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Crise agrária na argentina

O país perdeu o ministro da Economia e ainda enfrenta uma séria crise com os produtores de soja

postado em 25/04/2008 15:37
BUENOS AIRES - A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, reafirmou nesta sexta-feira (25/04) sua política de estimular o crescimento e enfrentar com pulso firme uma rebelião fiscal de agricultores. A presidente nomeou como como ministro da Economia Carlos Fernández, fiel escudeiro de seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner. Fernández, de 54 anos, especialista em finanças públicas, entrou em cena subitamente devido à primeira crise ministerial, depois da renúncia do então ministro da Economia Martín Lousteau, que pretendia colocar em prática um plano antiinflacionário envolvendo a contenção de gastos e a moderação do consumo. "Lousteau não fez tudo o que se esperava dele. Esfriar a economia não quer dizer que as pessoas não gastem. Sempre divergimos quanto a esse assunto", disse o chefe de Gabinete, Alberto Fernández. A saída de Lousteau já era cogitada devido a suas ausências nas duras negociações entre Cristina Kirchner e o setor agropecuário, que resiste a uma alta de tarifas sobre as exportações de soja, principal produto exportador da Argentina, com uma colheita em 2008 avaliada em 24 bilhões de dólares. Dessa verba o governo embolsa quase que a metade, através de impostos. O desgaste de Lousteau e dos Kirchner, visto que o ex-presidente mantém sua influência sobre o poder político no país, alterou os mercados, causando a queda da Bolsa e dos bônus, sem impor cortes à crescente inflação. A inflação real na Argentina alcançaria entre 20% e 30% ao ano, de acordo com as consultorias privadas e entidades de defesa do consumidor, embora o órgão estatal INDEC afirme que a inflação é de menos de 10% ao ano. Sob o comando de Néstor Kirchner No entanto o motivo da queda desse jovem economista de 36 anos foi seu programa de aumento de tarifas de energia e poupança fiscal, ao custo do consumo, segundo a imprensa argentina. A Argentina cresce a um ritmo médio anual de quase 9% desde que os Kirchner estão no poder, e o vigor do consumo foi o principal argumento da campanha eleitoral de Cristina em outubro no ano passado. "Não há ministério da Economia na Argentina. Quem conduz as coisas é o ex-presidente, Néstor Kirchner", opinou o economista Orlando Ferreres, diretor de uma consultora de mercado. Também a líder da oposição liberal cristã, Elisa Carrió, derrotada por Cristina nas eleições de 2007, por 45% contra 23% dos votos, afirmou nesta sexta-feira que "Néstor Kirchner é quem comanda a Argentina na verdade". Cristina Kirchner atacou com dureza os agricultores que realizaram uma greve de 21 dias, com uma frágil trégua em vigor. ;Não queimem mais os campos, não façam mais fumaça, não desabasteçam, não interditem mais as estradas e não brinquem com o desenvolvimento da Argentina", pediu a Cristina. No entanto, Ricardo Delgado, da consultoria privada Ecolatina, afirmou que o maior desafio de Carlos Fernández será elaborar um plano de estabilização de preços e um programa antiinflacionário. O FMI, o Banco Mundial e institutos privados concordam que a inflação é o maior dilema da Argentina.

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