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Violência em referendo deixa um morto e mais de 35 feridos

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postado em 04/05/2008 20:38
Segundo jornais bolivianos, uma pessoa morreu e mais de 35 ficaram feridas durante o referendo autonomista do departamento boliviano de Santa Cruz realizado neste domingo (04/05). Este resultado mostra como, em Santa Cruz, os moradores cultivam a diferença, e muitas vezes o ódio, por seus compatriotas indígenas, a começar pelo presidente Evo Morales. Pulmão econômico do país mais pobre da América do Sul, esta região onde, em maioria, os moradores são de origem européia ou mestiça, reprova ao primeiro dirigente do país de origem autóctone o fato de querer usar suas jazidas de gás em benefício das comunidades andinas. "Se um ladrão entra em sua casa, você não pode negociar com ele os móveis que poderá levar", diz Carlos Dabdoub, um dos "líderes" da região, para justificar o referendo que visa a instaurar um estatuto de autonomia administrativa. Orgulhosa de suas conquistas, a província rebelde, com uma população que dobrou em 60 anos para atingir 2,5 milhões, o quarto da do país, possui uma taxa de desemprego e de pobreza inferior em relação ao restante do país e produz um terço do produto interno bruto (PIB) da Bolívia. O terno e a gravata substituem o poncho em Santa Cruz, capital da região, uma cidade moderna, situada às portas da floresta amazônica, a 900 km a leste de La Paz. As ofensas racistas surgem facilmente e ninguém se esquece da frase proferida pelo prefeito Percy Fernandez após o acesso ao poder de Evo Morales em 2006 : "neste país, é preciso se pintar com cores berrantes e usar penas para existir". Herói nos altos andinos, o chefe de Estado, um ex-cultivador de coca, ganhou aqui o apelido "Evoludo", um jogo de palavras que significa mais ou menos "Evo o cretino". "Não somos como eles os plantadores de coca, os vendedores de cocaína. Nós fabricamos a verdadeira riqueza", afirma Roberto Gutierrez, vice-presidente do comitê "pró-Santa Cruz", uma potente organização de empresários e de grandes proprietários de terras. "Morales quer impor sua cultura indigenista em tudo", lamenta este engenheiro de 38 anos, um homem elegante e altaneiro. O antagonismo entre Santa Cruz e La Paz remonta a uma rivalidade ancestral entre os "Cambas", moradores das planícies agrícolas do leste, e os "Kollas", camponeses da montanha a oeste. Mas a própria personalidade de Morales, um admirador da revolução cubana que defende a "abolição do capitalismo" e a recuperação dos recursos naturais pelo povo autóctone, deu-lhe um contorno político. Presidente da Câmara de Comércio e Indústria regional (CAINCO), que reúne 1.600 empresas, Eduardo Paz, deplora esta "visão indigenista" da economia. "Não são a instabilidade e a incerteza que fazem marchar nossos negócios", afirma ele, em alusão às ondas de nacionalizações dos hidrocarbonetos, impulsionadas pelo regime socialista. "Os indígenas não atingiram o nosso nível de educação. Infelizmente, eles querem nos empurrar para trás", estima Marlene Salinas, uma economista de 44 anos. Um outro ambiente reina no bairro pobre de Santa Cruz, onde vivem camponeses andinos à procura de trabalho, assim como partidários de Morales, que têm a intenção de perturbar a votação. "Aqui as pessoas são agressivas e racistas conosco. Não podemos entrar nas lojas", queixa-se Mario Choquecolque, um ambulante de roupas de 33 anos, originário de Oruro, antiga grande região de mineração dos Andes. Este sentimento de injustiça é tão forte quanto o fato de que a idade de ouro da mineração permitiu o desenvolvimento das planícies do leste no século passado. "Hoje, os ricos querem nos esquecer", diz ele, sem excluir um "risco de guerra civil".

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