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Ministro argentino deixa cargo por conflito agrário e inflação

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postado em 25/04/2008 09:58
BUENOS AIRES - O ministro argentino da Economia, Martín Lousteau, renunciou ao cargo, na noite desta quinta-feira, e será substituído, nesta sexta (25/04), pelo atual secretário de arrecadação fiscal. A renúncia ocorre em meio a um difícil conflito entre governo e milhares de agricultores e num contexto de crescente inflação. "A presidente (Cristina Kirchner) pediu a renúncia a Lousteau por diferenças sobre a aplicação da política econômica", informou uma fonte da presidência. Lousteau, de 36 anos, foi convocado para conduzir a economia argentina no início do atual governo, em 10 de dezembro passado. Lousteau será substituído por Carlos Fernández, atual secretário de arrecadação fiscal (AFIP) e um dos fiéis escudeiros do ex-presidente Néstor Kirchner, segundo a agência estatal Télam. O ex-presidente criticara, durante comício na quinta-feira, os economistas e dirigentes que querem esfriar a economia, que acumula um crescimento de 45% em cinco anos. "Se desaquecem a economia os argentinos não consomem, não comem, e sem consumo, eles podem exportar tudo e ganhar mais, disse Kirchner. A renúncia do jovem economista ocorre em meio a um duro conflito entre Cristina Kirchner e o setor agropecuário, que resiste a uma alta de tarifas sobre as exportações de soja. A soja é o principal produto exportado pela Argentina, com um valor calculado para a colheita de 2008 de 24 bilhões de dólares, dos quais 11 bilhões o governo embolsa através de impostos. Os líderes agropecuários, que representam cerca de 250 mil produtores, também questionam a política do governo para o trigo e a carne. No momento, as quatro mais importantes entidades do campo e o governo federal negociam contra o tempo. Em 2 de maio, vence a trégua aprovada há um mês, que acabou com 21 dias de greve do setor agropecuário e o desabastecimento de alimentos. A greve de 21 dias no setor agropecuário abalou o poder do casal Kirchner, que está sob ameaça de uma nova paralisação a partir de 2 de maio. A inflação que, segundo alguns institutos já atinge 25% (anual), é outro problema nesta equação envolvendo os agricultores e o abastecimento interno. Na quarta-feira, os agricultores que resistem à alta dos impostos na Argentina afirmaram que reiniciarão em maio seus protestos e bloqueios de estrada, uma vez que as negociações com o Governo estão a ponto de fracassar. "No dia 2 de maio, vamos para as ruas de novo. Tentaremos prejudicar o menos possível o cidadão comum. O conflito está estagnado", afirmou à imprensa Alfredo de Angeli, dirigente dos pequenos e médios produtores agropecuários. Diante da nova ameaça, o ministro da Justiça, Aníbal Fernández, afirmou que não voltará quanto à retenção dos impostos às exportações de soja, milho, trigo e girassol, conforme foi adotado em 11 de março passado, o que provocou a paralisação de 21 dias por parte dos agricultores. A polêmica decisão governamental consistiu em fixar a taxa da tributação em forma diretamente proporcional ao aumento dos preços internacionais, o que provocou uma irada reação dos produtores de soja, aos quais se juntaram os de gado, lácteos, trigo e outros grãos.

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