postado em 08/05/2008 14:44
NOVA YORK - Após 90 anos de existência, o Capital Times, jornal vespertino de Madison Winsconsin (noroeste) jogou a toalha ante a queda do número de leitores: acaba de vender suas rotativas para se dedicar apenas ao noticiário na internet. Ante a queda das vendas, que caíram para 17 mil exemplares, menos da metade do que se vendia nos anos 70, o Cap Times decidiu no sábado adiantar seu desaparecimento para mudar de formato e tamanho: reduzirá sua equipe de 60 para 40 funcionários e se adaptará somente à internet.
Sobre a decisão, o diretor da publicação, Clayton Frink, comentou: "compreendemos que perdemos nossos leitores e que não éramos mais pertinentes". A decisão radical, que comoveu a imprensa americana, é prova do declive dos jornais impressos nos Estados Unidos, onde os leitores cada vez mais preferem informar-se gratuitamente e pela internet. Centenas de jornais em todo o país sofrem a queda das vendas e da demanda publicitária em suas páginas.
Os jornais vivem uma hemorragia financeira, que o sucesso dos sites de internet está longe de compensar, já que os anúncios na web são baratos e não representam mais que 7% de sua renda publicitária, segundo a Newspapers Association of America (NAA). E, para piorar a situação das publicações, a queda das vendas segue aumentando, o que representa uma diminuição de 3,6%, segundo o Bureau of Circulation, após uma baixa de 2,6% nos seis meses anteriores.
Todos os grandes jornais foram afetados, salvo os dois tablóides americanos, o USA Today e Wall Street Journal, que vendem mais de 2 milhões de exemplares e faturaram cerca de 0,3% a mais. No entanto, os outros grandes nomes da imprensa escrita não conseguiram contornar essa situação. O New York Times e o Los Angeles Times, terceiro e quarto, vêm cair suas vendas em 3,9% e 5,11% respectivamente.
O ponto positivo é que os sites dos jornais, que são em maioria gratuitos, foram acessados por 66 milhões de americanos no primeiro semestre de 2008, o que representa um aumento de 12% no número de visitantes, segundo a NAA. Apesar do alto número de visitantes, os resultados não são tão positivos, no total, os jornais americanos pederam 7,9% em 2007, com a queda de 9,4% nos impressos, que não compensa o aumento de 18,8% do número de acessos que a publicidade gerou na internet.
O lucro on-line representa, efetivamente, 3,2 bilhões de dólares contra 42 bilhões de dólares para o jornal impresso, ou seja, 7% do total. É um valor que aumenta a um passo muito lento. Por exemplo, em 2006 chegava a 5,4% da renda, segundo a NAA. Os dados se degradaram no final de 2007 ainda mais rapidamente quando, no quarto trimestre, a renda publicitária dos jornais caiu 10,3%.
"Esta tendência é estrutural", afirmou Andrew Davis, presidente do American Press Institute, em uma entrevista à revista DMNews. "Estamos diante de um clássico caso de inovação prejudicial, no qual a indústria está sendo afetada por uma figura nova e mais barata do mercado. A saída para os jornais é desenvolver uma estratégia onde, em cada mercado, sejam os dominantes da informação local, aproveitando a conexão. O desafio é poder criar uma audiência que busque notícias e conseguir lucrar além da publicidade tradicional", ressaltou.
Os editores astutos estão percebendo que o produto que publicam tem que estar disponível em múltiplas plataformas midiáticas e que "não pode ser apenas tinta sobre papel...ainda que a tinta sobre o papel dure por algum tempo". Os grupos da imprensa são obrigados a economizar e a buscar novas formas para gerar renda. Muitos como o International Herald Tribune, Wall Street Journal e o Boston Globe lançaram cadernos de 'luxo' e 'moda' para atrair anunciantes de grande porte e dessa maneira elevar suas arrecadações.
Para compensar, o The New York Times que perdeu 9% de seu lucro publicitário no primeiro trimestre, buscará compensar as perdas reduzindo sua equipe, segundo a imprensa. Por outro lado, o grupo Tribune decidiu vender a menina de seus olhos, o Newsday, o décimo-primeiro jornal mais lido nos Estados Unidos.