postado em 10/05/2008 10:23
A grave crise política no Líbano ganhou na madrugada de ontem contornos ainda mais dramáticos, quando todo o lado ocidental de Beirute caiu nas mãos das milícias Hezbollah e Amal. ;Quando acordamos os guerrilheiros já tinham o controle de tudo;, contou ao Correio o libanês Shady Timsah, de 24 anos, morador do vilarejo de Choueifat, a cerca de 15 minutos da capital. ;Há uma lei do silêncio, porque todos temem o Hezbollah. Qualquer um sabe que o grupo detém o poder de fato no país e apenas está mostrando domínio da situação;, acrescentou. Segundo as agências de notícias, soldados libaneses fugiram de seus postos durante a noite e não ofereceram resistência aos seguidores do xeque Hassan Nasrallah.
Desde quarta-feira, os combates de rua deixaram pelo menos 15 mortos e 30 feridos, e se espalharam para cidades como Trípoli (80km ao norte de Beirute) e Sidon, Khaldé e Sidon (sul). O governo de coalizão denunciou uma ;tentativa de golpe; para atrair as forças sírias ao país e servir aos interesses do Irã. Apoiados pela guerrilha Amal, os homens do Hezbollah incendiaram um prédio da rede de TV da milícia Teyar El-Mustaqbal, pertencente ao proeminente deputado governista Saad Hariri.
Mais cedo, uma granada propelida a foguete atingiu a cerca que protege a residência de Saad no subúrbio de Koreitem, uma área muçulmana de Beirute Ocidental. O político estava em casa mas não sofreu ferimentos. ;Já não há combates, pois ninguém enfrenta os combatentes da oposição;, declarou uma autoridade dos serviços de segurança, sob a condição de anonimato. Diante da tensão, a Itália prepara a remoção de cidadãos que desejarem deixar o país. O presidente da Síria, Bachar Al-Assad, qualificou a crise de ;assunto interno;. A Arábia Saudita e o Egito pediram uma reunião ministerial árabe de emergência.
O ex-presidente libanês Amin Gemayel afirmou que o Hezbollah ;cruzou todas as linhas vermelhas;. Por sua vez, Walid Jumblatt, líder do Partido Socialista Progressista (PSP), alertou os milicianos xiitas a não invadirem as áreas controladas por sua facção. Em entrevista ao Correio, o historiador Habib Malik, da Leban American University, na cidade de Byblos, afirmou não haver solução para a crise sem a renúncia do premiê. ;Esse governo não representa a maioria do Líbano e falhou em temas econômicos e políticos, além de ter recusado qualquer diálogo com a oposição;, explicou. Segundo ele, o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri (pai do deputado Saad) e a partida das tropas sírias polarizaram o poder no país e instalaram o levante social.
Malik não acredita que o Hezbollah tentará um golpe. ;Eles não são estúpidos, e sabem que a idéia de uma república islâmica nos moldes do Irã não funcionaria;, comentou. Em Trípoli, a carioca Graziela Apostolides, de 56 anos, contou por telefone que a tensão é ;muito forte;. ;Hoje (ontem) houve combates por aqui, com quatro mortos e alguns feridos;, comentou. ;Não posso deixar o país, porque meu marido é aposentado. Já passamos 30 anos de guerra e, por isso, não é o momento certo de sair.;