postado em 06/05/2008 15:40
YANGUN - Milhares de sobreviventes sem teto e sem nada para comer ou beber, corpos espalhados pelos campos: testemunhas descrevem cenas de horror em Mianmar após a passagem do ciclone Nargis no último sábado (03/05) que deixou mais de 22 mil mortos e 41 mil desaparecidos em Mianmar. Poucos estrangeiros estão autorizados a trabalhar no país e muito poucos conseguiram chegar à região do delta do Irrawaddy, ao sul, a mais afetada pelo desastre num país de 51 milhões de habitantes.
A organização cristã World Vision, uma das poucas instituições internacionais autorizadas a trabalhar sob o regime militar, indicou que suas equipes sobrevoaram as regiões mais afetadas e registraram cenas de desespero. "Segundo testemunhas, há milhares de pessoas sem água e comida e, em muitos lugares, sem abrigo. Agora, com a volta do calor, as pessoas estão se desesperando", disse. "Muitos não têm comida, nem água e estão a céu aberto, sem teto. É desesperante", insistiu.
Ajuda internacional
A World Vision está distribuindo seus limitados recursos no país, inclusive água potável, roupa e arroz. Seu representante, Kyi Minn, pede ajuda à comunidade internacional. "Precisamos de assistência internacional com urgência", disse. "Sem água potável, há o risco de doenças contagiosas", alertou.
A organização francesa Médicos sem Fronteiras (MSF) afirmou que suas equipes estão tentando avaliar os estragos nas regiões distantes de Yangun onde se suspeita de maior devastação. "É essencial ter acesso imediato sem restrições a todas as regiões e populações afetadas para poder avaliar as necessidades e atuar adequadamente", afirmou a porta-voz da organização em Bangcoc, Veronique Terrasse.
Sem avisos
A MSF informou que em Yangun 80% das casas foram arrasadas e a água chega a um metro de altura. Uma família australiana que estava em Yangun de férias no fim de semana afirmou que não teve nenhum sinal de alerta nem de preparação perante iminência do ciclone. "Não nos informaram que o ciclone estava chegando somente nos avisaram que haveria uma forte tempestade", indicou Pip Paton, de 32 anos.
"A partir da meia-noite tudo começou. Grandes lâminas de metal foram arrancadas do hotel onde estávamos hospedados, os vidros quebraram com um barulho ensurdecedor", contou. "Nossos dois quartos foram inundados porque as janelas não conseguiram resistir à força do vento", acrescentou. Os hóspedes ficaram trancados no hotel até o sábado à tarde quando o vento se acalmou.