postado em 06/05/2008 18:48
WASHINGTON - A mulher negra que em 1967 entrou com um processo na Suprema Corte dos Estados Unidos para se casar com um homem branco, quebrando o tabu do casamento inter-racial no país, faleceu na última quinta-feira, anunciou a mídia americana nesta terça-feira (06/05). Mildred Jeter Loving morreu aos 68 anos em sua casa, na pequena cidade de Milford, Virginia, segundo o jornal The Washington Post.
Em 1958, aos 17 anos, ela se casou com Richard Loving, um operário da construção civil de 23 anos, numa época em que casamentos inter-raciais eram proibidos na Virginia, seu estado natal. Mildred e Richard foram então à capital, Washington, onde se casaram, para em seguida retornar à Virginia.
Num discurso em junho de 2007, no 40º aniversário da decisão da Suprema Corte, Mildred disse que ela e o marido "não tinham a intenção de enfrentar a lei" quando se casaram. "Pouco depois de nosso casamento, fomos acordados no meio da noite em nosso quarto por xerifes e presos pelo 'crime' de termos nos casado com o tipo errado de pessoa", contou. "Nossa certidão de casamento estava pendurada na parede acima de nossa cama".
Um juiz da Virginia ameaçou prender o casal caso eles não deixassem o Estado e ficassem fora pelos próximos 25 anos. ;Nós saímos, e então contratamos um advogado", continuou Mildred. "Richard e eu tivemos que lutar, mas ainda não estávamos lutando por uma causa, estávamos lutando pelo nosso amor".
O casal Loving se mudou para a capital americana, e com a ajuda da União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) e da Associação Nacional pelo Avanço dos Negros (NAACP, na sigla em inglês) defenderam seu direito de se casar perante a Suprema Corte dos Estados Unidos.
Mudanças na lei
No histórico julgamento do caso "Loving versus Estado da Virginia", em 1967, a Suprema Corte americana decidiu que a proibição do casamento interracial era inconstitucional - decisão que afetou as leis na Virginia e em 16 outros estados americanos. O estado do Alabama, no sul, foi o último a abolir as leis que proibiam o casamento inter-racial - o que só ocorreu no ano 2000.
Mildred era uma dona-de-casa tímida e modesta que durante toda a vida se recusou a acreditar que tinha escrito um capítulo na História dos direitos civis, chegando a ser comparada com Rosa Parks, ícone da luta contra o racismo nos Estados Unidos. Richard Loving morreu em um acidente de carro em 1975.