postado em 09/05/2008 11:47
BEIRUTE - O movimento xiita libanês Hezbollah expulsou nesta sexta-feira (09/05), depois de 48 horas de combates que deixaram 11 mortos e dezenas de feridos, seus rivais de bairros inteiros do oeste de Beirute, onde o Exército assumiu posições em ruas e edifícios do governo. "Já não há combates, pois ninguém enfrenta os combatentes da oposição", liderada pelo Hezbollah, apoiado por Síria e Irã, declarou uma aurtoridade dos serviços de segurança, que pediu anonimato.
Após os recentes episódios, a Itália declarou que está preparada para retirar seus cidadãos que quiserem deixar Beirute. Outros países europeus desaconselharam viagens ao Líbano, embora por enquanto não tenham citado uma evacuação. Membros do Hezbollah deram tiros para o alto como sinal de alegria em alguns bairros em que expulsaram os membros do partido Movimento do Futuro, de Saad Hariri, pilar da maioria parlamentar libanesa anti-síria.
Militantes dos movimentos xiitas Hezbollah e Amal se posicionaram nas ruas quase desertas de bairros sunitas do oeste da capital, como Zarif, Malla, Zokak el-Blat, Khandak el-Ghamik, Aicha Bakkar e Tarik Jdide. O Exército libanês, equipado com tanques, patrulhava os bairros, mas não intercedeu nos confrontos com armas automáticas e foguetes RPG, muito intensos na quinta-feira.
Uma fonte ligada ao Movimento do Futuro indicou que o partido encarregou o Exército de patrulhar suas sedes nas áreas controladas pelo Hezbollah e retirou seus integrantes para evitar maiores distúrbios. Segundo um porta-voz, o Exército foi mobilizado para proteger "a sede do governo", o Banco Central e o entorno das residências de Hariri e de Walid Jumbladtt (outro líder da maioria)" em Beirute.
As principais estradas de Beirute também estão sob controle do Exército, indicou essa fonte. Além do aeroporto internacional de Beirute praticamente paralisado, o porto da capital foi fechado nesta sexta-feira por causa dos combates. Como mostra do aumento da violência, um foguete atingiu um muro da residência de Saad Hariri, situada em Koraytem (oeste de Beirute), sem deixar vítimas.
O Hezbollah fechou também nesta sexta-feira à força todos os meios de comunicação da família do líder da maioria anti-síria, Saad Hariri. As redes Future TV, Future News, o jornal al-Mustaqbal e a Radio Orient "foram fechadas e ficaram sob controle do Exército, após terem recebido ameaças de homens armados do Hezbollah", explicou um diretor, que solicitou o anonimato. No bairro de Ras al-Nabeh, militantes da oposição invadiram duas salas do movimento de Hariri e afixaram cartazes do presidente sírio Bachar al-Assad.
Um pequeno sinal do relaxamento da situação foi registrado no norte, onde a estrada nacional que leva à cidade de Trípoli foi reaberta depois de algumas horas. No Bekaa (leste), todas as estradas foram liberadas, à exceção da que conduz à fronteira síria. A que leva a Beirute, no sul, também foi reaberta. A violência explodiu na quarta-feira durante uma greve por aumentos salariais que o Hezbollah transformou em movimento de desobediência civil.
Os confrontos se intensificaram após um discurso na quinta-feira do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que considera uma "declaração de guerra" as decisões do governo contra uma rede de telecomunicações instaurada por seu movimento no país. Nasrallah pediu que voltasse atrás e aceitasse um diálogo nacional. A maioria lançou uma contraproposta que foi rejeitada pela oposição.
Assad, cujo país controlou o Líbano durante quase 30 anos, antes de ser obrigado a retirar suas tropas em 2005, considerou que a crise é "um assunto interno libanês" e pediu o diálogo. Arábia Saudita e Egito, aliados do governo libanês, solicitaram uma reunião ministerial árabe de emergência. Israel responsabiliza o Irã e o Hezbollah pelos combates. O Irã atribuiu a responsabilidade pela crise a Israel e aos Estados Unidos.
As imprensas libanesa e árabe alertaram para o retorno da guerra civil que devastou o Líbano de 1975 a 1990, temor reavivado pela grave crise política em que o Líbano está mergulhado desde novembro de 2006, pois a maioria e a oposição não chegam a um acordo para dividir o poder. Esta crise impediu a eleição de um presidente da República, posto vago desde novembro de 2007.