postado em 15/05/2008 16:32
BOGOTÁ - O diretor mundial da Interpol, Ronald Noble, anunciou nesta quinta-feira (15/05) que especialistas do organismo não encontraram provas de modificações nos arquivos de computador apreendidos das Farc e que lhe foram entregues pelo governo colombiano.
Segundo Bogotá, esses arquivos revelam ligações da guerrilha com os governos do Equador e da Venezuela. "A equipe de especialistas forenses da Interpol não descobriu provas de modificação, alteração, adição, ou de que os arquivos tenham sido apagados", informou Noble, em uma coletiva de imprensa em Bogotá.
Noble entregou o relatório ao diretor da polícia, general Oscar Naranjo, e à diretora dos serviços de inteligência da Colômbia, María del Pilar Hurtado, na sede da chancelaria colombiana, em Bogotá. O diretor da Interpol disse ainda que, de acordo com os exames realizados, os computadores pertenciam ao número dois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Raúl Reyes, abatido pelo Exército. Ele não explicou como chegou a essa conclusão.
A Colômbia pediu à Interpol que uma comissão de especialistas examinasse os computadores, que foram encontrados, segundo Bogotá, em 1º de março, no ataque a um acampamento das Farc, no norte do Equador, no qual faleceram Reyes e outras 25 pessoas, entre elas cinco mexicanos e um equatoriano.
Relação com a Venezuela e Equador
Segundo trechos dos documentos, revelados por Naranjo e por outros membros do governo colombiano, algumas das mensagens encontradas nos discos rígidos das máquinas indicam que as Farc teriam recebido apoio financeiro da Venezuela, e que a guerrilha pode ter entregue dinheiro para a campanha que levou Rafael Correa à presidência no Equador.
Os governos de ambos os países classificaram de "mentiras" as acusações de Bogotá, e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, insinuou que fazem parte de uma campanha dos Estados Unidos para desestabilizar seu país.
O informe dos peritos da Austrália, Cingapura e Coréia, designados pela Interpol para fazer as análises, tinha como objetivo investigar se os arquivos descobertos nos computadores haviam sido manipulados, ou alterados, após 1º de março, mas os especialistas não se referem à veracidade, ou não, de seu conteúdo. "Sabíamos que poderíamos ser alvo de ataques por essa investigação", comentou Noble, explicando que, por isso, "foram tomadas medidas para salvaguardar a independência" do trabalho.
Noble contou que foram examinados pelo menos 699 GB de informação e que apenas os documentos escritos incluídos nos computadores continham mais de 39,5 milhões de páginas, que levariam mais de mil anos para serem lidos, a uma média de 100 páginas por dia. Ainda segundo Noble, depois de 1º de março, foram registrados cerca de 48.000 acessos aos documentos contidos nos discos rígidos.
"A Colômbia é o primeiro país em sua história que permite que informação classificada seja examinada pela Interpol", destacou Noble, ressaltando que a organização está disposta a compartilhar com Venezuela e Equador os detalhes das perícias. "Antes de julgar a Interpol, dêem-nos o benefício de ler os relatórios", pediu.
"Fiz tudo que estava em meu poder para esclarecer para Equador e Venezuela, que também são membros da Interpol, que estou disposto a ir lá para lhes explicar o que fizemos e como fizemos. Nunca fui convidado a ir", completou.