postado em 25/04/2008 10:33
PEQUIM - Uma delegação oficial chinesa se reunirá, em breve, com representante do Dalai Lama, conforme anunciou a agência oficial Xinhua. Este será o primeiro encontro entre as duas partes desde a revolta de março no Tibete, que deixaram dezenas de mortos. A notícia inesperada foi recebida com satisfação por um porta-voz do líder tibetano e Prêmio Nobel da Paz, exilado na Índia.
"Em vista dos repetidos pedidos por parte do Dalai Lama para uma retomada das conversações, os departamentos envolvidos do governo central manterão contatos e consultas com um representante privado do Dalai Lama nos próximos dias", anunciou a agência. A agência não divulgou detalhes sobre a natureza do encontro, nem o nome dos participantes.
Pequim era pressionada pela comunidade internacional para reiniciar o diálogo com o Dalai Lama desde a violência registrada em Lhasa, capital do Tibete, e que se propagou para outras regiões da China habitadas por tibetanos. A repressão na região himalaia e as violações dos direitos humanos na China provocaram protestos na viagem mundial da tocha olímpica e prejudicaram a imagem do gigante asiático, que receberá as Olimpíadas de 8 a 24 de agosto.
O porta-voz do Dalai Lama na Índia, Tenzin Taklha, comentou o anúncio: "É um passo na direção correta, pois apenas encontros frente a frente podem levar a uma solução da questão tibetana". "Desde as revoltas, Sua Santidade tem feito todos os esforços possíveis para estender a mão ao governo chinês e espera que a questão tibetana seja resolvida por meio do diálogo", acrescentou por telefone de Dharamsala, sede do governo tibetano no exílio.
Pequim resistia a uma reunião com o Dalai Lama, a quem acusa de ter organizado os protestos no Tibete para sabotar os Jogos Olímpicos de Pequim. Uma fonte do governo chinês citada pela Xinhua disse esperar que, com esta iniciativa, o grupo do Dalai adote ações confiáveis para acabar com as atividades destinadas a fragmentar a China e que cesse os complôs e a incitação à violência, assim como a perturbação e a sabotagem dos Jogos Olímpicos.
O governo chinês e representantes do Dalai Lama retomaram frágil sessão de conversações secretas no fim de 2002, que foi rompida ao fim do último encontro conhecido, entre junho e julho de 2007. Os dirigentes tibetanos no exílio afirmam que a repressão chinesa das recentes revoltas em Lhasa, capital do Tibete, deixaram mais de 150 mortos, mas a China acusa os agitadores tibetanos de terem matado 18 civis e dois policiais.
Após o anúncio, a União Européia (UE), os Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e Japão manifestaram satisfação. O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, que se reuniu, nesta sexta-feira, com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, se declarou muito feliz.
"Sempre defendemos o diálogo já que pensamos ser este o melhor meio de chegar a soluções duradouras, aceitáveis para a questão tibetana", declarou. Barroso disse ainda ter solicitado à China um acesso livre ao Tibete tanto para a imprensa como para os turistas estrangeiros, além de ter reiterado a oposição da UE à independência do Tibete e a um boicote dos Jogos Olímpicos.
"Todo aquele que esteja interessado em uma melhor compreensão das realidades deveria permitir o acesso livre à imprensa", destacou. A Casa Branca expressou felicidade com o anúncio chinês de diálogo com representantes do Dalai Lama. "Nós ficamos satisfeitos de saber disto. Nós damos as boas-vindas às notícias de que as autoridades chinesas vão se encontrar com representantes do Dalai Lama", disse o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, Gordon Johndroe. "Isto é algo que o presidente (George W.) Bush encorajou o presidente (chinês) Hu (Jintao) a fazer", completou.
O presidente francês Nicolas Sarkozy considerou que é uma etapa importante e que este diálogo renovado representa verdadeiras esperanças. O ministério das Relações Exteriores da Alemanha também saudou o anúncio, que espera possa contribuir para a solução do conflito no Tibete. O ministro das Relações Exteriores britânico, David Miliband, qualificou de positiva a decisão da China e seu colega japonês, Masahiko Komura, desejou que o encontro seja um sucesso.