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Sérvia realiza eleições legislativas neste domingo

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BELGRADO - A Sérvia se prepara para as eleições legislativas deste domingo consideradas cruciais para o futuro do país, com previsões de uma campanha muito disputada entre os ultranacionalistas simpatizantes da Rússia e os pró-europeus, em meio à questão do Kosovo. Centenas de manifestantes, vestidos com camisetas vermelhas onde se lia "Kosovo é Sérvia", se concentraram na noite de quinta-feira no último comício eleitoral no centro de Belgrado, convocados pelo Partido Democrático da Sérvia (DSS) do primeiro-ministro Vojislav Kostunica. Em seu discurso no local, Kostunica criticou a União Européia (UE) por ter respaldado a independência da província sérvia de Kosovo, proclamada unilateralmente em 17 de fevereiro, e assinalou que a Sérvia, "uma antiga e orgulhosa nação da Europa", não irá chegar à UE sem sua província. "A Sérvia não pode entrar na UE sem sua integridade. Não pode ser de outra maneira", afirmou. Para deixar claro que Kosovo continua sendo uma província sérvia, o primeiro-ministro nacionalista havia viajado dias antes ao norte do Kosovo, onde vive uma maioria de sérvios. As autoridades de Belgrado organizaram as eleições de tal forma que os 120.000 sérvios de Kosovo, que vivem principalmente no norte mas também em diferentes encraves, possam participar. Uma forma de recordar que, para Belgrado, Kosovo continua fazendo parte da Sérvia. Esse desafio lançado contra a comunidade internacional despertou, obviamente, a fúria das autoridades kosovares, assim como da Missão da ONU em Kosovo (Minuk), que administra desde o final do conflito entre as forças sérvias e os separatistas albaneses (1998-99). Um aliado de Kostunica, o ministro de Investimentos, Velimir Ilic, que acompanhava o primeiro-ministro a Kosovo, classificou o presidente pró-Europa Boris Tadic de "traidor do povo sérvio" por ter assistido à assinatura, em 29 de abril, de um Tratado de Estabilização e Associação com a UE, primeira etapa para a adesão do país. Aqueles que afirmam que ao assinar um acordo semelhante, a Sérvia reconhece indiretamente a independência do Kosovo, só buscam "provocar medo nos cidadãos", respondeu Tadic na quinta-feira. "São mentiras organizadas e claras", acrescentou, em alusão ao DSS. No entanto, tanto os que acham que o país deva tomar um rumo para a Europa ou em direção a Moscou, como exige o ultranacionalista Tomislav Nikolic, do Partido Radical Sérvio (SRS), todos rejeitam a independência do Kosovo. Somente um partido minoritário, o Partido Liberal Democrático (LDP) de Cedomir Jovanovic, aceita a independência. Ao encerrar na quarta-feira sua campanha, Tadic resumiu o que está em jogo no domingo como "um referendo para decidir se vamos ir para a Europa ou se queremos ficar isolados". Segundo as últimas pesquisas, ambos os lados disputam ponto a ponto. Os ultranacionalistas do SRS possuem uma leve vantagem com 34% das intenções de voto, contra 33% para a aliança pró-Europa do Partido Democrático (DS) de Tadic. Mais de 6,7 milhões de sérvios estão aptos a votar nestas legislativas, assim como nas municipais do mesmo dia, que serão realizadas com apenas um turno. Os 8.600 colégios eleitorais vão ser abertos às 8h locais (3h de Brasília) às 20h (15h). Os primeiros resultados serão conhecidos a partir das 17h de Brasília.