postado em 26/04/2008 10:31
Do outro lado do planeta, a tocha dos Jogos de Pequim desfilou neste sábado (26/04) pelas ruas japonesas. Foi mais uma etapa na sofrida jornada do símbolo olímpico por vários países, um prenúncio de que a China não terá paz até o apagar da pira e a entrega de todas as medalhas. Manifestantes que defendem mais autonomia à região do Tibete pretendem aproveitar a visibilidade da potência asiática neste ano para batalhar por concessões do regime comunista. Temendo pelo pior durante as Olimpíadas, as autoridades chinesas concordaram em começar uma rodada de negociações com representantes do governo tibetano no exílio (Índia).
Os alertas sobre a possibilidade de atentados terroristas preocupam Pequim, assim como a confirmação de que ativistas pró-Tibete à paisana estarão nos principais eventos das Olimpíadas. Nada, porém, é mais temido pelos chineses que a possibilidade de ;perder a face; por conta desses protestos. Na cultura do extremo oriente, nada pode ser mais degradante que perder a face diante de um estranho ; o termo significa ser constrangido, ficar desprovido de razão, acuado ou sem resposta em público. Foi esse o objetivo das manifestações ocorridas durante a passagem da tocha por cidades como Londres, Paris e Canberra.
A situação é ainda mais crítica porque o movimento de apoio ao Tibete cresceu e se descentralizou nos últimos anos. O dalai-lama, líder budista tibetano, é contra a independência do território (correspondente a cerca de 12% da China) e se diz favorável à realização das Olimpíadas em Pequim. Ativistas mais novos, porém, se organizaram em grupos no exílio para adotar estratégias agressivas de protesto. Do outro lado, as forças de segurança chinesas não têm prática em métodos dissuasivos de baixo grau de violência. Ou seja, qualquer repressão pode se transformar em derramamento de sangue.
A solução para o impasse requer concessões conjuntas. A China não precisa perder a face, mas respeitar a cultura e a religião tibetanas. Deve, ainda, comprometer-se com a autonomia local e investir no desenvolvimento da região. Sob essas garantias, os líderes do Tibete, por sua vez, fariam bem se renunciassem categoricamente à independência. Parece simples, não fossem os séculos de hostilidades entre grupos étnicos e religiosos no que hoje é território chinês.