postado em 14/05/2008 14:39
JERUSALÉM - A participação de George W. Bush nas celebrações do 60º aniversário da criação de Israel suscitou nesta quarta-feira (14/05) reações de indignação entre os palestinos e os árabes israelenses que acusam o presidente americano de tratá-los com indiferença. Bush pronunciará nesta quinta um discurso durante uma sessão especial do Parlamento israelense, no momento em que os palestinos lembrarão com protestos o 60º aniversário da Nakba, a "catástrofe" que representou para eles a criação de Israel em 1948, sobre três quartos do território histórico da Palestina.
"Enquanto lembramos a Nakba, o presidente Bush se reúne com os israelenses em sua celebração da criação de seu Estado, esquecendo que existe um povo palestino vítima de uma injustiça", declarou nesta quarta-feira Azzam al-Ahmad, líder do grupo parlamentar do Fatah, partido do presidente Mahmud Abbas, durante uma reunião no Parlamento. A visita de Bush será realizada num momento em que as negociaçãoes de paz entre israelenses e palestinos estão estagnadas. Os palestinos lamentam a ausência de pressões americanas sobre Israel para fazer com que as negociações avancem.
Bush deve se reunir no sábado com Abbas em Sharm el-Sheik, no Egito, e não na Cisjordânia, onde esteve pela primeira vez em janeiro durante uma viagem regional. Quando Bush iniciar seu discurso na Knesset, parlamento, os palestinos marcarão sua Nakba com uma passeata "maciça" no centro de Ramallah, sede da Autoridade Palestina. "Será a resposta ao discurso de Bush e às posições americanas hostis a nossa causa", declarou Omar Assaf, que preside um comitê encarregado de organizar os eventos lembrando a Nakba.
Além da marcha, os palestinos devem soltar 21.915 balões negros ; número de dias que se passaram desde a Nakba ; para deixar clara a sua reivindicação ao direito ao retorno de seus refugiados. Um protesto organizado pelo movimento islâmico árabe em Israel também está previsto diante da Knesset durante o discurso de Bush. "Não desejamos as boas-vindas a Bush a aos presidentes hipócritas que querem agradar o diabo americano", afirmou Mahmud Zahar, o mais influente dos líderes do movimento islâmico Hamas, que controla Gaza, durante uma cerimônia pela Nakba nesta quarta-feira.
Em sinal de protesto, nove deputados árabe-israelenses boicotarão a sessão especial da Knesset durante a qual o presidente norte-americano deve receber a palavra. "O convidado de honra da sessão é um fator de guerra e um promotor de banhos de sangue em todo o mundo", disse à AFP Mohammad Barakeh. Para o deputado Jamal Zahalqa, o discurso de Bush "mostra sua indiferença em relação ao povo palestino e ao seu sofrimento".
"Não queremos ouvi-lo porque não o respeitamos", disse o deputado Ahmad Tibi. Reagindo às críticas, o conselheiro presidencial americano para Segurança Nacional, Stephen Hadley, reconheceu que a criação de Israel representou "uma provação para vários palestinos", ressaltando os esforços de Bush para a criação de um Estado palestino.
"O presidente é de qualquer maneira o primeiro dirigente a tomar a dianteira para dizer que vamos compensar esta provação com um Estado que será a pátria do povo palestino" disse à imprensa a bordo do avião presidencial. Cerca de 760 mil palestinos foram forçados ao êxodo durante a criação do Estado de Israel, no dia 14 de maio de 1948. Israel se recusa a negociar um retorno desses refugiados e seus descendentes, que somam 5 milhões de pessoas.