postado em 04/05/2008 18:29
MOSCOU - Vladimir Putin, o novo primeiro-ministro da Rússia, a partir deste 7 de maio, enquanto presidente transformou a Rússia, devolveu-lhe a auto-estima depois de anos de crise e humilhação e uma estabilidade que, no entanto, teve seu preço: a guerra na Chechênia e uma democracia comprometida. Durante sua presidência (2000-2008), a Rússia conseguiu um crescimento dinâmico (8% no ano passado), o que tirou em parte o país da encruzilhada vivida com a grave crise financeira de 1998 e do caos dos anos Yeltsin.
Em um país que sofreu o trauma da queda da União Soviética e depois os anos de reformas que, com freqüência para os russos, foram sinônimo de inferno, os anos Putin resultaram algo positivo. Para alguns, o atual presidente refundou o país. Os mais críticos, no entanto, alegam que os avanços são insuficientes. "Pensávamos que ele se tornaria um Pinochet 'light'", avalia Boris Nemtsov, vice-primeiro-ministro de Boris Yeltsin, agora na oposição. "Mas não foi assim. Ganhamos um autoritarismo sem modernização do país", acrescenta.
Quando chegou à liderança do Estado russo depois da renúncia de Boris Yeltsin em 31 de dezembro de 1999, Vladimir Putin resumiu em sua mensagem de Ano Novo o conceito de sua política. "Não haverá vazio de poder. Qualquer tentativa de ultrapassar os limites definidos pela lei, pela Constituição, será reprimido", declarou o ex-tenente-coronel da KGB, nomeado primeiro-ministro alguns meses antes. Já então havia embarcado o país numa guerra contra os rebeldes chechenos, o que deixou milhares de vítimas.
Nos oito anos seguintes, se entregaria de corpo e alma a retomar o controle das repúblicas liberadas da tutela de Moscou durante o caos pós-soviético. Uma política que receberia o nome de "vertical do poder". Na política estrangeira, sua ligação telefônica para George W. Bush em 11 de setembro de 2001, a primeira de um chefe de Estado ao presidente americano depois dos atentados de Nova York e Washington, permitiu que recuperasse alguma presença no plano internacional, onde era visto como o "carniceiro da Chechênia".
Apesar de seu empenho em se livrar dos "oligarcas", os barões da indústria russa que se sentiam à vontade com o Kremlin da era Yeltsin, o novo "czar" pareceu empreender então uma política "democrática". Mas a prisão, em outubro de 2003, do empresário mais rico da Rússia, Mikhail Khodorkovski, cujas supostas ambições políticas são consideradas perigosas para o Kremlin, representou um sinal inequívoco de um endurecimento considerável do regime.
O ano de 2004, quando acontece sua reeleição, marca uma virada. A tomada de reféns, a mais mortífera da história, em uma escola de Beslan em setembro (332 mortos, entre eles 186 crianças), se encontra na origem de um novo período de repressão. O Kremlin suspende a eleição de governadores, que a partir de então são nomeados de fato pelo presidente, e modifica o código eleitoral, tornando mais difícil a eleição de candidatos independentes.
No final de 2004, a revolução pacífica na Ucrânia que varre o candidato pró-ruso da presidência e elege vencedor Viktor Yushchenko, um pró-ocidental, exaspera Putin, que vê nisso uma prova de ingerência estrangeira no que considera sua praia particular. "É neste momento que Putin empreende seriamente uma virada para o autoritarismo", analisa Maria Lipman, do Centro Carnegie de Moscou. "Beslan marcou o início das 'reformas' políticas que prosseguiram em gestão", explicou.
Ante as críticas de Washington e das capitais européias, Putin defende seu vago conceito de "democracia soberana", uma adaptação, segundo ele, da "democracia universal" à realidade russa. "No Kremlin, se considera que o Estados Unidos utilizam mais a palavra 'democracia' para isolar Putin do que por seu verdadeiro interesse na democracia", escreveu Dimitri Simes, um cientista político russo na revista Foreign Affairs. "Que recordação deixará Putin?", questiona Lipman. "Isso dependerá em grande parte do que vier depois", responde.