postado em 30/04/2008 19:08
BUENOS AIRES - Depois do caso de Julio López, de quem nada se sabe desde 2006, o desaparecimento de mais uma testemunha chave dos julgamentos por violações dos direitos humanos durante a última ditadura militar argentina (1976-1983) nesta quarta-feira (30/04) gerou preocupação no Governo.
"Estamos muito preocupados, em permanente contato com as autoridades da província de Buenos Aires, porque uma testemunha chave dos julgamentos pelos direitos humanos desapareceu", anunciou a presidente argentina, Cristina Kirchner, em um ato na província de Santa Cruz (sul).
Sobrevivente de centros clandestinos de extermínio do regime militar, ativista dos direitos humanos e presidente da Casa da Memória da cidade de Zárate, a 90 km de Buenos Aires, Juan Puthod, 50 anos, foi visto pela última vez na noite de terça-feira, segundo um membro de sua família.
"Temos um compromisso de encontrar rapidamente este homem. Seu estado de saúde é frágil devido a seu coração e sua visão, seqüelas das torturas que sofreu", afirmou em uma coletiva de imprensa Daniel Scioli, governador peronista da província de Buenos Aires.
Buscas ao desaparecido
Após a denúncia, 250 policiais, com o apoio de seis helicópteros, iniciaram nesta quarta-feira a busca em áreas agrícolas e industriais próximas a Zárate, localidade de 100.000 habitantes, informou uma fonte governamental.
Julio López, considerado o primeiro desaparecido durante a democracia, tinha 77 anos quando foi visto pela última vez na cidade de La Plata, 60 km ao sul da capital, onde foi supostamente seqüestrado por agentes clandestinos da época da ditadura, segundo a investigação judicial em marcha.
Assim como López, Puthod testemunhou nos julgamentos de crimes de lesa-humanidade cometidos pelo regime militar, durante o qual cerca de 30 mil pessoas desapareceram e outras dezenas de milhares foram exiladas, segundo organismos humanitários.
Puthod ainda não tinha completado 18 anos quando foi preso, passando por vários centros clandestinos. Em um deles, perdeu a visão durante uma sessão de tortura.
O sobrevivente saiu de sua casa na terça-feira rumo à Casa da Memória, entidade dedicada a preservar a memória das vítimas da repressão militar, mas nunca chegou a seu destino, disse a secretária de Direitos Humanos do governo provincial, Sara Derotier de Cobacho.
Julio López desapareceu no dia 18 de setembro de 2006, após ter saído de sua casa em La Plata para assistir à argumentação judicial contra o ex-policial Miguel Etchecolatz, condenado depois à prisão perpétua por crimes e torturas contra prisioneiros políticos.