postado em 14/05/2008 10:46
CANNES - "Fico chocado com a fragilidade de nossa civilização", afirmou nesta quarta-feira (14/05) o cineasta Fernando Meirelles, ao apresentar Blindness (Ensaio sobre a Cegueira), que abre o Festival de Cannes. Protagonizado pelos americanos Julianne Moore, Mark Ruffalo e Danny Glover, o mexicano Gael García Bernal e a brasileira Alice Braga, o filme de Meirelles é uma adaptação de Ensaio sobre a Cegueira, livro do prêmio Nobel de Literatura português José Saramago.
"O que primeiro me chamou a atenção foi a idéia de uma civilização que perde o rumo, mas o relato permite leituras de nível psicológico, filosófico, político, sociológico...", resumiu Meirelles ao ser questionado sobre os paralelismos com o furacão Katrina nos Estados Unidos ou as catástrofes recentes em Mianmar e China. "Fico chocado com a fragilidade de nossa civilização, é como se patinássemos sobre uma camada de gelo muito fina. No fundo somos primitivos como os animais", disse.
Porém, o próprio Saramago não queria que o filme tivesse como base um contexto muito concreto. "Ele preferia que fosse uma alegoria, una metáfora livre, aplicável a casos gerais", disse o diretor de Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel. O cineasta destacou que, apesar de sua severidade, o livro tem muito humor. "Da terceira vez que o li, vi que é cínico e divertido, sobretudo quando fala das autoridades".
Gael García Bernal e Alice Braga eram os únicos atores que haviam lido "Ensaio sobre a Cegueira" antes de receber o roteiro do longa-metragem. "Foi uma boa surpresa ser convidado e me surpreendeu ter feito este personagem", capaz de recorrer a métodos não convencionais para que seus amigos possam comer, disse García Bernal. Danny Glover se disse próximo à filosofia do livro e chegou a mencionar o escritor uruguaio Eduardo Galeano na entrevista.
"Vivemos em um mundo no qual os que sofrem são invisíveis para todos nós", afirmou o ator americano, que lembrou "as milhões de pessoas que sobrevivem no mundo com menos de um dólar por dia". O diretor desta co-produção Brasil-Canadá-Japão destacou ainda a química existente desde o primeiro momento em uma equipe tão internacional. "Nós também criamos rapidamente uma comunidade; como os personagens da história, estávamos sempre juntos ao longo da filmagem".
Meirelles admitiu com um sorriso que exibir um filme como Blindness na abertura do Festival de Cannes representa muita pressão. "Não acredito que seja a melhor maneira de começar um festival", brincou.