postado em 28/04/2008 11:16
VIENA - A Áustria se questiona, nesta segunda-feira (28/04), como um homem conseguiu esconder durante 24 anos a filha, hoje com 42 anos, em um porão de sua casa em Amstetten (leste do país), onde confessou ter engravidado a vítima seis vezes (com sete filhos), sem que a esposa, os vizinhos nem as autoridades desconfiassem de absolutamente nada.
O suspeito, Josef Fritz, de 73 anos, confessou, nesta segunda-feira, em um interrogatório, todas as acusações, depois de ter sido detido no sábado. Depois de reconhecer que havia construído um calabouço em um de seus porões e trancado em seu interior a filha e três filhos dela, ele admitiu as acusações de incesto, mas insistiu que não houve violência, conforme afirmou o porta-voz da promotoria de Sankt-Polten, Gerhard Sedlacek, responsável pela investigação.
"Ele admitiu ser o pai de sete filhos que a filha teve, um deles morto prematuramente", disse Sedlacek. O interrogatório a Fritzl, que será levado ante um juiz, ainda vai durar vários dias. O drama digno de um filme de terror foi revelado no sábado, graças aos questionamentos de um hospital no qual havia sido internado um dos jovens seqüestrados, Kerstin, de 19 anos, que sofre uma doença misteriosa. Os médicos queriam localizar a mãe para diagnosticar a enfermidade.
De acordo com os registros oficiais, a mãe, Elisabeth Fritzl, estava desaparecida oficialmente desde 1984, depois de cair em poder de uma seita. Na realidade, ela estava seqüestrada pelo próprio pai em um dos porões da casa em que a família morava. Dos seis filhos que teve com o pai, além do que faleceu, três foram adotados por Josef Fritzl e sua esposa, Rosemarie, enquanto os outros três permaneceram no porão. Os bebês foram colocados com vários anos de diferença na entrada da casa ao lado de uma carta da mãe que afirmava não poder cuidar das crianças. Um plano sofisticado elaborado pelo próprio Josef.
Elisabeth e os filhos estão no momento sob observação em uma unidade psiquiátrica de uma clínica regional e seu estado de saúde parece ser satisfatório. Já a esposa Rosemarie, de 69 anos, se encontraria em um estado psicológico preocupante, segundo o diretor dos serviços sociais de Amstetten, Heinz Lenz. Depois de ser libertado, o caçula dos três filhos presos no porão, de seis anos, que, como os irmãos nunca havia visto a luz do dia, declarou à assistente social que estava feliz de poder subir em um carro de verdade, segundo Lenz. Ele só havia visto automóveis na televisão.
As fotografias feitas pelos investigadores mostram o estreito calabouço construído por Josef e protegido por uma porta de concreto armado com uma fechadura eletrônica, da qual apenas ele conhecia o código. No interior, havia três pequenos quartos, banheiros, um chuveiro, uma cozinha e um aparelho de televisão.
A imprensa austríaca critica, nesta segunda-feira, a cegueira das autoridades que, como no caso de Natascha Kampusch, foram incapazes de descobrir durante o passar dos anos este drama qualificado pelo jornal Osterreich de pior crime na história do país. "Como foi possível?", questiona o jornal Die Presse, enquanto o tablóide Kronen Zeitung tenta estabelecer um perfil Josef Fritzl, um homem apaixonado pela pesca e apreciado companheiro de conversas entre seus amigos da cidade, monstro na intimidade do porão.
O caso lembra o de Natascha Kampusch, seqüestrada por um desequilibrado quando caminhava para escola aos 10 anos, em março de 1998. Seu cativeiro, em um porão na periferia de Viena, durou mais de oito anos, até o dia que conseguiu escapar, em agosto de 2006.