postado em 25/04/2008 11:28
JERUSALÉM - Israel se negou, nesta sexta-feira (25/04), a dar crédito a uma proposta de trégua do grupo radical Hamas em troca da suspensão do bloqueio em Gaza, onde a situação humanitária piorou devido à interrupção da distribuição de ajuda da ONU por falta de combustível.
O governo israelense considera que a oferta de trégua de seis meses apresentada pelo Hamas na véspera, no Cairo, não é séria. Além disso, acredita que os islamitas, alvo das ofensivas israelenses em Gaza, aproveitariam esse tempo para obter reforços. "Infelizmente, isso não parece nada sério. O Hamas continua visando os israelenses e se armando", afirmou Mark Regev, porta-voz do primeiro-ministro Ehud Olmert.
"A calma que parece propor é a calma antes da tempestade", insistiu Regev, reiterando as condições impostas por Israel para suspender as operações militares: o fim dos disparos a partir da Faixa de Gaza, o fim do terrorismo do Hamas e o fim do contrabando de armas através do Egito. Em contraposição, uma fonte próxima ao ministro da Defesa, Ehud Barak, declarou que Israel não descarta um acordo tácito com o Hamas, como aconteceu em repetidas ocasiões no passado.
Na véspera, o Hamas afirmou estudar trégua com Israel que tenha início na Faixa de Gaza e se estenda depois à Cisjordânia, com a condição de que o Estado hebreu retire seu bloqueio dos territórios palestinos. "O Hamas se inclina a princípio por uma trégua na Faixa de Gaza que se estenderia à Cisjordânia em uma segunda fase, com a condição de que cesse a agressão do inimigo e sejam reabertos os pontos de passagem, como o de Rafah, com o Egito", afirmou o porta-voz Ghazi Hamad.
Os líderes do movimento islâmico afirmam que desejam que a situação nos territórios palestinos se acalme. "Mas esta calma deve ser recíproca, simultânea e global entre nós e Israel, e deve incluir a retirada do bloqueio (imposto desde janeiro) e o fim da agressão", disse à AFP outro membro do movimento, Ismail Raduane.
A ONU, por sua vez, advertiu sobre as conseqüências da suspensão da distribuição de alimentos aos refugiados palestinos por parte de suas agências. "Quando há pessoas famintas, furiosas, isso não favorece a paz nem aos interesses de Israel em termos de segurança", declarou Chris Gunness, porta-voz da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
A ONU interrompeu nesta quinta-feira a distribuição de alimentos na Faixa de Gaza devido à falta de gasolina. Israel rejeitou qualquer responsabilidade na situação de crise vivida em Gaza e culpou o movimento islamita Hamas. Israel deixou de abastecer a Faixa de Gaza depois de um ataque palestino, em 9 de abril contra a passagem de Nahal Oz, o único ponto de entrada de combustível na Faixa.
Israel assegura, no entanto, que os palestinos têm reservas, com mais de um milhão de litros de combustível armazenados, mas que a Associação Palestina de Petróleo se recusa a distribuí-las como forma de protesto pelo que considera um abastecimento insuficiente.
A falta de combustível obrigou a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) a reduzir sua atividade e a situação pode ficar rapidamente dramática, anunciou a ONG. Milhares de simpatizantes do Hamas se manifestaram nesta sexta-feira perto dos pontos de passagem do norte e do sul da Faixa de Gaza para exigir o fim do bloqueio israelense imposto a seu território. Cinco mil pessoas, agitando bandeiras do Hamas, se concentraram para pedir que o Egito reabra a passagem de Rafah para romper o cerco imediatamente e aliviar o sofrimento do povo palestino.
Em Rafah, na fronteira sul com o Egito, quase mil pessoas fizeram as mesmas reivindicações.