda neste ano.

A relação de Marquim com Ceilândia é visceral. ;Pra mim é tudo. É amor, paixão, é cultura, é a minha vida. Ela me deu tudo. Eu me sinto maravilhado quando saio daqui e os caras perguntam: ;E aí, como é Ceilândia?;. Eles perguntam porque ouviram nas nossas músicas, nos filmes. Tenho orgulho disso.;

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